Júlio Maria Borges*
Produzir para ter prejuízo, só por falta de opção.
E é isto que acontece no mundo açucareiro nos últimos três anos, exceto no Brasil.
E porque esta diferença?
A flexibilidade na produção O Brasil é o único Pais no mundo açucareiro que investiu em flexibilidade relevante de produção de açúcar e etanol, utilizando-se da cana…
Produzir para ter prejuízo, só por falta de opção.
E é isto que acontece no mundo açucareiro nos últimos três anos, exceto no Brasil. E porque esta diferença?
A flexibilidade na produção
O Brasil é o único Pais no mundo açucareiro que investiu em flexibilidade relevante de produção de açúcar e etanol, utilizando-se da cana disponível para moagem.
Este investimento se deu com recursos do Governo Federal, nas décadas de 1970 e 1980, e com recursos próprios das usinas, principalmente aquelas do Centro-Sul.
Os recursos governamentais das décadas de 1970 e 1980 foram motivados por razões estratégicas.
Isso numa época onde cerca de 80% do petróleo consumido no País era importado.
A situação comprometia seriamente nosso Balanço de Pagamentos, e a geopolítica do petróleo recomendava menos dependência de importações.
Os recursos privados foram motivados por ocasião da liberalização do setor do controle do IAA (Instituto do Açúcar e Álcool) na década de 1990.
Nesta ocasião o Brasil era o País mais competitivo do mundo na produção de açúcar, com grande vantagem sobre os demais concorrentes.
A busca do lucro nas exportações privatizadas de açúcar foram a razão dos investimentos em fabricação de açúcar por parte das destilarias autônomas, produtoras exclusivas de etanol.
Isto é o que o prof. Delfim Netto chama de “ instinto animal” do empresário.
Em resumo: as usinas de açúcar existentes na década de 1970 investiram na produção de álcool e as destilarias autônomas de etanol, criadas na década de 1980, investiram na produção de açúcar na década de 1990.
E o Brasil canavieiro se transformou no maior produtor mundial de açúcar e no maior produtor mundial de etanol de cana-de-açúcar.
Benefícios econômicos da flexibilidade na produção
O exemplo abaixo considera a safra atual 2019/20 e custos médios de produção e comercialização no Centro-Sul do Brasil.
A exportação de açúcar VHP (açúcar bruto que precisa ser refinado para o consumo humano) deve gerar um preço líquido ligeiramente inferior às despesas + depreciação (D+D) de produção e comercialização.
Ou seja, os juros de empréstimos e juros sobre o capital próprio não são remunerados.
Já a produção de etanol hidratado, usado no carro flex, deve cobrir o custo D+D e sobrar um ganho de 11%-12% sobre o preço líquido.
Para o negócio de commodities esta diferença de resultados é expressiva.
E porque o mundo açucareiro não adota esta flexibilidade?
Desde meados dos anos 1980 a Copersucar, demais produtores e Governo Federal vêm informando ao mundo açucareiro sobre as vantagem da flexibilidade açúcar – etanol. E nada de relevante aconteceu até então. Porquê?
O setor de petróleo fica incomodado com o uso do etanol combustível, e isto é uma barreira.
E neste momento este incômodo aumentou, tendo em vista que a demanda de petróleo mostra crescimento tímido e a sua oferta é crescente.
No período 2008-2018 o PIB mundial cresceu 28% e a demanda de petróleo aumentou 16%.
Além disso, a produção de açúcar de cana é uma lavoura protegida pelos Governos em muitos países . Isto por razões sócio-políticas.
Ou seja, preços baixos de açúcar no mercado externo não são sentidos diretamente pelos produtores em mercados protegidos, o que reduz o estímulo para a busca de flexibilidade na produção.
*Sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento
Site: www.jobeconomia.com.br
Email: [email protected]
Artigo originalmente postado no blog Canal da Cana