Quantificar os volumes de água necessários para produção de cana-de-açúcar, etanol e açúcar nos diferentes sistemas de cultivo irrigados em condições de solo e clima característicos do Brasil – este é o objetivo de projeto liderado pela Embrapa e outras instituições de pesquisa. Os pesquisadores querem definir os volumes de água utilizados na produção de etanol, açúcar e cana-de-açúcar. Sabendo dos impactos do cultivo na cana sobre as bacias hidrográficas e recursos hídricos em geral das diferentes regiões produtoras, será possível, por exemplo, melhor subsidiar políticas ambientais e ajudar no avanço de marcos regulatórios para uma produção mais sustentável.
A pesquisa será feita em rede e engloba ações voltadas à competitividade e à sustentabilidade setorial. Com apoio do setor produtivo, em diversas usinas parceiras, os pesquisadores atuarão nos principais estados produtores de cana-de-açúcar – São Paulo, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Sergipe, Piauí, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Os resultados vão ajudar a formar um banco de dados e testar diferentes metodologias para quantificação de água usada na produção de etanol, entre elas o uso de sensoriamento remoto e imagens de satélite para cálculo das águas verde e azul. Serão conhecidos, também, os possíveis efeitos dos usos de diversas fontes de adubação e defensivos nos recursos hídricos.
Um dos diferenciais importantes dessa ação de pesquisa é que serão levantados dados específicos para cada região produtora separadamente, conferindo maior precisão e consistência aos resultados. Atualmente, estudos se utilizam de bases de dados gerais fornecidas pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Os cálculos dos volumes de água utilizados na produção de um produto podem ser realizados de diversas maneiras. Para este projeto, os pesquisadores elegeram a metodologia desenvolvida pela organização internacional Water Footprint Network (WFN), que também possui uma página em português – www.pegadahidrica.org.
No contexto da agricultura, a pegada hídrica é um indicador numérico que estima o volume total de água necessário para produzir um produto agrícola. Esse volume é a soma de três tipos de água definidos pela WFN da seguinte forma: água verde é a água natural da chuva contida no perfil do solo e que a planta naturalmente utiliza na fotossíntese e evapora; água azul se refere à água empregada no plantio por meio de irrigação; e água cinza é a água residual resultante do manejo da cultura, que pode carregar em si resíduos de fertilizantes químicos e agrotóxicos.
“Além dos dados gerais de produção das usinas, serão levantados dados específicos do sistema de produção, como tipos de defensivos, métodos de irrigação, entre outros. Em relação à agua cinza, a maioria dos trabalhos leva em conta apenas a referente à adubação nitrogenada. Neste projeto, além do nitrogênio, buscaremos quantificar a água cinza também para fósforo e, pelo menos, herbicidas”, adiantou o líder do projeto, o pesquisador da Unidade de Execução de Pesquisa (UEP) da Embrapa Tabuleiros Costeiros em Rio Largo (AL), Antonio Santiago.
Expansão
Santiago argumenta que nos últimos quinze anos a área de cultivo cresceu vertiginosamente no Brasil, ocupando novas áreas de produção denominadas como de `expansão´, que diferem das tradicionais, principalmente, em relação ao volume de precipitação, levando os produtores da cultura a utilizarem a técnica da irrigação.
“No caso específico do Nordeste brasileiro, houve migração do cultivo das áreas tradicionais – Mata Atlântica litorânea – para áreas interiores dos Tabuleiros Costeiros, que se caracterizam por serem planas e apresentarem longos períodos de estiagem. Como consequência, tornou-se muito comum atualmente o uso de irrigação em significativa porcentagem da área de produção canavieira”, explica.
Avaliar e quantificar o impacto dessa irrigação sobre as bacias hidrográficas e os mananciais nas regiões de produção é uma das principais metas da pesquisa.
Resultados
Além da definição dos volumes de água utilizados na produção de etanol, açúcar e cana-de-açúcar, o projeto busca outros resultados importantes, tanto do ponto de vista científico quanto ambiental. Uma das metas é formação de um banco de dados extensivo e preciso sobre o tema, além de promover a comparação de diferentes metodologias para quantificação de água usada na produção de etanol, entre elas o uso de sensoriamento remoto e imagens de satélite para cálculo das águas verde e azul.
Para subsidiar políticas ambientais e ajudar no avanço de marcos regulatórios para uma produção mais sustentável, o projeto busca conhecer, com auxílio de programas de modelagem matemática, os possíveis impactos do cultivo na cana sobre as bacias hidrográficas e recursos hídricos em geral das diferentes regiões produtoras.
Esses resultados possibilitarão o avanço do conhecimento e aumento da eficiência do uso da água em bacias hidrográficas e nas áreas produtoras de cana. Serão conhecidos, também, os possíveis efeitos dos usos de diversas fontes de adubação e defensivos nos recursos hídricos.
Para o pesquisador Fábio Scarpare, integrante do Programa de Avaliação da Sustentabilidade do CTBE, a rede está muito bem articulada e com parceiros e líderes de planos de ação bastante comprometidos. O CTBE fará levantamentos de campo para obter dados específicos sobre a pegada hídrica cinza em São Paulo e Goiás. “É muito estimulante integrar um projeto em rede dessa natureza e com escopo metodológico bem definido. Com certeza será uma relação de ganha-ganha para todos os parceiros e especialmente para a sociedade brasileira”, acredita.
(Fonte: Assessoria de imprensa Embrapa)