Em entrevista exclusiva ao JornalCana, Gustavo Rattes de Castro, presidente da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (ORPLANA), comenta sobre o processo de revisão do Consecana-SP, sobre a saída da UNICA “da mesa de negociações” e quando, enfim, os fornecedores terão a tão esperada revisão.
Como se encontra o processo de revisão do Consecana?
O processo de revisão do Consecana-SP está em andamento, mas enfrenta obstáculos relevantes, sobretudo após a saída da UNICA da mesa de negociações.
É fundamental ressaltar que os sócios do Consecana-SP não devem se comunicar apenas por meio de notas ou comunicados — o diálogo direto e paritário é indispensável para a evolução do modelo, como prevê o próprio estatuto.
A ORPLANA (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil) tem defendido com firmeza a atualização dos parâmetros, considerando que o modelo foi construído nos anos 2000, em um contexto de menor clareza e transparência.
A revisão atual busca refletir, com precisão, os custos reais de produção, capital, investimentos industriais e agrícolas, além de incorporar as novas dinâmicas do setor.
A contratação da FGV trouxe uma base técnica, sólida e qualificada para esse processo. O próximo passo é a validação da metodologia pelas equipes técnicas ou a proposição de ajustes pontuais, permitindo assim o encaminhamento para deliberação pela diretoria do Consecana-SP.
Se depender da ORPLANA, é possível agilizar essa revisão? Como e até quando ela pode ficar pronta?
Sim. A ORPLANA tem se posicionado de forma ativa e comprometida com o avanço da revisão de forma célere e responsável.
O objetivo não é promover conflitos com as usinas, mas fortalecer uma relação saudável e técnica entre as partes.
Infelizmente, temos enfrentado uma postura de difícil diálogo por parte da UNICA, que tem se ausentado das reuniões e demonstrado resistência a discussões que, no espírito do modelo, deveriam ser rotineiras e construtivas.
Seguimos abertos ao diálogo e à construção conjunta.
Acreditamos que, com o engajamento de todos os envolvidos, é possível concluir essa revisão até o final de 2025, garantindo mais equilíbrio e transparência ao modelo.
O JornalCana tem recebido queixas de fornecedores, preocupados com a situação. Essa instabilidade pode desestimular o setor de fornecedores de cana?
O que gera insegurança e desestabiliza os fornecedores é a defasagem do modelo e a ausência de uma revisão sistemática, como prevista no estatuto do Consecana-SP a cada cinco anos.
Desde a desregulamentação do setor, essas revisões deveriam ser uma prática contínua.
No entanto, sempre que se propõe discutir melhorias ou ajustes, o processo se torna desgastante e gera desconfiança.
A falta da revisão afeta diretamente decisões de investimento e a sustentabilidade dos produtores.
Um modelo revisado garante segurança jurídica, previsibilidade e equidade nas relações comerciais.
A ORPLANA projeta outra solução fora o Consecana-SP?
Não. A ORPLANA acredita firmemente no modelo do Consecana-SP como o principal instrumento de remuneração justa aos produtores de cana, baseado na comercialização dos produtos pelas usinas.
O modelo garante não apenas uma precificação técnica, mas também regras claras de avaliação da qualidade da cana, transparência nas medições e equilíbrio nas relações.
Nossa meta é que o Consecana-SP siga seu estatuto, promovendo as revisões necessárias e assegurando a confiança entre as partes.
Fique à vontade para comentar mais a respeito
O Consecana-SP, com mais de 25 anos, precisa evoluir junto com o setor sucroenergético. Passamos por transformações importantes: colheita mecanizada, valorização da fibra, geração de energia, crédito de carbono, entre outros.
Esse contexto exige atualização do modelo e fortalecimento da governança interna, para evitar conflitos e garantir previsibilidade.
A ORPLANA continua comprometida com os fornecedores de cana, defendendo seus interesses com base técnica e transparência.
Estamos abertos à construção coletiva de soluções e buscamos um reconhecimento efetivo do papel do produtor na cadeia.
Mais do que nunca, é hora de fortalecer o diálogo e renovar esse modelo que é referência mundial.