Assim como entre o preto e o branco existe o cinza e entre o motor a combustão e o motor elétrico existe o híbrido, entre os fertilizantes minerais e os biológicos existem os organominerais.
“O organomineral é uma plataforma muito interessante, de transição. É muito difícil migrar, de uma vez só, de uma adubação química para uma totalmente biológica. O organomineral é o carro híbrido: você começa a reduzir o uso do NPK e a aumentar a produtividade, a usar produtos biológicos e, com o tempo, as tecnologias vão avançando e você vai usando cada vez menos NPK. Esse é o nosso objetivo: partir nessa linha”, afirma Ernani Judice, fundador e CEO da Agrion Fertilizantes, que, em parceria com a Bioenergética Aroeira, está construindo uma planta de adubos organominerais, fabricados a partir da torta de filtro.
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O projeto vai ao encontro de uma necessidade que se mostrou premente após o início, há pouco mais de um ano, do conflito bélico entre Ucrânia e Rússia, principal fornecedor dos adubos minerais utilizados em nossa agricultura. Segundo a ComexStat, 23% do total de fertilizantes importados pelo Brasil, em 2021, eram de origem russa. Os preços, que já estavam caros, diante da ameaça de escassez, elevaram ainda mais o custo da nossa produção agrícola.
Em 2022 (dados até novembro), a quantidade de fertilizantes no mercado nacional somou 37,72 milhões de toneladas, 11,3% menos que no mesmo período de 2021, sendo que 86% desse volume foi importado, conforme dados da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos).
Os organominerais são constituídos da combinação de resíduos das usinas de açúcar e etanol, como a torta de filtro, com micronutrientes e determinadas quantidades de NPK – nitrogênio, fósforo e potássio. Após análises físicas, químicas e biológicas, a mistura é enriquecida biologicamente com bactérias e fungos, desencadeando uma “compostagem bioacelerada”, que irá gerar um adubo organomineral de elevado potencial de fertilização.
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O modelo de negócio apresentado pela Agrion prevê a implantação de pequenas plantas industriais na área da própria usina. “Procurando ser mais otimizado, ter um custo menor de operação e fazer o fertilizante organomineral ser viável para a cana-de-açúcar, há um modelo de negócio diferente no setor. Construímos fábricas menores dentro das usinas e usamos parte da torta de filtro gerada ali para produzir produtos organominerais que são aplicados de volta nas áreas das usinas, e uma fração da produção é vendida no mercado. A usina, além de utilizar um produto de alta qualidade a um custo muito menor, passa a ganhar uma receita adicional pela venda de fertilizantes no mercado local”, explica Judice.
“Nosso produto é a junção de parte da torta de filtro – usamos, no máximo, 30% do que a usina gera e o restante fica para a usina usar no plantio ou onde for necessário. Temos vários experimentos em áreas comerciais com produtividade significativa, acima de 15%. A usina passa a ter um produto de melhor qualidade a um custo inferior, levando o benefício da matéria orgânica a todo o seu canavial”, assegura o empresário.
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Judice afirma trata-se de uma mudança de paradigma. “É um modelo de negócio novo, e nossa primeira fábrica neste modelo está sendo implantada na Usina Aroeira, que é uma usina de altíssimo rendimento, padrão. Temos outra, no Nordeste, em estado avançado de projetos e algumas outras em andamento. Nosso objetivo é construir em torno de 10 plantas nos próximos 6 anos”, disse.
Segundo o diretor-presidente da Aroeira, Gabriel Feres Junqueira, “a entrada da Aroeira nesse projeto tem como objetivo aumentar a produtividade de seus canaviais de forma eficiente e alinhada com a tendência de aproveitamento total dos resíduos orgânicos gerados da produção de açúcar e etanol”.
O investimento para a construção da fábrica, avaliado em R$ 23 milhões, será financiado com CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) já emitidos pela Agrion, sob a coordenação da EQI Investimentos.
O evento comemorativo foi realizado no dia 12 de abril marcando o início das obras da fábrica em Tupaciguara – MG. A estimativa é que a nova unidade produza 25 mil toneladas de adubo organomineral por ano.
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De acordo com Junqueira, a Aroeira espera que sua produtividade cresça ao menos 10%. A nova fábrica, que está sendo construída na unidade de Tupaciguara-MG, deve entrar em operação a partir de 2024.
Para Guilherme Nastari, diretor da DATAGRO, “trata-se de um projeto muito importante para o estado de Minas, mas também muito importante para o Brasil sucroenergético, pela tecnologia desenvolvida internamente. Certamente, será a primeira de várias plantas que serão desenvolvidas no setor. A Aroeira sempre esteve na vanguarda, trazendo o desenvolvimento da indústria e do setor de energia renovável do Brasil para o mundo”, disse.
O presidente da Associação da Indústria Sucroenergética de Minas Gerais (SIAMIG) e do Fórum Nacional Sucroenergético (FNS), Mário Campos, também enfatizou a importância do projeto para o setor sucroenergético mineiro.
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“Representa um investimento importante para a região, dentro do conceito de economia circular do setor sucroenergético, uma vez que será utilizado um subproduto da produção da cana-de-açúcar para agregar valor e melhorar a produtividade na cultura da cana, além de amenizar os efeitos colaterais prejudiciais para o meio ambiente”, disse Campos.
CANABIO 2023
A utilização dos organominerais, assim como a adubação biológica, integra a grade de palestras que serão apresentadas na edição 2023 do CANABIO, que será realizado nos próximos dias 24 e 25 de maio, no Centro de Cana IAC, em Ribeirão Preto-SP.
Durante os dois dias, estão previstas mais de 30 palestras, entre cases de usinas e fornecedores, com participação dos maiores especialistas no assunto no Brasil e na América Latina. Todas essas participações fazem do CANABIO um dos maiores eventos presenciais do país sobre manejo biológico e orgânico.