JornalCana

Agenda do G-20 e o tombo do Brasil

Na última sexta-feira, dia 13 de março, encontraram-se, em Washington, Estados Unidos da América (EUA), os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos EUA, Barack Obama. Na agenda, estavam trabalhos preparatórios para a formatação dos entendimentos a serem levados a efeito na próxima reunião do G-20, em Londres, para tratar da crise financeira e econômica que afeta o mundo.

O encontro dos dois presidentes abre um precedente de grande importância, porque geralmente a agenda das grandes reuniões internacionais é fechada pelo Estado hegemônico, e seus aliados, e só então apresentada em conjunto aos Estados periféricos ou em desenvolvimento, para simples ratificação ou, ainda, sua mais resignada aceitação.

Dessa vez, no entanto, a reunião deu-se com o Brasil isoladamente, o que sem dúvida denota um respeito maior pela crescente relevância que o País tem nas relações internacionais, em geral, e sua liderança regional e também, em particular, com relação a outros países em desenvolvimento.

Não que os representantes dos Estados Unidos tenham perdido o hábito de apresentar fatos consumados; “old habits die hard” (“velhos hábitos demoram a morrer” -tradução literal do editor), como se diz por aquelas plagas.

Pelo contrário, apresentaram uma lista de pontos que haviam já previamente acordado com o seu Estado cliente favorito, o Reino Unido, parceiro tradicional na bonança da exploração de terceiros países, como na desgraça da falência dos mercados financeiros.

Como é sabido, o Reino Unido, desde a crise do Canal de Suez, na década de 50, alinha automaticamente sua política externa com aquela dos Estados Unidos, renunciando à sua independência de formulação.

Para os EUA, um aliado incondicional como o Reino Unido, apesar de arruinado, tem sua impor! tância como fator de bloqueio de políticas da União Europeia que sejam desinteressantes ao primeiro.

Assim, combinaram Estados Unidos e Reino Unido, quando da visita do infeliz, trôpego e desmoralizado primeiro-ministro Gordon Brown aos EUA, no início de março, e cerca de 10 dias antes daquela do presidente Lula, que, enquanto os britânicos defenderiam a agenda comum aos europeus, os americanos procurariam convencer os brasileiros e os chineses, dentre outros interlocutores.

Assessorado pela habitual armata Brancaleone de bonecos de ego inflado do Itamaraty, mas deficientes nas tratativas de poder das relações internacionais, o presidente Lula chegou à reunião preparado para cobrar um preço pelo eventual apoio à agenda estratégica americana: a liberalização das importações de etanol.

Ao fazê-lo, demonstrou que sua política externa não evoluiu com relação àquela da ditadura de Getúlio Vargas, no período que antecedeu a declaração de guerra do Brasil às chamadas potências do Eixo (na 2ª Guerra Mundial -nota do editor), e no qual o País mendigava favores aos Estados Unidos. De fato, o Brasil perdeu a oportunidade de influir na formatação da agenda de negociações, algo em que sistematicamente o Itamaraty tem falhado nas relações multilaterais e, mais ainda, nada conseguiu com relação ao etanol.

Assim, o Brasil deixou de poder influenciar a regulamentação internacional dos mercados financeiros mundiais, que certamente será tratada em Londres, e que tem grande importância para os nossos interesses, em diversos aspectos dos mercados acionários e de valores, mas também no tocante à erradicação dos paraísos fiscais.

Nesse último particular, nosso país figura entre as vítimas do pacto espúrio entre os agentes do crime organizado e jurisdições que se colocam acima da lei, da ordem e da moralidade, para pilhar os governos dos países em desenvolvimento.

Os britânicos e os americanos têm hoje, em conjunto, cerca de um terço! dos cerca de US$ 10 trilhões depositados em regime offshore, sendo os grandes beneficiários do sistema.

Esse fato não impediu o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que por muitos anos teve sob sua responsabilidade a administração das cloacas financeiras de Londres, de Jersey e das Ilhas do Canal, de se tornar hoje um grande defensor da erradicação dos regimes de paraíso fiscal.

Trata-se da típica hipocrisia britânica a serviço da realidade prática da necessidade de se tributar tais volumes extraordinários de recursos, para fazer frente aos crescentes déficits fiscais do Reino Unido e também dos Estados Unidos.

Da mesma forma, o Brasil irá aceitar qualquer formulação dos americanos a justificar o apoio fiscal, isto é, novos subsídios, que irão dar uma vantagem comparativa artificial e ilegal aos nossos competidores, em detrimento dos interesses dos nossos setores industrial, de serviços e agrícola.

O regime jurídico multilateral valerá para os p! aíses em desenvolvimento, apenas. Para os demais, tudo é permitido, volta o laissez-faire.

É dentro desse contexto que deve ser interpretada a negativa americana em liberalizar o regime do etanol, o que representaria uma dissonância com aquilo que já se pratica e que se busca homologar em Londres, com a complacência dos incompetentes agentes diplomáticos do Brasil.

Os efeitos práticos da inépcia diplomática do governo Lula equivalem-se aos da pusilanimidade da “diplomacia sem sapatos” do governo Fernando Henrique Cardoso.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram