A valorização das commodities sofre piora, embora ainda deixe o Brasil confortável em termos de preços globais. Mas o que mais deve preocupar é o comportamento da produtividade. A avaliação é do economista Alexandre Schwartsman, em palestra feita na manhã desta quarta-feira (20/5) no XIII Seminário Tereos Guarani, em São Paulo.
“A produção industrial/horas pagas acelerou até 2008, chegando a 1,6 e daí só registrou queda, chegando a 1,2 no terceiro quadrimestre de 2014”, relatou. “O fato é que o Brasil se engajou em processo de reforma logo após fazer a reforma constitucional de 1988.”
“Fizemos a reforma, e errado, porque de 1990 a 2005 o país se engajou em processo de reforma e, bem ou mal, foi mudando. Privatizamos uma série de setores, abriu-se a economia, que segue fechada, e mesmo no primeiro governo Lula, viu-se avanços importantes de reforma previdenciária. Isso elevou o índice de produtividade. Mas por conta do mensalão e da alta dos preços das commodities em alta, esse processo reformista parou a partir de 2005”, disse.
A partir de 2005, segundo ele, nota-se uma “volta ao passado, com uma política intervencionista.” Em termos de desempenho nos últimos quatro anos “perdemos de goleada.” O ritmo de crescimento do mundo foi de 3,6% entre 2011 e 2014, enquanto o Brasil avançou 2,1% no mesmo período.
Conforme ele, o investimento veio em aceleração até 2010, com 19% do PIB, mas caiu para 1% do PIB no primeiro quadrimestre deste ano.
Em 2000, o PIB brasileiro avançou 2,3%, chegou a 3,5% em 2007, caiu quase 0,5% em 2009, subiu 4,5% em 2012 e deve fechar 2015 abaixo de 1% negativo. Mas em 2016, há projeção de avanço do PIB para 1%, de 2% em 2017 e 1,1% em 2018.
Mas com fazer para retomar o crescimento de forma sustentável do Brasil?
Schwartsman: O ajuste fiscal pretendido terá impactos a partir de 2017. Em 2016, ainda haverá impacto desse ajuste, com queda da inflação por conta da contração e do desemprego. 2015 é um ano de regime insustentável de política econômica para alternativa mais estável. Haverá custos: queda de produto e emprego, que conviverá com inflação mais alta, por conta da correção dos abusos dos últimos anos.
“Apesar do coringa que é a questão energética, a atividade econômica deve começar a trajetória de crescimento a partir de 2016”, frisou.
Desafios: “o primeiro é estabilizar a economia, com inflação mais baixa e déficit externo em queda, com medidas que acelerem o crescimento”; “no horizonte próximo, isto requer reforma do modelo de concessão de infraestrutura, que permita retornos elevados”; “em horizonte mais longo, será preciso retomar processo de liberalização da economia, seja no campo do comércio exterior, seja no campo das relações de trabalho, ou, ainda, no campo tributário.”
“Há uma crise política que dificulta o tratamento dos temas de longo prazo, mas dificilmente haverá crise econômica, entendida como inflação em aceleração persistente, dificuldades para servir a dívida, ou uma crise do balanço de pagamentos. A manutenção da estabilidade é condição necessária para a retomada.”
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