Agricultura

Basf quer expandir pesquisas no setor sucroenergético

“Os últimos serão os primeiros”. Foi usando o ditado brasileiro que o vice-presidente de Produtos para a Agricultura para a América Latina da Basf definiu a estratégia da empresa na área de biotecnologia. Walter Dissinger refere-se ao retorno da múlti alemã às pesquisas com um dos mais cortejados produtos agrícolas no momento: a cana-de-açúcar.

“Estamos estudando parceiros”, afirmou Dissinger ao Valor. “Devemos ter uma definição até o fim do ano”. A Basf, assim, dá continuidade ao processo de expansão do setor de sementes e defensivos para pesquisas com cana, iniciado em 2008. Em novembro, a gigante americana Monsanto adquiriu as empresas CanaVialis e Alellyx, da Votorantim Novos Negócios, voltadas para o melhoramento genético e biotecnologia com a cana.

Parceria, como sempre, é a palavra-chave. Por isso, a Basf quer repetir o modelo considerado de sucesso com a Embrapa, que resultou em uma variedade de soja tolerante aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas. A nova variedade aguarda aprovação para comercialização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), e a expectativa da empresa é que ela chegue ao mercado em 2011.

Iniciada em 1997, a parceria com a Embrapa exigiu investimentos de R$ 15 milhões para o desenvolvimento do produto. Outros US$ 10 milhões deverão ser necessários para registrar a variedade nos demais países.

No caso da cana, a divisão de trabalhos será a mesma. A Basf entrará com o gene e a parceira escolhida com o desenvolvimento da cana geneticamente modificada. “Temos um banco de milhares de genes”, disse Luiz Louzano, gerente de Biotecnologia de Proteção de Cultivos da Basf. Grosso modo, o que os cientistas fazem é escolher alguns desses genes e inseri-los na cana, até que se encontre aquele que melhor responda ao aprimoramento desejado – elevar a produtividade.

Não é a primeira tentativa da Basf de entrar neste mercado. Entre 1999 e 2003, a empresa protocolou na CTNBio a liberação planejada no ambiente de variedades de cana com resistência ao mesmo grupo de herbicidas almejado na soja, as imidazolinonas.

Na época, a multi mantinha uma parceria com a Copersucar, que controlava o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e hoje tem outras usinas como sócias. “O projeto foi desativado”, afirmou Louzano. “As tecnologias eram limitadas. Achamos que ia levar muito tempo [para obter sucesso com a transgenia] e não tivemos como sustentar sozinhos.”

A conjuntura atual contribuiu para a empresa alemã mudar de opinião. O interesse internacional pela cana-de-açúcar cresceu. A exemplo do que ocorreu nos últimos anos com suas concorrentes diretas, a biotecnologia ganhou importância na Basf.

Em 1998, a múlti criou um braço específico para as pesquisas genéticas, o Basf Plant Science, com sede na Alemanha e escritórios nos EUA, Canadá e Bélgica. A área figura também entre os cinco “clusters” de inovação do grupo mundial, lado-a-lado com a nanotecnologia, o gerenciamento de energia, a biotecnologia branca (industrial) e a substituição de matérias-primas.

Entre 1998 e 2008, quase ? 1 bilhão de euros foi investido em pesquisas genéticas. A previsão de aporte futuro será divulgada em algumas semanas, após a empresa apresentar o balanço de 2008.

No exterior, a múlti tem entre seus parceiros a Monsanto, com a qual desenvolve variedades com maior produtividade e tolerância hídrica de milho, soja, algodão, canola e trigo. A expectativa é que o primeiro produto esteja disponível em 2015. As empresas injetarão, juntas, US$ 1,5 bilhão.

A biotecnologia vegetal representa hoje 23% de todo o investimento em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) da Basf mundial.