Gestão Administrativa

Novo Consecana sai este ano, diz Ortolan

Ortolan: cana bisada e menos ATR
Ortolan: cana bisada e menos ATR

Em entrevista ao Portal JornalCana, o engenheiro agrônomo Manoel Ortolan, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do País (Orplana), comenta sobre a safra 15/16 e sobre o Consecana, cujo sistema realiza o pagamento da cana vendida pelos fornecedores.

O Consecana está em fase de revisão e, segundo o executivo, o novo sistema sai ainda este ano.  Ortolan explica também como está a reivindicação dos fornecedores para receber das usinas a cana usada para fazer eletricidade vendida ao mercado.

JornalCana – Como está a revisão do sistema do Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Consecana)?

Manoel Ortolan – Estabelecemos concluir a revisão neste ano [a revisão é feita pelas duas partes do Consecana: a indústria, formada pelas usinas, e os fornecedores de cana]. Mas a revisão depende muito da parte técnica, que é realizada pelo Canatec, formado por técnicos dos dois lados. São eles que fazem as revisões e apresentam o resultado.

Em que pé está?

Ortolan – Não andou muito, não. Como são poucas pessoas que se pode contar para esse tipo de trabalho, já que não há muita gente disponível, entendida sobre o assunto, dificulta. Tivemos muitas mudanças, como a mecanização, o plantio e a colheita estão mudando, enfim é preciso refazer todo o levantamento de custos.

Ortolan: menos ATR na safra 15/16
Ortolan: menos ATR na safra 15/16

Há risco de a safra 16/17 ser realizada com o Consecana antigo?

Ortolan – Até lá, temos que chegar [ao novo] Consecana.

Como é formado o Consecana?

Ortolan – São dez representantes de cada lado, considerados cinco titulares e cinco suplentes. Já a Canatec é formada por oito representantes da indústria e oito dos fornecedores, dos quais quatro são suplentes. Formamos grupos de trabalho, em temas como custos, perdas industriais, processos, e assim vai.

Onde é mais complicado montar o novo Consecana a partir das mudanças recentes no setor sucroenergético?

Ortolan – O impacto maior está no ganho: ou nós [fornecedores de cana] vamos perder e eles [usinas] vão ganhar, ou vice-versa.

Como está hoje, o Consecana é remunerador para o fornecedor de cana?

Ortolan – Não, porque o mercado está ruim. Os preços do açúcar e do álcool estão ruins. Nós passamos os últimos anos com vários fatores que jogaram a produção para baixo. Tínhamos 85 toneladas por hectares e de repente isso caiu para 73 toneladas por hectare, por conta do clima, da colheita mecanizada, do investimento em canavial e de pragas.

Reivindicação sobre excedente

Como está, por exemplo, a reivindicação dos fornecedores de receber das usinas pela cana entregue e usada para cogerar eletricidade excedente, vendida ao mercado?

Ortolan – É um impasse. Levamos para o Consecana, mas não dentro da revisão, mas de lado.

Dará tempo neste ano de acertar isso?

Ortolan – Não há mais como contestar [o ganho da usina com a venda da eletricidade excedente vendida no mercado]. O  Consecana, como feito até hoje, trabalha o açúcar e o álcool para remunerar a cana. A energia elétrica é um negócio a parte, que também é da cana. Então, [se o sistema Consecana] agregar algo, não será do açúcar ou do álcool, mas da energia elétrica. Nós, durante muito tempo, dizemos não estar na hora de mexer com isso [a reivindicação]. Mas agora, não. A eletricidade é um grande negócio para as usinas e mais: quem não está cogerando, está vendendo bagaço. Não há porque não fazermos essa reivindicação. E acho que o bagaço é um negócio para ser incluído no Consecana. É um concorrente da cana.

Palha gera mercado novo

E a palha?

Ortolan – É um negócio a mais. Já tem empresa operando, já tem mercado. Em um ano tem preço melhor, em outro tem preço pior. Hoje [em junho de 2015], a palha picada e já enfardada está na faixa de R$ 140 a tonelada.

E os custos?

Ortolan – [Tirando os custos de colheita], a tonelada é colocada na usina por R$ 100 ou R$ 110 a tonelada.

E o rendimento de palha por hectare?

Ortolan – Cada hectare permite a retirada de entre quatro a cinco toneladas de palha [a retirada fica em 60% de toda a palha]. Depende da variedade da cana.

O negócio da palha tende a crescer?

Ortolan – Sim. Há em andamento o projeto de retrofit nas indústrias, na parte de geração de energia, encabeçado pelo Ceise-BR (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis), com o governo estadual, o que geraria um mercado mais firme. Mas o interesse pela palha depende. Em 2014, por exemplo, tivemos pouca área cultivada, queimou-se muitas áreas, e faltou matéria-prima [bagaço e palha] para as usinas com contrato de entrega de eletricidade cogerada. Mas é um negócio que irá engrenar.

Ortolan: cana bisada e menos ATR
Ortolan: cana bisada e menos ATR

O sr. preside também a cooperativa de produtores de cana Canaoeste. A gestão da palha está nos planos da cooperativa?

Ortolan – Sim. Mas não acredito ser da Canaoeste o papel de recolher a palha. Mas de organizar um pool de produtores de cana para administrar a gestão da colheita dessa palha e da comercialização.

Como está a safra

Comente como está indo a safra 15/16

Ortolan – Em nossa região [Sertãozinho e cidades próximas] a entrega de cana dos fornecedores atrasou um pouco, porque as usinas também atrasaram um pouco o início da moagem, iniciada em maio. Essa será uma safra com produtividade maior, a ATR será menor por conta das chuvas do início do ano, e provavelmente teremos chuvas de igual a 2014 em julho, agosto e setembro.

Como foi o ATR médio dos produtores da Orplan na 14/15?

Ortolan – 137 quilos por tonelada. Na 15/16 deveremos ficar em 135 quilos por tonelada.

Afetará a produção de açúcar?

Ortolan – Não se irá na mesma proporção [de 2014] porque cai o teor. Mas como deveremos ter 1 ou 2 milhões de toneladas a mais de cana, isso compensará o ATR menor.

Já é possível prever até quando irá a safra no Centro-Sul?

Ortolan – A safra deverá ser esticada porque temos mais cana, começamos mais tarde e, dependendo das chuvas, com a colheita mecanizada ela para apenas um chuvisco. Já tivemos comprometimento de colheita em maio e junho por conta de chuva. Já há quem diga que ficará cana bisada.

A moagem deve chegar a 600 milhões de toneladas na 15/16
A moagem deve chegar a 600 milhões de toneladas na 15/16

 Qual o número de toneladas que o sr. prevê na safra vigente no Centro-Sul?

Ortolan – A Unica fala em 592 milhões de toneladas. Prevejo algo em torno de 600 milhões de toneladas. Se compararmos com as 575 milhões processadas na 14/15, teremos 25 milhões de toneladas a mais.