Agricultores familiares do assentamento Curralinho, no município de Paulista, no Sertão paraibano, a cerca de 410 quilômetros de João Pessoa (PB), reativaram, em sistema de mutirão, um engenho de cana-de-açúcar onde se produz rapadura, mel de engenho e até alfenim (doce de açúcar branco e consistente, comumente feito em formato de flores, animais, entre outros).
A reativação tem apoio da Superintendência Regional do Incra na Paraíba (Incra/PB).
A retomada da produção do antigo engenho só foi possível graças à atuação da Central das Associações dos Assentamentos do Alto Sertão Paraibano (Caaasp) – entidade contratada pelo Incra para executar serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) em 33 assentamentos da reforma agrária no estado, beneficiando 1,1 mil famílias assentadas.
Em 2012, a entidade identificou que o grande sonho dos assentados era reestruturar o engenho para retomar a moagem da cana-de-açúcar.
A Caaasp reuniu as famílias e elaborou um projeto para a reforma do local no valor de R$ 10 mil, transformando a área do antigo engenho em uma Unidade Demonstrativa (UD) de Beneficiamento de Cana-de-Açúcar. As obras foram realizadas pelos próprios assentados, que trabalharam em regime de mutirão.
Processo
O processo de produção do Engenho Curralinho é completamente diferente daquele adotado na época do Brasil Colonial, quando os senhores de engenho utilizavam a mão de obra escrava de origem africana para fazer os trabalhos mais pesados do processamento da cana.
Com meios de produção socializados e justas relações de trabalho, a exploração desaparece e a reativação do engenho faz entrar em cena uma nova forma de reforçar a renda das 40 famílias do assentamento.
As diferenças começam já na colheita da cana-de-açúcar, que é regada a música e respeita a necessidade de descanso de cada trabalhador, que pode parar o trabalho sempre que desejar. Não existem fiscais, nem capatazes. O menor valor pago como diária para o assentado que participar do corte da cana é de R$ 90.
Os assentados interessados na moagem podem plantar a quantidade de cana-de-açúcar que quiserem e utilizar o engenho pelo período necessário para moer toda a cana cortada. Caso o assentado não queira moer a produção, pode vendê-la a outro que esteja responsável pela moagem do engenho naquele período. Cada dia de moagem no Engenho Curralinho envolve cerca de 20 trabalhadores.