Os preços do açúcar bruto recuperaram 65 pontos durante o mês de julho, impulsionados em grande parte pelas discussões tarifárias, o possível uso de açúcar na produção da Coca-Cola nos EUA (substituindo o xarope de milho com alto teor de frutose), atividades de licitação no Paquistão e uma revisão para cima dos números de importação da China pelo Ministério da Agricultura do país. “Enquanto isso, os relatórios da Unica apresentaram um quadro um tanto misto. Embora os dados do final de junho [da safra no Centro-Sul] continuassem refletindo um desempenho fraco, a primeira quinzena de julho mostrou volumes de moagem fortes”, observa Lívea Coda, Coordenadora de Inteligência de Mercado da Hedgepoint Global Markets.
“A ambiguidade decorre principalmente do fato de que o ATR permanece abaixo das safras anteriores, enquanto o mix de açúcar continua a bater recordes, apesar das discussões anteriores sobre um possível desvio para o etanol”, diz.
Como resultado, agosto começou com algumas correções marginais nos preços. A diferença na produção de açúcar em comparação com a safra 24/25 diminuiu de 14,2% para 9,2%, com base nos dados quinzenais mais recentes do Centro-Sul do Brasil.
Além disso, a Índia divulgou sua primeira estimativa para a próxima safra. A produção bruta de açúcar (antes do desvio) deve aumentar 18%, atingindo aproximadamente 34,9 Mt, ante 29,5 Mt no ciclo atual.
Tendo em vista que o mercado se mantem morno enquanto aguarda novos desenvolvimentos, a última análise da Hedgepoint envolveu reestimar a safra de açúcar do Centro-Sul com base nas informações mais recentes disponíveis. Os últimos relatórios da Unica deixaram claro que tanto o ATR quanto o TCH.
No final de 2024, analistas de mercado, incluindo a Hedgepoint, previam que a nova safra superaria a anterior, ou seria tão boa quanto, especialmente devido às chuvas favoráveis entre outubro e janeiro, um período crítico para o desenvolvimento da cana na região Centro-Sul do Brasil. “No entanto, agora parece que os efeitos prolongados dos incêndios do ano passado e o início seco de 2025 afetaram negativamente a cana moída durante a primeira parte da safra”, diz.
Análise da Safra e Perspectivas Futuras
Ainda assim, para a analista, há motivos para acreditar que a situação pode não ser tão grave quanto parece.
“Analisando o Índice de Saúde da Vegetação (VHI), observamos que, à medida que a atividade de moagem ganhou impulso, o índice começou a apresentar resultados significativamente melhores. Isso pode sugerir que a cana ainda a ser moída poderá apresentar resultados mais sólidos daqui para frente. Para explorar o potencial de resiliência do TCH, analisamos as safras em que a produtividade acumulada final superou os números de abril, ou seja, 12/13, 15/16 e 22/23 (Grupo 1). Em cada um desses anos, o comportamento do VHI se assemelhou ao que estamos vendo em 25/26: um início lento, seguido por um aumento acentuado à medida que a colheita avançou”, afirma.
Um padrão notado nessas temporadas foi um declínio mais suave no TCH mensal durante o meio da temporada, indicando alguma resiliência, seguido por uma recuperação mais pronunciada na segunda metade da safra (após julho), mesmo partindo de uma base mais baixa.
Em termos de volume de moagem, essas três safras também tiveram mais cana processada após o final de julho. “Por exemplo, enquanto a média de 13 anos mostra que cerca de 50% da cana da safra é moída até o final da segunda quinzena de julho, a média para o Grupo 1 foi de apenas 46%.
Em contrapartida, as safras recentes que não apresentaram recuperação do VHI no meio da safra nem resiliência do TCH (24/25, 23/24, 21/22, 20/21 e 19/20 – Grupo 2) tiveram uma média de 53% moída no mesmo período. Como a safra 25/26 parece se alinhar mais com o primeiro grupo, é provável que haja alguma melhora. Com base em nossos cálculos, o TCH acumulado ainda pode chegar a 76 t/ha, resultando em aproximadamente 605 Mt de cana”, explica.
Desafios e Perspectivas para o ATR
O ATR, no entanto, apresenta um desafio mais complexo. Com o clima não parecendo ser um fator limitante importante este ano, os valores mais baixos de ATR parecem estar intimamente ligados a questões de produtividade. Portanto, embora possa ocorrer alguma melhora junto com a recuperação do TCH, comparações históricas com o Grupo 1 sugerem um potencial de alta limitado. “Nossa análise aponta para um nível de ATR em torno de 136,4 kg/t, o que restringiria os volumes finais de produção de açúcar e etanol”, diz.
De acordo com Coda, em relação à mix de açúcar, houve uma discussão considerável até meados de julho sobre a possibilidade de aumento do desvio para o etanol. No entanto, os preços do açúcar permaneceram atraentes, mesmo com apenas ganhos marginais no mercado internacional, e o mix de açúcar tem se mostrado surpreendentemente forte, chegando até a quebrar recordes. Os últimos relatórios da Unica já indicavam que nossa estimativa anterior de 51,2% para a safra parecia ser muito conservadora.
“Dados os preços atuais e a crescente dificuldade de mudar a produção, revisamos nossa expectativa de volta ao consenso do mercado no início do ano: as usinas vão se esforçar para atingir um nível de 52%. Essa mudança implica estoques de etanol mais apertados, não de forma crítica, mas o suficiente para sugerir preços mais altos durante o período de entressafra, o que poderia reduzir a demanda e dar suporte adicional aos preços do açúcar”, explica.
Levando em consideração todas as revisões, nossa previsão para a produção de açúcar foi reduzida em aproximadamente 650 kt, para 40,9 Mt. Isso também reduz nossa projeção de exportação para 31,9 Mt, alinhando-a com os resultados finais da safra 24/25. Isso afeta diretamente nossas expectativas para os fluxos comerciais, tornando o excedente um pouco menos forte e, portanto, contribuindo para um nível de preço acima de 16 centavos/libra.