Administração

Maurílio Biagi Filho comenta sobre a descontinuidade da Santa Elisa

Maurílio de Biagi: falta participação institucional do setor bioenergético na Agrishow
Maurílio de Biagi: falta participação institucional do setor bioenergético na Agrishow

Recebi com tristeza a notícia da descontinuidade das operações da Usina Santa Elisa, em Sertãozinho, por tempo indeterminado.

Essa usina faz parte da minha história pessoal e da história da nossa região. Foi adquirida por minha família, em 1936, e desde então se tornou um verdadeiro símbolo do desenvolvimento industrial de Sertãozinho.

Lá, vivi grandes momentos da minha vida: iniciei minha trajetória profissional atrás do balcão do armazém, passei por todos os setores, da indústria à presidência, e pude liderar sua transformação em uma das maiores empresas do setor sucroenergético no mundo, tanto em inovação quanto em produção.

Em 1998, alcançamos um marco histórico: a Santa Elisa se tornou a usina com maior volume de moagem do mundo à época, com mais de 7 milhões de toneladas.

Antes disso, protagonizamos a primeira grande fusão do setor, com a Usina São Geraldo, sempre buscando caminhos de crescimento e sustentabilidade econômica e social.Mas, acima de tudo, nenhuma conquista teria sido possível sem as pessoas extraordinárias que caminharam ao meu lado.

A Santa Elisa foi uma escola de formação profissional e humana para milhares de colaboradores, muitos dos quais ajudaram a construir não só essa empresa, mas outras que nasceram a partir dela.

Há 25 anos deixei de participar da sua gestão e há 20 da sociedade, com o sentimento de missão cumprida. Vivi lá desde o meu nascimento, dediquei grande parte da minha vida a essa companhia e me orgulho do legado que deixamos.

Torço para que os impactos dessa decisão sejam os menores possíveis, especialmente para os trabalhadores, fornecedores e para toda a comunidade local.Mais do que um empreendimento, a Usina Santa Elisa representa um patrimônio imaterial valioso — de memória, de pertencimento, de vínculos afetivos e sociais.

A história que ela ajudou a escrever em Sertãozinho é indelével.Neste momento de pausa, escolho olhar para o futuro com esperança. Acredito na força de reinvenção da nossa região e confio que, com diálogo, sensibilidade e responsabilidade, será possível encontrar novos caminhos e equalizar essa situação. Tenho a convicção que os atuais proprietários tomaram a decisão certa para o momento, com todo o cuidado e respeito pelas partes envolvidas. Aliás, aproveito para destacar que sempre agiram para comigo com muita fidalguia, com total consideração a mim e a todo esse legado.Fiquei surpreso pelo tanto de mensagens e telefonemas carinhosos que recebi desde cedo de amigos de todas as fases da minha vida e da imprensa.

Cada um com uma lembrança, com uma história para ser compartilhada e me pedindo para compartilhar a minha. Por esse motivo decidi me manifestar através deste texto.A Santa Elisa pode ter encerrado temporariamente suas atividades, mas o que ela construiu jamais será apagado.

E é com esse espírito que seguimos em frente, com coragem, resiliência e fé nos novos tempos.