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Agora é a hora de estrangeiros investirem na América Latina

A América Latina, sobretudo o Brasil, vive um momento propício para receber amplos investimentos externos, mas os países desenvolvidos precisam reconhecer melhor as oportunidades da região. Na última sexta-feira e sábado, líderes do continente e acadêmicos discutiram, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Boston, formas de superar obstáculos para investimento e tendências na região.

O professor do MIT Noam Chomsky, um dos palestrantes da 11 MIT Sloan Latin Conference, evento co-organizado pela Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil elogiou a mobilização popular por melhorias no continente, “que deveria ser encarada como um modelo para os Estados Unidos”. “A América Latina, sobretudo a América do Sul, está entrando num momento pioneiro. É uma pergunta por que o desenvolvimento promissor na região foi tão adiado. Era previsto há décadas que o Brasil seria o colosso do Sul e por muitas razões isso não aconteceu. Uma delas é que ficou na sombra dos colossos do Norte. Todos esses problemas, internos e externos, começam a ser enfrentados.”

Donald Lessard, professor do MIT que abriu a conferência junto com o presidente do conselho de administração da Companhia Brasileira de Multimídia (CBM), Nelson Tanure, ressaltou que há modelos de negócios e inovações em questões ambientais e empresarias que precisam ser reconhecidos na região. “Tipicamente olhamos para América Latina como uma região com problemas. O foco desta discussão é reconhecer que ela é um campo produtivo.” Para Tanure, a região desperta novamente o interesse do mundo como primeiro destino de investimento internacional, para comércio, após décadas de estagnação econômica e erosão social. A qualidade dos palestrantes reunidos nos debates num centro de excelência como o MIT é uma forte garantia do lugar importante que o continente ocupa na agenda global, completou Tanure. “Neste evento podemos listar melhor os desafios complexos que a América Latina enfrenta nas esferas social, política e econômica, assim como as oportunidades excelentes que precisam ser detectadas”.

“Tudo está mudando de forma dramática pela organização popular. Na Bolívia, houve pela primeira vez eleições democráticas realmente de sucesso. Movimentos populares lutaram pelo que consideram justo. Em diferentes formas, isso tem acontecido em toda a América Latina. Todos são modelos para nós”, afirmou Chomsky. “Nos EUA, apesar de 80% acharem que guerras como a do Iraque servem para o governo servir a seus próprios interesses e não aos do país atacado, 95% considerarem que as autoridades deveriam prestar mais atenção no que o público pensa e 80% defenderem que o país está no caminho errado, ninguém faz nada para mudar a situação”.

Chomsky afirmou que os EUA dividem a esquerda em boa, representada pelo Brasil, e a ruim, da qual faz parte a Venezuela. “Não é mencionado que há interações entre elas.” E completou: “Não importa o que pensamos sobre Chávez, e sim o que a Venezuela pensa dele.” O acadêmico aproveitou o debate para criticar a omissão dos candidatos à presidência dos EUA sobre a América Latina e a temas como Irã e Iraque.

Durante o evento, Luiz Carlos Trabuco, CEO da Bradesco Seguros, lembrou que a região teve uma melhora dos indicadores sociais, crescimento do IDH, avanço da distribuição de renda, aumento da expectativa de vida e do numero de residências. O mercado de seguros no País é muito promissor, afirmou (ver matéria nesta página). A inclusão das classes de baixa renda requer das seguradoras a criação de produtos. Os 10% com maior renda tem 75% do mercado de seguro. “Precisamos estabelecer iniciativas como o microsseguro para lidar com isso.”

Em um painel sobre infra-estrutura na América Latina, mediado por Regis Fichtner, secretário de Estado do Rio de Janeiro, Richard klien, vice presidente da Transroll Navegação, disse que a integração é essencial para o desenvolvimento e o progresso. “O Brasil ainda é muito dependente do transporte em estradas. A modernização de portos traz a chance de melhorar os transportes e permitir que o comércio exterior navegue com mais eficiência e menos custo.”

Klien contou que o arroz produzido no Rio Grande do Sul e consumido no Nordeste antes era transportado em caminhões e agora vai por frota marítima. Por isso, o preço do arroz diminuiu no Nordeste e o produto não se perde no caminho. “ÅURs vezes a carga demora muito para chegar aos EUA vinda do Brasil, porque tem de parar várias vezes em portos. Com transportes mais modernos e eficientes, os custos e o tempo de viagem seriam reduzidos”, afirmou. “Já foi anunciado um projeto de construção de um mega porto no Rio de Janeiro. Produtos como papel e açúcar poderiam ser comercializados por rotas marítimas para ir a novos destinos e tornar as importações mais baratas.”

Boris Gorenstin, CEO da Furnas, disse que 50% da população e 55% da produção de energia da região estão no Brasil. “Nosso pico de demanda é comparável ao do Reino Unido, mas eles emitem 10 vezes mais gases de efeito estufa que nós. Na nossa geração, 72% vem de hidrelétricas”, afirmou. “O crescimento no consumo de energia é em média de 5% ao ano. Precisamos investir bilhões para aumentar a geração.” Segundo o executivo, a hidrogeração vai continuar a ser dominante. É a mais barata e o Brasil só usa menos de 30% do potencial. Mas é muito indicado que passemos a investir cada vez mais em energia renovável, já que tem menos custo e utiliza recursos locais. “Pequenas hidroelétricas e biocombustíveis têm grande potencial no País.”

Em um worshop para participantes do evento, o professor do MIT Eric von Hippel tratou da importância das idéias dos usuários para a inovação de produtos e como as empresas precisam reconhecer isso para ter maior sucesso. “Os usuários são os que melhor sabem e conhecem o que precisam.” O evento foi transmitido pelos sites do JB e da Gazeta Mercantil. Internautas puderam participar com perguntas durante as exposições.

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