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Entrevista com Oswaldo Godoy, gerente de engenharia do CTC

Entrevista com Oswaldo Godoy, gerente de engenharia do CTC

2014-02-19 Oswaldo Godoy Gerente Engenharia CTC

A Usina São Manoel, no interior de São Paulo, foi o local escolhido pelo CTC – Centro de Tecnologia Canavieira para investir na fabricação de etanol celulósico. Diferentemente dos outros projetos brasileiros, o CTC aposta em usufruir de toda a infraestrutura de uma usina convencional, acoplando, apenas, a tecnologia necessária para a produção do etanol 2G. Quem conta detalhes sobre o projeto é Oswaldo Godoy, gerente de engenharia do CTC. Confira a entrevista.

JornalCana: Hoje há diversos projetos em andamento no País sobre a produção de etanol celulósico. Quais as novidades do CTC na área?

Oswaldo Godoy: O projeto de etanol de segunda geração desenvolvido pelo CTC desde 2007 tem dois grandes diferenciais: ter sido desenvolvido especificamente para a biomassa (bagaço e palha) da cana-de-açúcar e ser totalmente integrado com a produção de etanol de primeira geração já existente na usina. Há uma planta piloto montada no CTC em Piracicaba, interior de São Paulo, na qual é possível analisar cada etapa do processo de produção. Já na usina São Manoel, localizada no município de São Manuel,  o CTC está construindo uma planta experimental para que possa ser demonstrado a viabilidade do processo em escala industrial.

A planta será inaugurada em 2014?

Sim. A previsão do início de operação da planta está programado para junho de 2014.

Quais os detalhes do projeto?

O projeto conta com investimento de aproximadamente R$ 80 milhões, mais parte da verba de R$ 350 milhões provinda do Projeto PAISS – Plano Conjunto de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico, com financiamento do BNDES e da FINEP. Para colocar em prática o projeto, algumas parcerias foram firmadas. Uma delas é o contrato com a usina São Manoel. Além desta, a parceria com a Pöyry Engenharia foi responsável pelo detalhamento da engenharia do projeto. E os principais equipamentos da planta foram desenvolvidos por meio da parceria com a Andritz, empresa austríaca. A capacidade desta planta será de produzir três milhões de litros por ano de etanol celulósico.

Como funciona o acoplamento em uma usina tradicional?

O processo desenhado pelo CTC aproveita diversas correntes do processo de primeira geração, otimizando o consumo de água, energia, matéria-prima e demais utilidades.

Devido à necessidade de aumento na produção, qual a real importância do etanol celulósico?

O processo de etanol de segunda geração deverá ser parte integrante dos novos desenhos das usinas brasileiras, aumentando a flexibilidade de produção e trazendo diversos benefícios econômicos e ambientais. Isso porque não será necessário o aumento de área plantada para produção desse complemento de etanol que pode chegar até 50% a mais em relação ao de primeira geração.

Se realmente ele é vantajoso para as usinas, qual o motivo de ainda não ter emplacado?

Os desafios são grandes, principalmente no que tange ao custo do produto final, que na nossa visão tem que ser competitivo com o etanol de primeira geração atualmente produzido nas usinas. Outro ponto é que o setor passa por um momento de dificuldades de financiamento para novos investimentos. Além disso, esta é uma tecnologia recente e por isso sua penetração no mercado se dará nos próximos cinco anos a partir da demonstração da nossa planta e provará o retorno no investimento.

Falando em vantagens, quais podemos elencar para o consumidor?

O objetivo das pesquisas desenvolvidas pelo CTC é de que o etanol de segunda geração chegue ao consumidor com preço mais acessível do que o biocombustível de primeira geração. Além do custo mais baixo, o desempenho do etanol de segunda geração será idêntico ao de primeira.  Para o consumidor final além das vantagens ambientais o novo processo, quando implantado em larga escala permitirá estabelecer novos negócios, com a produção de outros equipamentos e insumos sustentáveis com geração de empregos de alta qualidade. O etanol celulósico recoloca o Brasil na liderança mundial dos biocombustíveis e leva riqueza para o interior do país.

Qual o papel das usinas neste processo?

O fato do processo de produção do etanol de segunda geração ser totalmente integrado com a produção de etanol de primeira geração já existente na usina permite que o investimento necessário seja menor e, assim como seu custo de produção. Com isso, além de ganhar mais poder de decisão de acompanhar a demanda do mercado (etanol, açúcar, energia), a Usina terá muito mais produtividade sem precisar aumentar a quantidade de cana plantada.