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Adversidades interrompem ciclo de alta

Queda das cotações, aumento dos estoques mundiais e elevação dos custos dos insumos brecam investimentos. Um dos pilares de sustentação da economia nacional, o agronegócio experimentou um período de crescimento expressivo nos últimos anos. Elevação dos preços internacionais dos produtos agropecuários e desvalorização cambial foram a combinação perfeita para alavancar as exportações das mercadorias originadas dos campos brasileiros. Colaboraram ainda as condições climáticas desfavoráveis registradas em grandes regiões de plantação no mundo, como a seca que castigou as lavouras norte-americanas e australianas, o surgimento da gripe de frangos na Ásia e a incidência da “vaca louca” no rebanho de bovinos dos Estados Unidos.

O desempenho positivo do agronegócio brasileiro ainda contou com outros importantes fatores impulsionadores do sucesso. A profissionalização dos agricultores, que se espalharam pelo cerrado nacional ao longo da década de 80 e de 90 em busca de novas terras para o plantio de soja, milho, algodão, transformou a produção agrícola em uma atividade empresarial. Além disso, a obtenção de cultivares adaptáveis a diferentes solos e de melhores técnicas de produção colaborou para a expansão das culturas País adentro. Outrora área pouco explorada, a região central do Brasil passou a registrar o desenvolvimento de pequenas cidades, impulsionado pelo crescimento das lavouras de grãos, de fibras e da criação de bovinos, de suínos e de frangos.

Em 2004, no entanto, já foram constatados sinais de desaquecimento desse ciclo de alta, sobretudo em relação aos produtos agrícolas. Embora mantenha-se em contínuo crescimento, o setor vem registrando redução no ritmo de expansão. A estimativa é de o Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária passar de R$ 508,3 bilhões, registrado em 2003, para R$ 524,5 bilhões no ano passado, o equivalente a um aumento de 3,18%. A taxa de crescimento entre 2002 e 2003 foi de 16%, de acordo com dados divulgados, em dezembro de 2004, pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Cepea/Esalq/USP). Em igual período, a participação do agronegócio no PIB brasileiro caiu de 31% para 30,4%.

Insumos mais caros, preços internacionais em queda e a valorização do real frente ao dólar norte-americano refletiram em redução dos investimentos nos campos. Além disso, houve quebra de safra, com perdas de 10 milhões de toneladas em relação às estimativas iniciais, e retração dos preços pagos ao produtor de soja, milho, feijão, batata inglesa, cacau, laranja e carnes. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), “as perdas dos produtores de soja chegaram a US$ 2 bilhões”.

Apesar desses obstáculos, o volume esperado para a safra 2004/05 é de um incremento de 3,6% sobre a soma de igual período do ano anterior, graças à produtividade alcançada nas plantações. Com a intensa estiagem nos estados do Sul, a perspectiva é de a produção de grãos totalizar 123,4 milhões de toneladas, de acordo com o terceiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado este mês. Projeção preliminar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de as lavouras somarem 134,52 milhões de toneladas na safra 2004/05.

A soja, o amendoim e a mamona despontam nas previsões, mas também apresentam crescimento os cultivos de algodão, de girassol e de trigo. A safra de grãos e de fibra, junto com o segmento de carnes e de outros itens agrícolas, foi o grupo de produtos que puxou as exportações do País e foi responsável pelo registro de elevado saldo da balança comercial brasileira. No entanto, a queda das cotações da soja no mercado internacional reduziu, em janeiro de 2005, em 15% as exportações da oleaginosa, carro-chefe do agronegócio brasileiro no comércio exterior em 2004.

Superávit comercial

Carnes, açúcar e álcool, sucos e frutas, café e laticínios, entre outros produtos, impulsionaram as exportações no primeiro bimestre de 2005. O superávit contabilizado pelo agronegócio no período somou US$ 4,59 bilhões, 19,2% acima do total registrado de janeiro a fevereiro do ano anterior. Tanto as exportações (US$ 5,36 bilhões) quanto o saldo representaram recordes históricos para os dois meses, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Em 2004, as exportações oriundas do agronegócio nacional atingiram US$ 39,016 bilhões, 27,3% acima da receita contabilizada em igual período do ano anterior, de US$ 30,639 bilhões. O desempenho positivo da balança comercial foi responsável por um saldo de US$ 34,134 bilhões, o equivalente a 32,1% sobre o resultado do ano anterior. As exportações do agronegócio responderam por 40,5% da receita cambial brasileira naquele ano.

A inserção da agropecuária nacional poderia ser ainda maior no mercado internacional, caso os países desenvolvidos deixassem de adotar barreiras protecionistas ao setor local. Em junho de 2004, o Brasil conquistou uma vitória na Organização Mundial do Comércio (OMC), a qual foi confirmada em segunda instância no início deste mês. O País conseguiu junto ao órgão internacional a condenação dos subsídios do governo dos Estados Unidos a seus produtores de algodão.

Em agosto de 2004, o Brasil, ao lado da Austrália e da Tailândia, obteve outra vitória preliminar contra os subsídios à exportação de açúcar da União Européia. O reconhecimento, dado pela OMC, de que os subsídios vêm deprimindo os preços das commodities também abre precedente para outras disputas, que envolvem arroz, trigo e milho.

O uso de subsídios pelos países desenvolvidos é um jogo pesado no comércio internacional, com a utilização de bilhões de dólares para proteger produtores agrícolas locais. Por isso, a agricultura é um dos temas mais delicados nas discussões para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

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