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Adubação verde nos canaviais

Combater as pragas e ervas daninhas sem a utilização de produtos químicos é a garantia de que um produto possa receber o selo de orgânico. Na indústria sucroalcooleira, o controle químico de plantas daninhas nas lavouras é amplamente utilizado, mas torna inadequado o manejo de um canavial destinado à produção de açúcar orgânico. Hoje, para assegurar a produção sem uso de nenhum produto químico, são usadas máquinas para retirada das ervas, que também são arrancadas manualmente. A opção pode ser o uso da adubação verde, com a utilização de plantas de cobertura nos espaços entre as linhas de cana da plantação.

A tecnologia da adubação verde nada mais é do que o plantio de espécies vegetais (adubos verdes/plantas de cobertura) em sucessão, rotação ou em consórcio com as culturas. “O objetivo é buscar a proteção da superfície, bem como a manutenção e a melhoria da qualidade físico-hídrica, química e biológica do solo, em todo o seu perfil”, explica Arminda Moreira, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Cerrados. Ela acrescenta que, “além de proteger a superfície, a adubação verde melhora a qualidade do solo”. O método pode ser usado em qualquer região do país.

A Embrapa Cerrados já identificou uma série de espécies próprias para a adubação verde, o que levou técnicos da usina Goiutuba Usinas de Açúcar e Álcool e Biodiesel (Goiasa), de Goiás, a buscar as melhores opções de plantas para uso nos canaviais da empresa, em contato com pesquisadores da unidade da Embrapa Cerrados em Planaltina, no Distrito Federal. “Estamos buscando plantas semi-perenes que possuem crescimento rápido e tenham porte mais baixo, para que não abafem a cana”, afirma Wellington Pereira, da Goiasa, que produz açúcar normal e orgânico.

Arminda Moreira afirma que, entre as plantas de cobertura pesquisadas pela Embrapa Cerrados, algumas têm características que atendem à demanda da Goiasa, como tolerância ao estresse hídrico, elevada produção de biomassa, fixação biológica de nitrogênio (FBN) retirada do nitrogênio do ar para absorção, ciclagem eficiente de nutrientes, proteção do solo contra a erosão e controle de plantas invasoras. “Espécies vegetais com ciclos perenes ou semi-perenes facilitam os cultivos em consórcios com cana-de-açúcar”, explica a pesquisadora.

OPÇÕES TESTADAS

Variedades indicadas para uso na lavoura de cana

Feijão-bravo-do-ceará

Leguminosa de ciclo longo (semiperene), tolerância ao estresse hídrico, controle de plantas invasoras, fixação biológica de nitrogênio (FBN) e eficiência na ciclagem de nutrientes, principalmente, nitrogênio, pela FBN e incorporação de biomassa. O ciclo longo permite a manutenção de cobertura verde na área durante maior período, a elevada capacidade de rebrota e o sistema radicular bastante profundo tornam essa planta muito eficiente na absorção de água e ciclagem de nutrientes. Porém, deve-se ter o cuidado para que essa espécie vegetal não se torne uma planta invasora e, devido ao hábito de crescimento indeterminado, prejudique o crescimento, manejo e colheita da cana-de-açúcar. A produção e aquisição de sementes também podem limitar o uso dessa planta de cobertura.

Crotalária anagirOide

Leguminosa de ciclo anual com elevada capacidade de controlar plantas invasoras e muito eficiente na FBN. É necessário realizar sua semeadura anualmente nas entrelinhas da cana-de-açúcar. Possui bom rendimento de sementes.

Tefrósia cândida

Leguminosa perene com elevada capacidade de controlar plantas invasoras e muito eficiente na FBN. Seu manejo de ve ser realizado por meio de podas para que não ocorra competição com a cana.

Arachis pintoi

É uma leguminosa perene, que se propaga pela semente, estolão ou coroa com parte da raiz. Possui elevada capacidade de controlar plantas invasoras, eficiente na FBN e promove boa cobertura do solo. O Arachis pintoi é uma espécie nativa dos Cerrados do Brasil, adaptada aos solos ácidos e de baixa fertilidade, possui características como alta produção de forragem de boa qualidade, alta capacidade de fixar nitrogênio e boa tolerância ao sombreamento, características importantes para o consórcio com cana-de-açúcar. A propagação e produção de sementes também podem limitar o uso dessa planta de cobertura.

Fonte: Arminda Moreira, pesquisadora da Embrapa Cerrados

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