
Em participação no JornalCana 360, Cássio Iplinski, diretor executivo da Usina Rio Verde (GO), detalhou os desafios e oportunidades na produção de etanol de milho. O tema será destaque do BioMilho Brasil 2026, que abre o calendário de eventos do JornalCana no próximo ano.
Em recente pesquisa divulgada pelo JornalCana, a Rio Verde faz parte do grupo de players que já produzem etanol de milho e estudam ampliar sua capacidade de produção.
Operação contínua
Diferentemente das usinas de cana-de-açúcar, que enfrentam sazonalidade, a Rio Verde opera praticamente o ano inteiro. “A usina que trabalha com etanol de milho trabalha uns 12 meses praticamente. Então a safra acaba emendando uma na outra”, explica Iplinski. Com capacidade instalada de 1.000 toneladas de milho por dia durante 360 dias, a operação permite ajustes conforme as condições do mercado.
A flexibilidade é um diferencial estratégico: quando há oportunidade de travar preços favoráveis tanto do etanol quanto do milho, a usina opera próxima à capacidade máxima. Em momentos de volatilidade, pode reduzir a moagem sem comprometer a operação normal.
Crescer para competir
Para Iplinski, a escala é fundamental para a sustentabilidade no setor.
“Se você não administrar o custo de produção, fica complicado de você permanecer no setor”, afirma. O executivo destaca que cada unidade possui seu ponto de equilíbrio, e o crescimento contínuo é essencial para manter custos alinhados às margens de mercado.
O setor de etanol de milho no Brasil cresce aproximadamente 20% ao ano, com plantas atingindo maturidade operacional em apenas um ano e meio após implantação. “Você consegue implantar e ela já está madura, produzindo sua capacidade máxima”, ressalta o diretor, apontando a velocidade de retorno como vantagem competitiva.
Previsibilidade
Um dos principais desafios é equilibrar a volatilidade dos preços do milho e do etanol. A Rio Verde utiliza o mercado futuro (B3) para travar preços do milho com previsibilidade de longo prazo, enquanto o etanol permite apenas cerca de três meses de visibilidade.
“Você faz a conta de trás para frente. Tenho um preço de venda, tem um custo de produção, posso pagar o milho até esse valor”, explica Iplinski. Essa estratégia posiciona as usinas de etanol como agentes importantes na precificação do milho no mercado nacional, juntamente com o setor de rações e as exportações.
Projeções 2026-2027: otimismo com ressalvas
Para os próximos anos, a Rio Verde projeta estabilidade no preço do milho, regulado pelo mercado internacional. “Não tem previsão que tenhamos uma oscilação no preço do milho igual aconteceu em 2022, que bateu R$ 90, R$ 100”, afirma o executivo.
Quanto ao etanol, há expectativa de sustentação de preços, embora o crescimento acelerado das unidades de milho possa gerar excesso de oferta momentâneo. Iplinski vê isso como necessário: “Muitos projetos não vão se viabilizar se não tiver segurança de que vai ter produto”.
A demanda reprimida inclui SAF (combustível sustentável de aviação), bunker marítimo e veículos híbridos, que só se desenvolverão com garantia de fornecimento. “Pode ter uma queda de preço em algum momento para que se estabilize lá na frente. Mas olhando no médio prazo, acho que tudo se equilibra”, projeta.
DDG: o coproduto estratégico
O DDG, subproduto rico em proteína, é fundamental na viabilidade econômica. Iplinski explica que o etanol de milho não compromete a função principal do grão – produzir proteína animal. “Quando você faz etanol de milho, você preserva a proteína, enriquecendo ela. Você tira a parte do amido e continua fornecendo proteína para o mercado.”
A maioria das usinas trata o DDG não como produto de venda principal, mas como redutor do custo da matéria-prima, melhorando a margem de contribuição do etanol.
Economia circular
Para o diretor da Rio Verde, exportar milho em grão significa perder oportunidades. “Enquanto o Brasil exportar milho em grão e soja em grão, não estamos exportando alimento, estamos exportando proteína vegetal para outros países produzirem proteína animal.”
A integração entre etanol de milho e cana também recebe destaque: plantas flex utilizam biomassa da cana como fonte de calor para produção, criando sinergia perfeita em um modelo de economia circular completa.
BioMilho Brasil 2026
Marcado para o próximo dia 26 de fevereiro, em Ribeirão Preto-SP, o BioMilho Brasil abre a programação de atividades do JornalCana no próximo ano. O evento promete uma imersão completa sobre o assunto.
As inscrições podem ser feitas através do site: