“O setor tem que buscar saídas e soluções viáveis, e apresentar para o governo”. Esta é a opinião do ruralista Maurílio Biagi para a atual crise no segmento sucroalcooleiro nacional. O empresário, de 72 anos, presidente do Grupo Maubisa, presidente da Agrishow, uma das maiores feiras de agribusiness do mundo, e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da Presidência da República, enfatiza, em entrevista exclusiva ao DCI, que há um desinteresse do governo em apresentar medidas para a recuperação das usinas. “Estamos abandonados”, lamenta.
Nas últimas cinco safras, 44 usinas fecharam as portas e outras 12 suspenderam as operações. Só em 2014, seis usinas já entraram com pedido de recuperação judicial. Biagi conta que, diferentemente do que muitos acreditam, o problema do setor não tem nada a ver com clima. “Vivemos um mau momento, com os preços baixos do açúcar no mercado internacional, queda nos valores do mercado interno, preços do etanol melhores que os do açúcar, mas que são insuficientes para fazer com que as unidades se autossustentem”, explica.
O empresário destaca que não há investimentos no setor e o problema, que já vem dos últimos quatro anos, piorou. “Não só o segmento, como toda a cadeia sofre. Estamos colhendo frutos desse mal momento já antigo”, diz. Biagi lembra que situação do município de Sertãozinho, no interior paulista, que abriga indústrias de equipamentos para as usinas, é muito séria, com o fechamento de empresas, além dos prejuízos nos entornos da cidade.
Em primeira instância, Biagi avalia que não há uma medida imediata para o fim da crise. “Se eu visse alguma solução, escreveria e pagaria para que a imprensa publicasse, mas não vejo saída.”
Em suma, nas palavras do empresário, as perspectivas a curto prazo são “sombrias”.
Etanol
Em relação ao principal agente das polêmicas no segmento, informações do Cepea mostram que, entre os dias 17 e 21 de março, o Indicador Cepea/Esalq do etanol anidro (Estado de São Paulo) foi de R$ 1,5977/litro, avanço de 0,59% em relação à semana anterior. Para o hidratado, o índice foi de R$ 1,4241/litro, leve recuo de 0,45%. “O etanol anidro seguiu sustentado pela demanda aquecida e pela competitividade favorável ao uso da gasolina nas bombas frente ao hidratado. Em relação ao hidratado, a negociação de etanol no mercado spot já da safra 2014/15 somada ao baixo interesse de compradores resultou em novos recuos nos preços”, diz o alerta de mercado do Cepea.
Biagi evita discutir políticas do governo e afirma que existe uma “falha de comunicação muito grande” entre o segmento e os interesses públicos, fator que prejudica o desempenho do biocombustível no País.
“Há quatro anos, quando a paridade do preço entre etanol e gasolina foi quebrada, eu escrevi artigos dizendo que havia começado o início do fim para o setor. Nós conhecemos isso a fundo. Sabíamos que até um determinado momento tínhamos como sobreviver, mas isso não se estenderia muito. Recentemente vi uma publicação dizendo que a paridade não é mais 70% e sim 80%. Já houve a crise do etanol, onde se disse que faltou o biocombustível e não faltou, ou seja, além de tudo ainda existe uma falha de comunicação sobre o que realmente acontece”, comenta.
O potencial de geração de energia elétrica também foi citado, como mais um ponto importante no segmento, mas que – tal como todos os outros – se prejudica pela falta de investimento.
Política
Na busca em apoiar o setor sucroalcooleiro, Biagi ensaiou no ano passado uma entrada na política. Em outubro de 2013, o Partido da República (PR) filiou o ruralista, cotado como um forte nome para a candidatura ao vice-governo do Estado de São Paulo na chapa de Alexandre Padilha (PT-SP), nas eleições deste ano.
“No final de fevereiro deste ano tive um jantar com membros do partido. O presidente do PT, deputado Rui Falcão, me convidou para a chapa do Padilha. Fiquei muito honrado. No domingo, o Padilha foi à minha casa, depois encontrei o ex-presidente Lula [Luiz Inácio Lula da Silva], tive um tempo para pensar e cheguei à conclusão que não tenho essa vocação”, afirma Biagi.
O empresário brinca que não tem “idade nem saúde” para as responsabilidades de um cargo neste nível.
“Além disso tudo, como se não bastasse, todos me perguntam: “mas não precisa de alguém do setor sucroenergético na política?” Precisa, mas não serei eu. Realmente, eu não sirvo pra isso”, conclui o empresário.
(Fonte: DCI – Diário do Comércio & Indústria)