Com a baixa remuneração da laranja e a disseminação de doenças no campo, as lavouras de cana-de-açúcar avançaram em áreas antes destinadas à citricultura.
Levantamento feito pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) com imagens de satélite apontou que, em 26 anos, a área com pomares de laranja foi reduzida em 42,5%. Enquanto isso, as área com cana cresceram 120%.
A região que mais perdeu área da citricultura foi a de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), segundo o estudo.
Para o agrônomo Carlos Ronquim, responsável pelo levantamento, é preocupante a dependência das cidades da região em relação ao setor sucroalcooleiro.
De acordo com Ronquim, a transferência das terras para a plantação de cana foi intensificada nos últimos cinco anos devido ao agravamento da crise da citricultura, que sofre com safras elevadas, avanço de doenças nos pomares e queda no valor pago pela caixa da fruta.
Bebedouro foi uma das cidades que sofreram maior impacto nessa transferência de produção. O município tinha a laranja como principal produto agrícola em 1988.
Naquele ano, 57,1% da área do município –cerca de 37,8 mil hectares– tinha plantações de laranja.
Hoje, os pomares ocupam apenas 18,9% da área do município, enquanto a cana ocupa 57,4%.
José Oswaldo Junqueira, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Bebedouro, disse que a expectativa é que a área com laranja diminua ainda mais no próximo ano no município, em função da seca e do aumento da incidência do greening –a pior doença da citricultura.
Dos cerca de 13 mil hectares com pomares, ele disse esperar que sobrem só 8.000.
A maioria dos produtores tem optado por arrendar terra para usinas, como Carlos Eduardo Correa Júnior. Ele arrendou cerca de 90% de sua propriedade em Terra Roxa.
Dos 900 hectares que tinha de laranja, sobraram 91. O resto tem cana.
“Nunca mais produzo laranja para a indústria, continuei só com o pomar que era mais produtivo e vendo para mercados.”
A caixa de laranja neste ano foi vendida por cerca de R$ 10, segundo o Cepea, da Esalq/USP. Os produtores dizem que o custo é de R$ 18.
A transferência de área para a cana reduziu não só o total de empregos no meio rural, mas também na área urbana, devido ao fechamento de unidades de moagem.
(Fonte: Folha de São Paulo)