O cultivo da cana-de-açúcar é a cultura que apresenta maior área irrigada no País, considerando o setor agrícola. Para tanto, o Instituto Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria estadual de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, divulga orientações sobre o tema.
A irrigação na cultura da cana pode ser utilizada com diferentes enfoques.
São eles: a irrigação de salvamento, deficitária, complementar às chuvas e plena.
A maior área irrigada de cana é para fins de irrigação de salvamento.
Assim, trata-se de grandes áreas com aplicação de pequenas lâminas de irrigação.
Isto representa um baixo consumo de água por unidade de área.
Apesar de tratar-se de pequenas lâminas de irrigação estas são relevantes.
Isso porque são aplicadas em épocas críticas para favorecer a rebrota da cana após o corte.
E, com isto, garantem o estabelecimento do canavial com boa população de plantas para o ciclo seguinte.
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Irrigação na cana: vantagens
No contexto da agricultura irrigada é relevante considerar que cerca de 90% da água consumida pelas plantas retorna para a atmosfera, de forma limpa, por vapor devido à transpiração das plantas.
A pesquisadora do IAC, Regina Célia de Matos Pires, destaca que entre as vantagens da irrigação para a canavicultura estão:
1 – o aumento de produtividade e longevidade do canavial,
2 – segurança de produção relacionada ao déficit hídrico,
3 – possibilidade de melhoria dos atributos qualitativos e
4 – aplicação de vinhaça.
“Além disso, o uso da irrigação com águas residuárias ou não favorecem o planejamento para plantio e colheita e também promovem a eficiência hídrica e melhor aproveitamento de nutrientes”, explica.
De acordo com a pesquisadora, o crescimento e a produção da cana são favorecidos por boa disponibilidade de radiação e temperatura, desde que com disponibilidade de água e de nutrientes no solo.
Por isso, a irrigação contribui positivamente no fornecimento de água às plantas.
Para a implementação da irrigação, o produtor deve estar atento ao planejamento.
Esse envolve a obtenção de outorga para uso da água, providências para disponibilização energética para o sistema de irrigação.
Envolve, também, análise técnica e financeira do projeto de irrigação associado à execução, programação da implantação, adequação de estruturas físicas e planejamento dos cenários futuros.
“Para superar os desafios, o melhor é iniciar pelo planejamento para curto, médio e longo prazos”, orienta Regina.
Devem ser considerados também os aspectos do solo, incluindo a caracterização química e físico-hídrica do perfil.
Essa ação auxiliará na obtenção de sucesso pela aplicação da irrigação pois possibilita a realização de práticas prévias à implantação da cultura e da irrigação.
Isso evita impedimentos físicos do solo, como a compactação
Bem como restrições ao desenvolvimento radicular devido presença de alumínio no solo e promover o uso racional da água.
Deve ser considerado também o manejo da palhada e os atributos relacionados à microbiologia.
No Brasil houve um aumento de 32% na adoção por pivôs centrais desde 2006.
Esses dados foram publicados pela Agência Nacional de Águas (ANA) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“O aumento no uso dos pivôs está associado às vantagens na adoção, em ganho de produtividade e longevidade da cultura, características do equipamento e viabilidade econômica e financeira alcançada”, diz a pesquisadora do IAC.
A estimativa da produção nacional de cana para 2019/2020 é de aproximadamente 615,98 milhões de toneladas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Dessa maneira, haverá uma redução de 0,7% em relação ao resultado da safra anterior.
Regina acredita que a adoção da irrigação com manejo de água adequado associado ao manejo varietal e agrícola contribuirá para o aumento de produtividade, e, assim promover verticalização da produção.
“É importante ressaltar que a irrigação deve estar associada a um conjunto de práticas agronômicas adequadas, como manejo varietal, do solo e da palhada, correção de acidez do solo, plantio, nutrição, práticas fitossanitárias e controle do mato”, afirma a pesquisadora.
Atualmente, vários aspectos têm sido abordados em relação às pesquisas com enfoque em cana irrigada.
Dentre eles, destacam-se a resposta varietal à irrigação de salvamento, deficitária, complementar às chuvas ou plena.
Outro destaque é a adoção de Mudas Pré-Brotadas, o manejo da água no plantio e na brotação.
E, também, o consumo hídrico da cultura, as estratégias de manejo que contribuem para qualidade no estádio de maturação da cana.
Ainda são objetos de estudos, a adubação e a fertirrigação adequadas para lavoura de cana irrigada, manejo para promoção de eficiência dos recursos hídricos, armazenamento de água no solo e crescimento radicular da cana.
“O uso de vinhaça e água residuária, os estudos de demanda climática com vistas ao planejamento para as áreas irrigadas, o uso de irrigação deficitária e seus efeitos na irrigação da cana, os sistemas de manejo do solo para promover melhor aproveitamento da água também estão na programação científica envolvendo essa temática”, completa a pesquisadora do IAC.
Variedades IAC
As variedades de cana-de-açúcar desenvolvidas pelo IAC têm sido avaliadas em ambientes e regiões diversas do Brasil.
E também sob diferentes modelos de manejo fitotécnico.
Dentre esses manejos, há ensaios que utilizam a técnica da irrigação, normalmente deficitária, e que nos permite caracteriza-las em relação a “responsividade varietal” a irrigação ou ambientes superiores.
Dentre essas as de grande destaque são:
a) IACSP95-5094
b) IACSP95-5000
c) IAC91-1099
d) IACSP01-3127
e) IACCTC05-8069
f) IACCTC07-8008
Outras variedades foram identificadas como adaptadas as condições de deficiência hídrica, trazendo a perspectiva de otimizar a produtividade nas áreas secas, antes ocupadas por pastagens. São elas:
a) IACSP01-5503
b) IACSP97-4039
c) IACCTC07-8008
Todas essas variedades apresentam perfil moderno, são adaptadas ao plantio e a colheita mecânica, atendendo à região originalmente ocupada pelo Cerrado.
Com conteúdo de Mônica Galdino, da Assessoria do IAC.