Atuando no setor há mais de 20 anos, o executivo Joamir Alves assumiu em janeiro de 2015 a missão de salvar o Grupo Virgulino de Oliveira — composto de quatro usinas paulistas localizadas em Ariranha, Itapira, José Bonifácio e Monsões — de parar suas engrenagens. Atuando estrategicamente com sua equipe não aceitou que a empresa entrasse em recuperação judicial, enxugou as dívidas bancárias e trabalhistas e colocou novamente as moendas para esmagar cana-de-açúcar. Ele contou com exclusividade ao jornalista Josias Messias como isso aconteceu. Confira:
Como começou o processo de reestruturação da GVO?
Foi em janeiro de 2015. Começamos convencendo os trabalhadores em greve, sem receberem desde setembro de 2014, a retomarem o trabalho e assim iniciamos a moagem da safra 15/16.
Tínhamos no final de 2014 quase 80 milhões de obrigações trabalhistas atrasadas. Assim, fizemos um acordo com os trabalhadores no final de abril de 2015 e voltamos a moer na unidade de Catanduva em maio de 2015 e nas outras unidades mais para final de maio. Desta forma tiramos do mercado todas as dúvida se a GVO voltaria a moer ou não.
Conseguimos isso com a compreensão do Sindicato, o apoio da Justiça do Trabalho e de fornecedores estratégicos, como a Ouro Verde, a Copercana, a Sertubo, a CCM e alguns clientes que acreditaram na retomada de corporação, como a Soptei, por exemplo.
Como procederam para acertar e negociar as dívidas?
Averiguamos a disponibilidade dos acionistas em colocar os seus bens pessoais que não estavam alienados, à venda, e com isso que pudéssemos levantar algum dinheiro e começar a trabalhar. E conseguimos.
Acertamos então as dívidas com os bancos locais. Alguns tinham alienação fiduciária, assim as terras serviram também como pagamento. Reduzimos uma dívida de mais de 700 milhões de reais para 335 milhões, feita na maior parte com pagamento de terras que estavam alienadas, e para dar continuidade ao processo, neste ano começamos a negociar para encontrar uma solução para as dividas em bonds.
E quanto a possiblidade de pedir recuperação judicial?
Decisão não recorrer à recuperação judicial. Acreditamos que ao invés disso podíamos negociar credor por credor, e tivemos sucesso nisto.
Quais são os próximos desafios do Grupo GVO?
Nesta safra o desafio é a continuidade. Isto implica em investimento. Temos que trabalhar para colocar os canaviais em ordem, principalmente nas unidades de Catanduva e Itapira e quitar os restante das dívidas.
É importante destacar que o Grupo Virgulino de Oliveira é muito importante para a economia das regiões que circundam as unidades. Há cidades como Palmares, por exemplo, onde muitos moradores trabalham na empresa. Portanto, a reestruturação da grupo garantiu a continuidade de muitos empregos. Claro, a empresa visa atender a necessidade de seus acionistas e credores, mas é preciso ter responsabilidade social com um negócio que emprega cerca de 8 mil pessoas.
Qual o futuro do GVO?
Estamos investindo em recursos humanos e capacitando nossa equipe. Colocamos no ar um programa de recrutamento interno para dar possibilidade para que os colaboradores possam crescer em suas áreas. Para os próximos cinco anos queremos nossas usinas operando na capacidade máxima que elas possuem que é de 11 milhões de toneladas de cana.
Para aumentar nossa moagem precisamos renovar os canaviais, pois nossa produtividade estava muito baixa e, parte da cana que precisamos, teremos que tirar de terras próprias ou arrendadas, ou fazer parcerias, até porque o custo do fator terra na região de nossas usinas é alto. Então, precisamos ter uma produtividade alta para não perder dinheiro na atividade agrícola, que é fundamental para nosso negócio.
Vamos plantar mais de 7 mil hectares de cana-de-açúcar. Nessa safra já plantamos 10 mil hectares e terminaremos a safra com 15 mil hectares. Agora esperamos que São Pedro nos ajude com chuva.
Qual será a moagem do grupo na safra 16/17?
Vamos moer 8,4 milhões de toneladas.
NÚMEROS DO GRUPO GVO NA SAFRA 15/16
MOAGEM: 7.393.470 toneladas de cana-de-açúcar
AÇÚCAR: 266.259 toneladas
ETANOL: 409.068.383 litros de etanol hidratado.