A proibição da queima da palha da cana-de-açúcar e o consequente fim da colheita manual nos próximos três anos mudou o cenário nas lavouras no interior de São Paulo. Cada vez mais, cortadores de cana dão lugar a operários de máquinas, mais qualificados, com melhores salários e benefícios. Alguns, chegam a receber até R$ 3 mil por mês, além de benefícios e comissão por produtividade, um cenário bem diferente de 20 anos atrás.
É o caso do operador Luis Augusto Biagi, que dos 18 aos 25 anos trabalhou como lavrador em Cajuru (SP), cidade em que nasceu. Na época, ganhava cerca de mil reais de salário e vivia no sítio com a família, até ser contratado por uma usina de açúcar e etanol, e receber a proposta de fazer um curso técnico profissionalizante – Biagi estudou até o Ensino Fundamental.
“Comecei a operar trator, depois fui dirigir um equipamento maior, fiz um curso técnico para operar colheitadeira, mas nem montei na máquina, era tudo no papel. Um dia, um colega disse que me ensinaria a pilotar, aí eu aprendi de verdade”, afirma o operador.
Biagi relembra que em pouco tempo aprendeu a lidar com o equipamento e hoje é um dos 60 funcionários da usina a operar a colheitadeira de cana. “Se pegar uma máquina dessas, com um dia de serviço já dá para sair usando. É muito fácil de trabalhar porque é tudo automatizado.”
Equipamento de luxo
Ar condicionado digital, banco e volante com regulagem de altura, computador de bordo, GPS e piloto automático. Esses são apenas alguns dos luxos oferecidos pela colheitadeira de cana-de-açúcar operada por Biagi, um equipamento que chega a custar até R$ 1,2 milhão na 21ª Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). “É um carro de rico”, afirma.
As mordomias não terminam por aí. Biagi sempre carrega consigo um pen drive com músicas escolhidas por ele, para ligar no aparelho de som instalado na cabine da máquina. “Trabalho ouvindo música. Sertaneja, é claro”, brinca o operador, destacando que não basta saber “dirigir” a colheitadeira, mas precisa entender cada detalhe do funcionamento.
“Tem que lavar, lubrificar as peças, orientar os mecânicos quando tem algum vazamento. A gente não pode pegar em nenhuma peça, mas a gente tem que entender para explicar o que está acontecendo coma máquina”, diz.
Próxima geração
Biagi esteve na Agrishow junto do filho, Pedro Augusto Carvalho Biagi, de 10 anos, que se encantou ao ver de perto a máquina pilotada pelo pai nos canaviais. O garoto chegou a subir em um dos equipamentos e perguntou cada detalhe sobre o funcionamento da colheitadeira.
“Ele diz que quer ser agrônomo, gosta de mexer com terra, de plantar. Vai ser fácil para ele. Essa geração aprende tudo muito rápido”, diz Biagi, que aposta na integração cada vez maior da tecnologia com o campo. “Todo mundo está mecanizando a produção e esses jovens que vêm aí só vão conseguir emprego se entenderem disso. O futuro está aí.”
(Fonte: Adriano Oliveira / G1 Ribeirão e Franca)