Apesar da retração no consumo e na geração de energia elétrica no País, por conta da crise econômica, o governo brasileiro avança em busca de implantação de novos parques geradores. A intenção é garantir fornecimento de eletricidade no médio prazo, quando, espera-se, haja a retomada do crescimento econômico e, com ele, o consumo de energia volte a crescer.
A questão é o tipo de geração de eletricidade. A base hidrelétrica, principal fornecedora de energia do País, vivencia fase vigorosa por conta das chuvas, que ampliaram a oferta de água nas usinas. Mas essa base depende de novas hidrelétricas, como a polêmica Belo Monte, que segue envolta em uma polêmica implantação.
Há as gerações eólica e solar. A primeira avança, principalmente nos leilões públicos, que garantem a compra da eletricidade do vento por 20 anos, reajustada anualmente pelo indicador oficial da inflação, o IPCA. Isso dá garantias para o investidor, mas esse tipo de geração está confinado a determinadas regiões do País beneficiadas por bons regimes de ventos.
Tirando-se fontes poluentes, como óleo e carvão, há o gás natural, fonte que o Brasil não é autossuficiente, e precisa do gás natural da Bolívia, por exemplo, vendido em dólar, para complementar a oferta.
Cana
E há a eletricidade feita da biomassa, da qual a cana-de-açúcar é o principal personagem. Entre o começo de 2010 a novembro de 2015, a geração por bioeletricidade gerou 20 mil gigawatts-hora (GWh). O volume representa menos de 10% do potencial de 177 mil GWh de bioeletricidade projetado para 2023.
Mas por que a bioeletricidade não avança?
O Portal JornalCana fez esta pergunta tanto para agentes do governo federal, como para profissionais de mercado ligado ao setor sucroenergético. De forma bem simples, a resposta é que os custos de implantação de linhas de transmissão são altos e ninguém quer assumi-los. Será?
Pois o governo federal, por meio de sua Eletrobras Eletronuclear, se dispõe a ajudar empresas interessadas em investir em usinas de um tipo de energia combatido em boa parte do mundo: a nuclear.
Não há divulgação de como serão os subsídios para essas empresas, nem se eles existem. Mas o fato é de que no começo deste janeiro representantes da Eletrobras Eletronuclear acompanharam equipe de técnicos da estatal chinesa Chinese National Nuclear Corporation (CNNC) em visita ao estado do Sergipe.
É que Sergipe está na rota de regiões potenciais para abrigar futuros sítios de novas usinas nucleares.
“Temos convidado os potenciais fornecedores para essas viagens de reconhecimento de áreas candidatas, o que permite uma avaliação técnica mais profunda das potencialidades dos locais em estudo. Assim, a Westinghouse e a Atmea nos acompanharam em Minas e Pernambuco, e contaremos com outras empresas nas próximas viagens”, explica, em relato distribuído pela assessoria da Eletrobras, engenheiro Marcelo Gomes, chefe da Assessoria para Desenvolvimento de Novas Centrais Nucleares da estatal.
Durante a visita, foi exposto que Sergipe pode abrigar um complexo de usinas de energia nuclear, com capacidade de até seis unidades, na área do Baixo São Francisco. A construção deve ter capacidade de 7.200 megawatts (MW) de energia, movimentar um valor equivalente a US$ 5 bilhões para cada usina, podendo atingir até U$ 30 bilhões de investimento, com geração de, aproximadamente, 2 mil empregos.
Assim como o encontro em Sergipe, visitas similares já foram realizadas nos estados de Minas Gerais, Pernambuco e Alagoas.
A pergunta que segue exigindo resposta é: por que buscar investidores para fincar usinas reconhecidamente polêmicas, combatidas mundialmente, enquanto um oceano potencial de energia elétrica, existente no entorno das 400 usinas de cana-de-açúcar do País, segue de lado?
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