Manter uma empresa nos dias atuais é um grande desafio e se torna ainda maior quando se refere a uma empresa familiar. Estatísticas mostram que somente 1/3 dessas companhias chega à segunda geração e dessas, somente 15% passam para a terceira geração, ou seja, a cada 100 companhias, só cinco passam para os netos, grande parte em função de conflitos familiares pelo poder.
O consultor em sucessão e um dos maiores especialistas no assunto, Pedro Podboi Adachi, consultor da Societas, afirma que para o processo de transição ser feito de maneira assertiva, é preciso escolher as pessoas mais bem qualificadas para dar sequência àquela função, independente de ser alguém da família ou um profissional do mercado.
“Passar o bastão para a próxima geração costuma ser um dos temas mais complexos nas empresas familiares. As diferenças de gerações; a escolha do sucessor; a diferença entre sucessor e herdeiro ou mesmo as dificuldades do sucedido em deixar o cargo são algumas complexidades e podem influenciar positivamente ou negativamente na gestão”, explica.
Adachi foi um dos palestrantes do webinar “Sucessão familiar, governança e inovação: o que pensa a próxima geração do setor”, realizado pelo JornalCana, nesta quarta-feira (2), que contou com moderação do diretor da ProCana Brasil, Josias Messias.
O consultor ressaltou ainda que a profissionalização é um dos temas importantes quando se fala em governança. Segundo ele, muitos acreditam que profissionalizar a empresa significa tirar a família da direção e contratar executivos. Mas não é isso.
“É preciso colocar pessoas corretas e competentes nos cargos adequados e de modo algum, impede que um membro da família seja esse sucessor”, disse. Porém, ele alerta que não é saudável obrigar os familiares a trabalhar na empresa, quando a sua vocação é outra. Isso gera frustração e problemas na família.
O webinar contou também com quatro bons exemplos de sucessão familiar de empresas tradicionais do setor sucroenergético.
Beatriz Quagliato Porto, faz parte da terceira geração da família fundadora da Usina São Luiz, de Ourinhos (SP) e atua como gestora de suprimentos e sustentabilidade da companhia. No webinar, falou sobre o processo de sucessão na usina, que tem 70 anos e já segue preparando a sua quarta geração para assumir a empresa no futuro.
“Nas empresas familiares temos um desafio enorme, que é separar o papel do sócio, executivo e membro da família. É uma tarefa complexa, mas primordial para o sucesso da família e dos negócios”, explica, ressaltando que a governança corporativa familiar é a base para a longevidade das empresas.
daGa“Não adianta replicar o que o fundador fez, pois cada pessoa é diferente. É preciso construir um novo modelo e o nosso desafio é manter a cultura e o trabalho que foi feito até aqui e que transformou a empresa em um sucesso”, disse Gastão de Souza Mesquita Filho, herdeiro da Companhia Melhoramentos (PR), uma empresa que tem 95 anos de história.
O advogado, que fez carreira no mercado antes de auxiliar na direção da empresa familiar, afirma que há inúmeras vantagens quando membros da família acionista participam de sua gestão. “Mas se os princípios da governança corporativa não estiverem presentes no dia-a-dia da companhia, praticados por acionistas e gestores, essa vantagem competitiva pode se tornar um enorme problema”, alerta.
Para Guilherme de Andrade Tittoto, da Usina Ipiranga, em Descalvado (SP), o conflito surge quando cada um tem uma expectativa. “É preciso ter vontade de estar junto e ter expectativas alinhadas”, disse ele, que citou os principais desafios da nova geração, entre eles, o de ser financeiramente sustentável.
“O desafio é continuar sendo financeiramente sustentável, gerando divisas para os municípios, preservando o meio-ambiente e agindo com responsabilidade social”, informa.
Rafael Ometto Do Amaral, engenheiro de produção da Usina Santa Lúcia, informou que a cultura da empresa, que tem 80 anos, sempre foi baseada na simplicidade e de modo geral, todas as gerações que assumiram a sua gestão foram conservadoras, “não no sentido estagnado, mas sim no sentido de ser uma usina mais disciplinada, empírica”, disse.
Para ele, manter a essência e promover mudanças para a sobrevivência da empresa nos novos tempos é essencial. “Em um ano de crise não podemos deixar de crescer e em um ano de bons ventos precisamos ter sabedoria e caminhar com parcimônia, para que em momentos inesperados, tenha-se maior tranquilidade em atravessá-los e seguir evoluindo”, ressaltou.
O evento contou com patrocínio da HB Saúde – Humanização e Tecnologia em Saúde; da Pró-Usinas – Empresa do Grupo ProCana focada em tecnologia e inovação de resultados para as usinas e da S-PAA Soteica – Software de RTO que maximiza a cogeração e a eficiência industrial, instalado em mais de 40 usinas e gerando ganhos superiores a R$ 1/TC.
Assista ao webinar completo aqui: