Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) entre 2003 e 2006, defende um plano de recuperação financeira junto a bancos para o setor sucroenergético. Seria um programa semelhante ao Programa de Revitalização do Setor Cooperativo (Recoop) e ao Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), ambos instituídos nos anos 90. Na entrevista a seguir, concedida na sexta-feira (17/04), em Ribeirão Preto, ele detalha os motivos dessa sua defesa.
JornalCana – O sr. acredita que é hora de defender um Proer para o setor sucroenergético?
Quando estava na União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) [foi presidente do Conselho Deliberativo até janeiro último], defendia um Recoop para o setor. Não era geral, mas para cada unidade, porque cada um tem uma situação diferente. São problemas de gestão, administrativo, tecnológico. São diferentes problemas que causaram uma só crise. Por isso é preciso tratar as causas de forma diferente. Mas essa não é uma tese usada pelo setor de uma forma geral.
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E hoje?
Continuo achando que deveria haver uma medida de negociação com o setor, que tratasse diferentemente os diferentes agentes. Mas não basta um Proer. É preciso investir em tecnologia, e vem vindo um pacote tecnológico para a cana que é algo revolucionário, como as mpb (mudas pré-brotadas), sementes para cana, novas mudas, novas técnicas como plantio em duas ruas. Vem vindo isso. Mas tecnologia custa dinheiro e, para ter dinheiro, é preciso ter renda. Então é preciso uma recuperação da renda para que a tecnologia entre no setor.
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Como a cadeia do agronegócio deve fazer para tentar minimizar os impactos do ajuste fiscal?
Defendo a tese de que os preços irão subir no próximo ano, devido também ao câmbio e fatores subsequente. De modo que a única forma de compensar isso é haver mais crédito, e mais barato. Porém o ajuste fiscal prevê menos crédito, mais caro e mais seletivo. Viveremos um problema de renda. É inevitável porque fará parte do ajuste fiscal. O produtor rural terá que ficar com as barbas de molho. Com investimento zero ou somente aquilo que é necessário para sobreviver. E dar o passo do tamanho da perna.
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Isso vale para o setor sucroenergético?
O setor sucroenergético está praticamente no fundo do poço. Vem de três anos trágicos, mas nesta virada de ano teve três fatos. Primeiro a Cide voltou, não completamente, mas deu um certo alívio no comportamento de preços do etanol. Segundo, a mistura maior de anidro em 2%, que vão exigir mais 1 bilhão de litros. O terceiro fato está em Minas Gerais, que baixou o ICMS sobre o hidratado, e isso faz subir o consumo. Em março último tivemos um exemplo inédito: o preço do etanol foi lá embaixo porque havia estoque demais. Mas temos uma ligeira melhora econômica.
Explique mais, por favor
Há uma quarta questão: choveu demais em março. E tem chovido mesmo em abril, assim como em fevereiro, e isso vai melhorar o aspecto dos canaviais. E isso vai melhorar a produtividade. Então, primeiro tivemos uma recuperação de preços e, agora, de produção. Na contramão disso, há notícia ruim de que a Tailândia subsidia a produção de cana, e mais 2 milhões de toneladas de açúcar devem ir para o mercado, o que relaxa o preço.
Estamos às vésperas do começo da Agrishow [feira de tecnologia agrícola programada entre 27/04 a 1/05 em Ribeirão Preto]. O produtor rural deve evitar investir?
Deve dar uma recuada. Fui recentemente à feira de Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, e as vendas foram recordes porque a safra gaúcha foi fantástica, devido a oferta, preço, dólar alto. O agricultor não sabe deixar de investir. Mas o produtor das regiões Sudeste e Centro-Oeste não tem o mesmo entusiasmo do produtor da região Sul.