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Carro híbrido flex e a hidrogênio são as tendências para o país, segundo a EPE

Confira entrevista com diretor da empresa, José Mauro Ferreira Coelho

Fonte: Gerência Comunicação Siamig
Fonte: Gerência Comunicação Siamig

O diretor de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), José Mauro Ferreira Coelho, participou como palestrante do Congresso Nacional de Bioenergia da UDOP, em Araçatuba (SP).

Em entrevista exclusiva ao Portal Siamig, ele abordou as tendências de mobilidade veicular no Brasil, o crescimento das fontes de energia  eólica e solar e os desafios da bioeletricidade para maior inserção na matriz de energia elétrica nacional.

Portal SIAMIG – Como o senhor vê a inserção dos biocombustíveis, em especial o etanol, dentro das novas tendências de mobilidade veicular?

José Mauro – A EPE aborda o problema da mobilidade veicular, fazendo uma análise da transição energética para uma economia de baixo carbono, em função da mudança climática, proveniente das emissões de gases do efeito estufa.

Um dos setores onde vemos maior alteração no uso da energia nos próximos anos é o de transporte, e vem a dúvida de como ficará o segmento de veículos leves no Brasil, diante da forte tendência no mundo da eletrificação.

Outro ponto analisado é a tendência de crescimento da demanda por energia no mundo e no Brasil, então, o desafio é de como atender essa demanda crescente em um cenário de mudança climática e restrição das emissões.

Uma das respostas é da maior utilização dos biocombustíveis na matriz de transportes do país e do aumento da eficiência dos veículos, já que há uma previsão de crescimento deste mercado.

Portal SIAMIG – …Mesmo num cenário de crise econômica pelo qual passa o país?

José Mauro – Falamos de um cenário até 2030, com a retomada do crescimento econômico, redução da taxa de desemprego a volta do crédito.

No auge das vendas de veículos no Brasil em 2012, foram comercializados cerca de 3,6 milhões de unidades, depois as vendas caíram para dois milhões em 2017 e 2,2 milhões em 2018, para este ano a previsão é de 2,5 milhões de unidades.

Mas a EPE faz projeções de uma comercialização de até 5 milhões de veículos em 2030, e isso não será difícil pois a indústria automotiva nacional já tem capacidade instalada para produzir esse volume de carros e a taxa de motorização no Brasil é ainda muito pequena, cerca de cinco habitantes/veículo, enquanto na Argentina são três habitantes/veículo.

Portal SIAMIG – Como o senhor vê a questão do avanço dos veículos híbridos e elétricos?

José Mauro – Quando a gente analisa o mercado de veículos leves no país, é muito pouco o licenciamento de híbridos, em torno de 0,15%, e ainda vemos muitos entraves para a entrada de veículos elétricos, como da bateria, o custo, a autonomia e a necessidade de infraestrutura de abastecimento.

O preço do híbrido e do elétrico é muito alto, bem acima de R$ 100 mil e com participação de apenas 4% das vendas do total comercializado no país.

Então, no curto prazo, o que prevemos é um aumento da eficiência dos motores dos carros leves, no médio prazo, a opção do carro híbrido flex fuel e, a longo prazo, os veículos a hidrogênio onde o combustível alternativo seria o etanol.

Nós acreditamos no avanço da eletrificação dos veículos no Brasil, mas com biocombustíveis, em especial o etanol, tendo em vista os   diferenciais competitivos que o país tem em relação aos outros países na mitigação das emissões e diminuição das importações de combustíveis fósseis.

Portal SIAMIG – E o RenovaBio…

José Mauro – Sem dúvida, o RenovaBio é importante para essa expansão da produção e oferta de etanol, acreditamos que o produto se tornará mais competitivo e ganhará da gasolina na participação de mercado. Como consequência isso vai levar a uma expansão do canavial e funcionamento de novas usinas, com previsão em 2030 do país chegar a uma oferta de 48 bilhões de litros de etanol, de forma sustentável e com previsibilidade.

Portal SIAMIG – Gostaria que o senhor falasse um pouco sobre as tendências também na área de energia elétrica, como fica a bioeletricidade?

José Mauro – Hoje temos no Brasil 369 usinas sucroenergéticas, 200 ou 54% comercializam energia elétrica, dessas, 60% fazem a venda, exclusivamente, no ambiente de contratação livre, 20% vendem no sistema regulado (através de leilões) e 20% nos dois ambientes.

Se analisamos a matriz elétrica brasileira, 5% é geração de energia a partir de biomassa ou 3,1 GWM e 4% de biomassa da cana (2,5 GWM).

O país está processando algo em torno de 608 milhões de toneladas de cana e as projeções mostram um processamento de mais de 800 milhões de toneladas de cana em 2030.

Isso dá algo em torno de 230 milhões de t de bagaço, fazendo com que a geração da biomassa da cana salte de 2,5 GWM para 7 GWM, equivalente a uma e meia usina de Belo Monte.

Se considerarmos a possibilidade de palha e ponta teríamos mais 11 GWM adicional, ou seja, um total de 18 GWM, permitindo uma utilização muito maior dessa energia na matriz elétrica.

Portal SIAMIG – Mas a gente nota é um crescimento grande da eólica e solar…

José Mauro – Atualmente, o país conta com uma inserção grande da eólica e do solar, mas são fontes intermitentes e para suprir essa intermitência teremos que ter alguma fonte de base que poderiam ser as hidrelétricas, porém, muitas são a fio de água e por isso sujeitas a regimes hídricos não favoráveis.

Caberia então às térmicas este papel que são a gás natural ou a biomassa e aí mais uma vez a importância da bioeletricidade.

Além das externalidades positivas dessa energia, com a ocorrência próxima ao consumidor, ter complementariedade com a escassez hídrica, menor emissão de gases do efeito estufa.

É importante avançar na eficiência, algum tempo atrás utilizava-se algo em torno de três toneladas de bagaço para produzir um metro cúbico de etanol e uma tonelada de açúcar, com o aumento da cogeração e das caldeiras, hoje se utiliza menos bagaço, em torno de duas toneladas para produzir a mesma quantidade de açúcar e etanol citada.

É preciso evoluir, também, no uso da palha e da ponta, que poderia resolver o problema da sazonalidade da geração elétrica da cana, com uma geração ao longo de todo o ano, o que tornaria este negócio mais viável.