Agricultura

Por que a safra de cana 2025-26 será ainda mais desafiadora

Usinas irão operar a safra 2025-26 com canaviais cuja longevidade foi afetada pela seca e por incêndios

Imagem ilustra reportagem sobre a safra 24-25 da Zilor
reportagem sobre a safra 24-25 da Zilor | Divulgação

A safra de cana-de-açúcar 2024-25 na região Centro-Sul entra para a história como um ciclo a ser esquecido.  

Diante preços médios baixos do etanol, usinas apostaram no mix açucareiro que, no meio do ciclo, precisou ser revertido graças às condições climáticas.  

Estiagem prolongada não é novidade para o setor, mas as queimadas entre agosto e setembro surpreenderam uma safra cuja qualidade da cana já era inferior à de ciclos passados.  

Agora, a dúvida é estimar a safra 2025-26  

Para entender a respeito, o JornalCana entrevista Haroldo Torres, economista e sócio-diretor do PECEGE Consultoria e Projetos

A entrevista está na edição 354 da revista do JornalCana.

Clique aqui para acessar a revista na íntegra

Qual é sua projeção para o ciclo 25-26 no Centro-Sul? 

Haroldo Torres – As condições climáticas adversas de 2024, marcadas por seca severa e incêndios, impactaram significativamente os canaviais do Centro-Sul. Segundo estimativas do PECEGE Consultoria, a produção de cana-de-açúcar na região deve alcançar cerca de 578 milhões de toneladas na safra 2025/2026, representando uma redução em relação ao ciclo 2024/2025. 

Quais os principais problemas da 24/25? 

Haroldo Torres – A safra 2024/2025 foi caracterizada por um verão irregular, seguido de outono e inverno secos, além de longos períodos de altas temperaturas, frequentemente acima de 35°C.  

Essas condições extremas geraram estresse hídrico e térmico nas plantas, comprometendo o desenvolvimento dos canaviais.  

Além disso, incêndios ocorridos a partir de agosto de 2024 afetaram aproximadamente 450 mil hectares, dos quais 200 mil hectares já haviam sido colhidos.  

Esses eventos intensificaram os danos, prejudicando a brotação das soqueiras, causando falhas e atrasos no desenvolvimento vegetativo.  

Como consequência, a produtividade imediata foi reduzida, e a longevidade dos canaviais ficou comprometida, aumentando a necessidade de renovação e replantio. 

Plantios realizados entre janeiro e maio de 2024 apresentaram qualidade inferior por conta do clima seco

Quais são as consequências dessa redução da longevidade? 

Haroldo Torres – A deficiência na brotação e os atrasos na germinação criaram um ambiente propício para a proliferação de plantas daninhas, que competem por recursos essenciais, agravando ainda mais a queda de rendimento nos canaviais. Paralelamente, houve uma redução na área plantada de cana em 2024 em comparação a 2023.  

Os plantios realizados entre janeiro e maio de 2024 apresentaram qualidade inferior devido ao clima seco, resultando em menor vigor e produtividade das plantas. 

Essa combinação de fatores terá reflexos diretos na safra 2025/2026. 

A menor área plantada em 2024 levará a um aumento na idade média dos canaviais em 2025, o que, por sua vez, também impactará negativamente a produtividade esperada para o ciclo seguinte. 

É possível que as chuvas recentes garantam a qualidade das socas? 

Haroldo Torres – As precipitações registradas a partir da segunda quinzena de outubro de 2024 foram insuficientes para compensar os danos causados pela seca prolongada e incêndios. A brotação das soqueiras foi comprometida, resultando em falhas e atrasos no desenvolvimento vegetativo, o que pode afetar a produtividade da próxima safra. 

Safra 2025/26: “é improvável que haja migração significativa da cana para outras culturas”

A estiagem (prevista) e as queimadas (não previstas) afetaram não só o campo como os empresários de terras. É possível que haja saída da cana para outras culturas? 

Haroldo Torres – Apesar dos desafios impostos pela estiagem e pelas queimadas, é improvável que haja uma migração significativa da cana-de-açúcar para outras culturas no cenário atual.  

A cana vem apresentando boas margens de rentabilidade, especialmente devido ao fortalecimento dos preços do açúcar no mercado internacional e à valorização do etanol, impulsionado pela demanda crescente e por políticas de descarbonização, como o RenovaBio.  

Esses fatores estão garantindo a competitividade da cana frente a outras culturas, mesmo diante das adversidades climáticas. 

Além disso, o setor está em um movimento de recuperação de áreas anteriormente convertidas para grãos, como soja e milho, em safras anteriores. 

O sr. acredita que os produtos mais recentes do setor (biogás, biometano) devam entrar no radar das companhias em ritmo mais acelerado em 2025? 

Haroldo Torres – Sim, os produtos mais recentes do setor, como biogás e biometano, devem ganhar maior atenção das companhias em 2025, dada a necessidade crescente de diversificação e a busca por soluções sustentáveis alinhadas às tendências globais de energia renovável.  

No entanto, é importante destacar que a prioridade imediata do setor continuará sendo o plantio e a recuperação da produtividade dos canaviais, fortemente impactados pelas condições climáticas adversas e pelos incêndios de 2024. 

A restauração das áreas afetadas, o aumento na qualidade das soqueiras e a ampliação das áreas de plantio serão fundamentais para estabilizar a oferta de matéria-prima.  

Essa recuperação é essencial para garantir a viabilidade econômica do setor, que, uma vez estabilizado, poderá acelerar os investimentos em novos produtos como biogás e biometano, que têm potencial para diversificar receitas e agregar valor às operações no médio e longo prazo. 

O que falta para incentivar as empresas do setor a investir mais em variedades de cana mais resistentes, em novas tecnologias (agrícolas e industriais)? 

Haroldo Torres – Para estimular investimentos em variedades de cana mais resistentes e em novas tecnologias, são necessários incentivos governamentais, políticas públicas favoráveis e acesso facilitado a financiamentos. 

“A safra 2025/26 enfrentará desafios significativos”

Enfim, será mesmo uma safra desafiadora? 

Haroldo Torres – A safra 2025/2026 enfrentará desafios significativos devido aos impactos climáticos de 2024.  

A redução na área plantada e a maior idade média dos canaviais podem comprometer a produtividade. 

É essencial que o setor adote práticas agrícolas sustentáveis, invista em tecnologias e melhore o manejo para mitigar os efeitos das adversidades climáticas.