Recentes acontecimentos têm evidenciado que a política de combustíveis adotada pelo Governo Federal privilegia o consumo de gasolina em detrimento do etanol. Esta política está tornando corporações de diversos setores vulneráveis à recuperação judicial ou falência prematura. No último dia 24 de junho foi a vez da Jaraguá, tradicional fabricante de equipamentos especiais e que emprega centenas de pessoas, pedir recuperação judicial, com uma dívida em torno de R$ 500 milhões. Com pagamentos atrasados a muitos fornecedores, a empresa enfrenta uma série de pedidos de falência e mais de mil títulos protestados.
Entre outros desalinhos, divergências em relação ao pagamento de serviços envolvendo a Petrobras fizeram com que a Jaraguá se encontrasse, de vez, em grave situação econômica. Informações dão conta que este é um problema que vem se repetindo, deixando até mesmo grandes companhias de engenharia em sérias dificuldades.
A raiz deste problema o setor sucroenergético enfrenta de perto: a manutenção artificial do preço da gasolina nos postos de combustíveis. Esta insistência, motivada por objetivos eleitoreiros, tem causado um rombo financeiro nacional. Em março, a diretora-geral da ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Magda Chambriard, apontou que a importação de combustíveis no Brasil deve gerar déficit de US$ 11,5 bilhões em 2014.
Isso porque o governo optou por importar gasolina a um valor maior do que o comercializado no mercado interno, deixando de lado, por exemplo, o aumento na produção de etanol registrada na última safra, dado que as usinas do Centro-Sul têm destinado a maior parte da moagem para a produção do combustível renovável. A justificativa do Governo é a contenção, também artificial, da inflação, meta que não está sendo alcançada. O IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo, considerado a ‘inflação oficial’ do país, fechou o ano passado em 5,91% – acima da taxa de 5,84% de 2012.
Nesta edição 246 do JornalCana estamos publicando um quadro com as 66 usinas sucroenergéticas que interromperam a moagem desde 2008. De acordo com números do Sifaeg – Sindicato da Indústria de Fabricação de Açúcar do Estado de Goiás, somente com o fechamento de três usinas em Goiás, o número de desempregados chegou a 10 mil. Em Minas Gerais, por exemplo, a pesquisa constatou que oito unidades foram fechadas e gerou o desemprego de 5 mil pessoas.
Apenas estes poucos exemplos mostram a gravidade da situação e que não apenas o setor sucroenergético está no seu limite, mas toda a base produtiva e econômica do País. Os reflexos demoram mas também já se fazem sentir no comércio e demais segmentos. Algo precisa ser feito, e urgentemente.