Gestão Administrativa

Retomada precisa de gestão profissional e de política de distribuição de combustíveis

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Caso o governo cumpra as reivindicações e desenvolva políticas públicas adequadas para a retomada do crescimento do segmento sucroenergético, será que o setor está preparado para crescer com sua atual gestão? O economista, Jair Pires, diretor executivo da MBF Agribusiness, analisa essa questão e propõe algumas alternativas como o investimento em gestão profissional, política de distribuição de combustíveis direcionadas às usinas e maior acesso às linhas de créditos disponíveis.

JornalCana – Na sua opinião, o setor sucroenergético está preparado para a retomada ou sobreviverá ao mercado, caso o governo federal atenda as suas reivindicações?

Jair Pires – Alguns grupos tem gestão para isso, a chamada gestão profissionalizada, voltada para crescimento e os custos. Mas para sobreviver a esse mercado é preciso analisar o fluxo de caixa e o resultado econômico financeiro da empresa. Não se pode olhar o caixa apenas no primeiro ano, sem saber se o seguinte irá suportar toda pressão financeira. A gestão deve ser econômico financeira, e não se pode administrar levando em consideração apenas a produção vigente, pois canavial e as equipes já estão montadas. O Segredo é analisar os próximos quatro anos, e verificar se poderá investir. Sem isso não há como trabalhar.

Essa situação já ocorreu antes?

De 2008 a 2010, ninguém projetou as perdas para os anos seguintes e no futuro as usinas não tinham a produtividade esperada devido a falta de tratos, e as perdas chegaram a 30%. Ninguém colocou esse detalhe na ponta do lápis e ainda insistiram para fazer algum investimento. Então faltou caixa e tudo foi interrompido no meio do caminho.

Na sua opinião, as usinas terão mais chances para passar por esse momento do que as destilarias?

Se 70% das reivindicações do segmento forem atendidas pelo governo, algumas unidades que possuem açúcar e etanol no mix de produção conseguirão sobreviver porque no processo de processamento do açúcar a unidade perde menos, enquanto no etanol a perda na produção é grande. Quem tem o mix 50%, 50% ou 60%,40%, ou o inverso conseguirá pagar os investimentos no canavial. Mas tudo vai depender do seu nível de alavancagem financeira, pois a usina que está totalmente endividada não irá sobreviver.

Quais as questões principais que uma unidade deve analisar para retomar com eficiência?

Eu devo muito? Consigo gerar caixa para renovar? Consigo fazer os tratos e ainda pagar as dívidas? Infelizmente muitas unidades não terão condições de seguir em frente. Aquela que produz só etanol e está endividada, será engolida por outros grupos, além de não ter outra alternativa para gerar o caixa.

Quais as principais alternativas para a recuperação do setor?

Hoje há grandes distribuidoras na região de Paulínia, por que não montar uma distribuidora nas próprias usinas? Algo deve ser feito nesse sentido, e o governo deveria pensar como fiscalizaria para evitar sonegação. Hoje muitas indústrias que estão com problema de caixa não recolhem impostos, não porque não querem, mas porque não têm outra saída e priorizam atender a folha de pagamento. O governo deve investir em uma política de distribuição de combustíveis. Se houver melhor remuneração, o produtor terá mais condições de recolher os impostos.

A falta de acesso a crédito é um dos problemas da atualidade?

Sim, pois o governo libera milhões para o plantio de cana, mas há usinas que não possuem CND (Certificação Negativa de Débito) e está difícil de conseguir acesso a esse recurso. Muitas não têm toda documentação regularizada, sem acesso a linhas mais baratas e acabam emprestando recursos com juros mais altos, então a unidade começa moer antes da safra e termina depois, gerando grande prejuízo. No passado havia uma linha de crédito para que o setor pagasse os juros por meio de títulos do governo. É necessário que se estude uma linha de financiamento para que as usinas tenham acesso aos recursos disponíveis, pensando ainda em alongar prazos de pagamentos. Muitas pequenas destilarias estão morrendo pois custo está subindo e a receita diminuindo.

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