Entre 2000 e 2009 cerca de 3 milhões de ha de cana-de-açúcar foram incorporados ao atual sistema de produção e estima-se que até 2020, mais 11 milhões de ha sejam necessários para atingir as projeções brasileiras de consumo e exportação de etanol. Mas a grande questão até o momento era saber até que ponto o cultivo de cana-de-açúcar em áreas que eram utilizadas para a pastagem, poderiam contribuir para o meio ambiente. A pesquisa “Estoques de carbono do solo na mudança do uso da terra para cultivo da cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil” publicada em junho deste ano na revista científica Nature Climate Change, provou os efeitos benéficos do cultivo canavieiro no país. Segundo o estudo, a canavicultura pode equilibrar ou até mesmo aumentar o processo de captura de carbono pelo solo, nessas áreas.
Então, não somente a utilização do etanol de cana-de-açúcar demonstra reduções de até 80% quando comparada ao uso de combustíveis fósseis, mas a pesquisa revela que dependendo das práticas de manejo adotadas, a substituição da pastagem pelo cultivo da cana-de-açúcar enriquece a estrutura física do solo. “Isso por promover a sua melhor agregação, resultando em maior porosidade, uma maior infiltração e armazenamento de água”, revela a pesquisa.
O estudo foi realizado por pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/Usp) em conjunto com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/Usp). O trabalho contou ainda com pesquisadores do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), do Institut de Recherche pour le Développement, na França, e da Harvard University, da Colorado State University e do Shell Technology Centre Houston, nos Estados Unidos.
Carlos Cerri, coordenador do projeto e pesquisador do Cena, afirma que o balanço de carbono do solo de áreas de pastagem convertidas para o cultivo da cana-de-açúcar não é tão negativo quanto se estimava. “Com o passar dos anos, o solo de uma área de pastagem tem um estoque de carbono cujo volume não varia muito. Mas o preparo desse tipo de solo para cultivo de cana, faz com que parte do carbono estocado seja emitida para a atmosfera na forma de dióxido de carbono (CO2).Entretanto, dependendo do tipo de manejo, a introdução da cana em áreas de pastagem pode compensar ou até mesmo aumentar o estoque de carbono inicial do solo quando a matéria orgânica e os resíduos da planta penetram na terra”, lembra.