O uso do álcool nos motores de combustão interna (ciclo Otto) data do final do século XIX, mas não foi adiante em decorrência das crescentes descobertas de reservas de petróleo e o desenvolvimento das técnicas de exploração e refino que resultaram em preços baixos para os combustíveis líquidos.
No Brasil, aconteceram diversas tentativas da indústria do açúcar e do álcool para incentivar o uso do álcool como combustível automotivo e há registro da então chamada Estação Experimental de Combustíveis e Minérios ter feito experiências, ao final dos anos 1920, com motores a álcool testados num Ford de quatro cilindros.
A partir de 1931, sucessivos decretos determinaram a mistura do álcool anidro na gasolina, com um teor de álcool na “mistura carburante” que inicialmente era de 5% e chegou a 42% durante o período da II Guerra Mundial.
A instituição do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), em 1975, para incentivar o uso do álcool etílico como combustível automotivo, foi a resposta encontrada pelo do Governo para minorar os efeitos da primeira crise mundial do petróleo sobre a economia nacional. Crise iniciada dois anos antes pela forte elevação de preços imposta pelos países produtores organizados em cartel, a OPEP.
Com o segundo choque do petróleo, em 1979, através de acordos com a indústria automobilística e as destilarias de álcool anexas às usinas de açúcar, surgiu grande número de destilarias autônomas. Essas destilarias são a fonte de produção do álcool hidratado.
No caso das destilarias anexas, a oferta de álcool pode oscilar em função do preço alcançado pelo açúcar no mercado internacional. O açúcar em alta reduz a oferta de álcool. Tal oscilação não acontece nas destilarias de álcool direto que garantem oferta mais regular, excetuado o efeito das variações climáticas sobre os canaviais.
Essa distinção é importante porque na década de 1990, com o forte crescimento das exportações de açúcar estimulado pelo preço no mercado internacional, houve escassez interna, que comprometeu a confiabilidade do Proálcool. A recuperação surgiu por volta de 2003, com a introdução no mercado doméstico do automóvel flex fuel cuja tecnologia incorpora aos motores de combustão interna a técnica dos computadores. Nessa inovação que poderíamos chamar de incremental, o motor bicombustível permite o uso da gasolina C com o álcool hidratado, em proporções a priori variáveis, dando flexibilidade de escolha ao usuário de combinações intermediárias entre, gasolina e álcool.
Nas possíveis combinações, o preço para o usuário final leva em conta a diferença de poder calorífico (kcal/m3) entre o álcool e a gasolina. É da diferença de rendimento traduzida em quilômetros rodados que surge o critério que estabelece que o preço do álcool no posto de serviço deve corresponder a aproximadamente 70% do preço da gasolina.
Nos dias atuais, a agroindústria do açúcar e do álcool está em regime de stress. As dificuldades financeiras são, em parte, devidas a fatores climáticos que explicam porque entre a safra 2010/2011 e a safra 2011/2012 houve, em ton/ha uma queda de 8,4% na produção de cana e uma perda de 11,8% em produtividade, medida em kg/ha. A menor produção de etanol foi compensada pela importação de 1.150 milhões de litros em 2011, 545 milhões em 2012 e 120 milhões em 2013. Ao lado do fator clima, a retirada da incidência da CIDE, Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico sobre a importação alterou a relação de preços relativos entre a gasolina e o etanol, reduzindo a competitividade do etanol. Mas isso não é tudo. A contenção do preço da gasolina para não impactar a taxa de inflação também comprometeu a relação de preços etanol/gasolina.
Na realidade, as vicissitudes do setor sucroalcooleiro, no que tange ao etanol, estão na falta de uma política de longo prazo que, entre outros aspectos, deveria incorporar o incentivo à bioeletricidade. No dia de hoje, em que por força de condições climáticas adversas, o setor elétrico opera no limite da sua capacidade, não custa lembrar que as usinas e destilarias são autossuficientes em termos de energia e que o uso crescente dos excedentes de bagaço e palha como matéria prima para as termoelétricas tem efeito positivo sobre a rentabilidade da agroindústria do açúcar e do álcool.