Mercado

Açúcar e álcool sobem com atraso na colheita de cana

As chuvas sobre os canaviais do Centro-Sul do país, desde maio, têm dado pouca trégua para que as usinas intensifiquem a colheita da nova safra, a 2004/05. Os reflexos nesta primeira semana de junho são evidentes nos preços, sobretudo do açúcar, que acumulam valorização de 12% em uma semana, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). As cotações do álcool combustível (anidro e hidratado) até ensaiaram recuo na semana passada, mas continuam firmes no início desta semana, com valorização de 7,5% nos últimos 10 dias.

Com o atraso na colheita, provocado pelas chuvas, as usinas desovaram seus estoques de açúcar, em torno de 1 milhão de toneladas, e de álcool, cerca de 1 bilhão de litros, durante o mês passado. Agora, negociam maiores prazos com seus fornecedores para garantir a entrega. Boa parte das exportações de açúcar no mês de maio foi realizada com os volumes de açúcar estocado. “Os estoques de passagem estão praticamente zerados”, disse Júlio Maria Martins Borges, diretor da Job Economia e Planejamento. As indústrias de alimentos e bebidas do país estão mais cautelosas, afirmou Martins Borges. “Elas compram o produto para o giro rápido, sem fazer estoque, na expectativa de que a safra nova intensifique e exerça pressão sobre os preços”, observou.

A estratégia para o álcool não é diferente. As distribuidoras compram para repor seus estoques na semana. Muitas usinas negociam o álcool, mas combinam a entrega do álcool para os próximos 10 ou 15 dias, na expectativa que a safra avance, de acordo com uma fonte do mercado. “As empresas precisam fazer caixa para as contas do início do mês.”

O preço médio do álcool anidro fechou ontem a R$ 0,66, com pico de R$ 0,70. A cotação média do hidratado ficou em R$ 0,65 (sem impostos) ao longo do dia, de acordo com levantamento da Job e Nova Fase Corretora. Na semana passada, o índice semanal Cepea/Esalq para o anidro ficou em R$ 0,63 e a R$ 0,54 para o álcool hidratado. Nas bombas, as distribuidoras já fizeram reajustes.

Os recentes aumentos do açúcar, que registram valorização ininterruptas desde o dia 19 de maio, não significam necessariamente faturamento muito além do projetado pelas usinas. A falta da matéria-prima dá pouca mobilidade para que as usinas lucrem acima do esperado, considerando que tradicionalmente o mês de maio é de baixos preços em razão da entrada da safra.

A expectativa é de que o clima chuvoso dê trégua para os próximos dias em algumas regiões do Centro-Sul. Contudo, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as regiões de Piracicaba e Araçatuba ainda devem receber chuvas no final de semana. As previsões também são de fortes chuvas no Estado do Paraná a partir de quarta-feira.

“A pressão sobre os preços do álcool também ocorre por conta do aumento da demanda pelo combustível, que está mais barato que a gasolina”, disse Ivan Bueno, diretor da Nova Fase.

Apesar do atraso da colheita, a produtividade da cana não deverá ser afetada, segundo o relatório da International Sugar Organization (ISO). A ISO mantém as previsões de aumento das exportações brasileiras de açúcar em 16,2 milhões de toneladas, baseadas nos dados da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica), volume 15% acima da safra anterior. Para a entidade, o Brasil deverá se manter competitivo também em razão do dólar valorizado.

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