Praticamente seca em decorrência da estiagem recorde, a área de recarga do aquífero Guarani, em Ribeirão Preto, deve voltar ao normal apenas daqui a quatro anos.
A estimativa é do CBH-Pardo (Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo).
A lagoa do Saibro, na zona leste, já rebaixou pelo menos dez metros, segundo o químico Paulo Finotti, vice-presidente do comitê.
A área é responsável por absorver a água da chuva, que vai até o lençol freático, onde está o aquífero.
O manancial subterrâneo abastece toda a cidade.
De acordo com Carlos Alencastre, diretor do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), a consequência desta seca será percebida ao longo dos anos.
“De imediato, a população não irá sentir os efeitos porque é subterrâneo”, afirmou.
Segundo ele, é necessário que o município já comece a captar água do rio Pardo.
Para Finotti, Ribeirão entra num processo de “contenção”. “Sem recarga, é preciso reduzir o consumo de água imediatamente.”
Dados do Daerp (Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto) apontam que o consumo teve alta de 8% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2013.
Foram 28,7 bilhões de litros neste ano, ante os 26,7 bilhões no ano passado.
O consumo médio diário por cada habitante, segundo a autarquia, é de 256 litros –mais que o dobro do recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que é de 120 litros.
Entretanto, segundo Finotti, é preciso um “choque de gestão” na prefeitura. “A perda de água na rede é muito grande.”
O governo calcula a perda em 40%. Ou seja: quase metade da água é desperdiçada pelo próprio município.
Para agravar a situação, a área do Saibro e sua margem estão se tornando alvo de despejo irregular de lixo.
A Folha esteve no local nesta segunda-feira (25) e encontrou jogados sacos plásticos, garrafas pet, embalagens e até um sofá.
Os objetos foram encontrados 14 dias depois de a prefeitura ter feito uma limpeza na área e retirado cerca de 500 quilos de materiais.
Sem planejamento
Apesar da estiagem prolongada, a crise no abastecimento é resultado da falta de planejamento. Como exemplo, o Daee aponta Tambaú, onde foi decretado estado de calamidade pública no dia 19.
Nesta segunda, técnicos do departamento estiveram na cidade para iniciar o processo de outorga de novas fontes de abastecimento.
Entre elas estão o rio Clarinho e o córrego do Macuco, ambos de forma emergencial.
(Fonte: Folha de S. Paulo)