1 — Qual sua avaliação sobre a reeleição de Dilma Rousseff tendo em vista o setor sucroenergético?
A esperança é que haja a formulação de um política para o etanol onde haja estabilidade e previsibilidade nas regras, sobretudo a fim dos investimentos retornarem. O mercado de energia é comprador principalmente num país que precisa crescer com mais inclusão social, fortalecendo a produção e consequentemente o consumo.
2 — Quais as expectativas para os próximos anos?
Regras estáveis que impulsionem a produção. O nosso segmento não é obrigado a produzir com prejuízos, nem a perder seus ativos ,que foram criados com tanta dificuldade. Temos que cobrir custos e ter margem que remunere a inovação e a atualização dos ativos sem obsolescência. Se só formos interessantes ao Governo Federal quando a energia veicular estiver para faltar, haverá o risco de não existirmos mais. Essa fila indiana de quebradeiras precisa ter um fim. Ela traz sérias intranquilidades aos ambientes de produção.
3 — Quais medidas emergenciais precisam ser tomadas para amenizar a crise?
- A permissão para vendermos o hidratado diretamente aos postos, ainda que de maneira alternativa. O passeio do hidratado, gastando diesel é impingido ao produtor, que recebe menos no seu produto final. Nunca vimos distribuidoras quebrando em série por deficiências exógenas de competitividade, o que passou a ser fato rotineiro nas unidades agroindustriais. O modelo precisa ser revisto a bem da perpetuação competitiva das produtoras e do cluster de produção (usinas, fornecedores de cana, trabalhadores, indústrias de bens de capital, etc.), sem contarmos que os consumidores deverão ter preços de hidratado mais baixos;
- Uma agenda nacional pró-competitividade sucroenergética precisa ser formulada nesse segundo governo da Presidente, inclusive com tratamento prioritário ao saneamento do passivo oneroso atual, incluindo-se bancos e tributos, com datas de começo, meio e fim
- Disciplinamento das importações de álcool, pois são operações indecentes que lesam a produção nacional geradora de renda e empregos. Etanol de qualidade duvidosa são analisados qualitativamente apenas por amostragem e com especificações muito abrangentes. O produto desnecessariamente tem chegado em plena safra do Nordeste, acarretando quedas drásticas de preços as unidades agroindustriais e fornecedores de cana. É, sobretudo, operação de arbitragem, para beneficiar os importadores de álcool de milho. Trata-se de grave distorção e contradição em um país que quer ser grande produtor de agroenergia.
4 — O retorno da Cide é fundamental para o setor?
Sim, é uma aspiração muito verbalizada para que gasolina seja regulada vis-à-vis os preços do etanol, mas precisa estar sob a tutela de quem busca o equilíbrio da competição, além ainda de mais eficiência energética nos motores flex, que merecem acompanhar a inovação de outros motores já existentes no exterior.
5 — Especificamente o Nordeste, quais ações planejam tomar?
Uma Agenda de Desenvolvimento Regional para toda a agricultura do Nordeste, caminhando-se na direção da auto sustentação do consumo. Afinal não estamos condenados a sermos importadores de alimentos e agroenergia a vida toda. Contudo, os ministros da Agricultura têm que conhecer com muita precisão a nossa região, mais a miúde, convivendo com nosso clima, topografia, empregabilidade de nossos agricultores, nível de tecnologia etc, e com decisão política de edificarem um Plano efetivo de Política Agrícola para a região. Se benefícios são alocados rotineiramente para as regras de saída que viabilizam transferências de produtos para o Nordeste, pode haver diminuição gradativa dos mecanismos, tipo leilões de Pepros, pep, prop, etc. em favor de programas da produção nativos da região, que ainda é desnivelada de outras do país, que historicamente receberam mais investimentos estruturantes. Entendo e assim como eu, vários membros da Academia e de Instituições de Pesquisa, que a região tem um mercado consumidor consistente e crescente e esse mercado não será prioritariamente abastecido por suprimentos, geralmente inconstantes e instáveis, originados a mais de 1.000, 1.200 km, pois dessa nova maneira, os crescimentos de produção do setor poderiam ser melhor estudados nos balanços de oferta e demanda, dentro de uma auto-gestão mais eficiente e eficaz.