A safra de cana-de-açúcar 2025/26, iniciada em agosto em Pernambuco, deve sofrer prejuízos em dobro.
A avaliação é do presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha, em entrevista ao Diário de Pernambuco.
Quais são os problemas?
- Tarifaço de Trump: Pernambuco, assim como outras regiões do Nordeste com usinas, foi afetado pelo tarifaço do governo americano. Agora, o açúcar – que historicamente teve cota de exportação isenta – paga taxa de 50%. Até abril último, a taxa era isenta, e de abril para cá, foi de 10%.
- Financiamento: Cunha explica que as vendas da cota americana é um mecanismo que financia a safra. “Quando o produtor tem contratos firmados para exportar para refinarias dos Estados Unidos, isso faz com que aumente a sua liquidez, pois a empresa vai ter o certificado de isenção da alfândega americana para entrar no país sem pagar taxas nessa exportação”, destaca.
- Acordo de contratos: segundo o presidente do Sindaçúcar, dentro do mecanismo de cota americana, as embarcações pernambucanas aos EUA ocorrem geralmente entre outubro e novembro, no decorrer do início da safra que começa entre o final de agosto e início de setembro. Normalmente essa é uma época que favorece o acordo de contratos de câmbio para a venda de cotas para compradores internacionais, o que aumentaria a liquidez.
- Impactos climáticos: na entrevista, Cunha destaca ainda que, paralelo às barreiras tarifárias, o setor da cana também enfrenta desafios ocasionados por questões climáticas. “Nesse ano, houve muita dificuldade no início do mês de agosto e setembro em função das chuvas que tiveram precipitações bastante frequentes, com muita concentração e pouca distribuição. Com isso, a cana ainda não atingiu seu ponto de maturidade ideal, o que em outros anos isso ocorre”, disse.
- Alternância: conforme ele, a alternância entre chuvas e sol é importante para a safra da cana. Neste ano, com o clima desfavorável, foi registrada uma diminuição do rendimento industrial, com a menor quantidade de sacarose extraída na cana, que é utilizada na produção de açúcar e etanol.
- Avaliação: sobre prejuízos que esses fatores devem trazer para a safra da cana no estado, o presidente do Sindaçúcar destaca que o setor ainda está em fase de avaliação por causa da dificuldade causada pelas condições climáticas. “A moagem não está em uma dinâmica de continuidade. Ocorreram muitas paradas no processamento industrial por causa da dificuldade da cana chegar pronta para essa etapa”, disse.
- Impactos: apesar de ainda não ter dados concretos, Cunha aponta que esses impactos do tarifaço podem ser compensados por incentivos federais, medidas que estão sendo avaliadas após uma série de reuniões entre o representante da indústria da cana e o ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e vice-presidente Geraldo Akckmin.
- Estudo: “o governo estabeleceu uma medida provisória, para estudar a possibilidade de dar mais liquidez ou antecipar algum tipo de medida financeira para que vários exportadores do Brasil possam conseguir recursos para darem andamento ao processamento industrial. Mas isso aí ainda está no início”, finaliza.