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Açúcar e álcool: crescem oferta e custos; caem preços

A região Centro-Sul – responsável por 80% da produção nacional de açúcar e álcool do País – deverá produzir 287,98 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra deste ano e de 2004. O volume é 6,54% superior ao do período anterior e está 2% acima da primeira estimativa divulgada em março pela União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). O aumento de oferta já preocupa os produtores que enfrentam a complicada equação de alta dos custos, baixa remuneração e aceleração da queda dos preços.

Segundo o economista e consultor da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, os produtores mais capitalizados do Centro-Sul podem esperar um pouco mais para vender os seus produtos em melhores condições. Os que vivem em situação contrária acabam fechando negócios independentemente dos preços pois nesse início de safra têm maior necessidade de fazer caixa para honrar compromissos financeiros. “Esses não terão rentabilidade e já estão operando no vermelho”, explica o consultor.

Açúcar cristal e álcool mais baratos

Uma saca de 50 quilos de açúcar cristal que custava R$ 44,66 no início de fevereiro passou a valer R$ 39,56 no começo de abril e despencou para R$ 25,98 no último dia 13. No mesmo período o litro do álcool anidro – adicionado à gasolina – caiu de R$ 1,10779 para R$ 0,99880 e depois para R$ 0,65199.

Com o álcool hidratado o processo foi o mesmo. Da primeira semana de fevereiro ao dia 4 de abril o preço por litro pago ao produtor no mercado interno diminuiu de R$ 0,88261 para R$ 083686 e chegou a R$ 0,58392 no dia 13 junho. Os números estão no acompanhamento semanal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Esalq/Cepea).

Com base nos cálculos recém-revistos pela Unica devido, sobretudo, às alterações climáticas e aos primeiros números do início da safra em abril, a produção de açúcar ficará em 18,1 milhões de toneladas, o que significará uma queda de 3,62% em relação a 2002/2003 – essa redução será menor do que a prevista anteriormente de 8,36%. Quanto ao álcool não houve mudança de estimativas. Permanecem as expectativas de que a região produza 12,65 bilhões de litros, 13% a mais que no perído anterior.

Os produtores que agora enfrentam a queda dos preços ditada naturalmente pela lei da oferta e da procura, em maio deste ano já amargavam uma alta nos custos produtivos da ordem de 32%, em comparação com o mesmo mês do exercício anterior.

Visando maior equilíbrio do setor, lembrou o consultor, aporte de R$ 500 milhões para financiamento de estocagem de álcool foi aprovado na última quinta-feira pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O Centro-Sul terá R$ 430 milhões e o Norte-Nordeste, R$ 70 milhões. Os recursos estarão disponíveis a partir da próxima terça-feira.

A professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq/USP, Miriam Bacchi, reconhece a dificuldade dos produtores, mas afirmou que no momento não vem sendo observado nenhum indício de comportamento anormal no mercado de açúcar e álcool. A queda dos preços, conforme assegurou, é reflexo da maior oferta nesse início de safra da cana-de-açúcar do Centro-Sul. A exemplo do consultor da Unica, Miriam também destacou a necessidade de caixa nessa fase de pico da produtividade como um dos fatores de interferência na redução de preços.

Compromisso com governo será cumprido

Mesmo diante dos percalços enfrentados pelo setor sulcro-alcooleiro, os produtores, afirma Antonio de Padua Rodrigues, vão conseguir cumprir o compromisso assumido com o Governo federal de produzir 1,5 bilhão de litros de álcool a mais nesta safra para abastecer o mercado na entressafra. Parte dessa quantidade – 650 milhões de litros – já estava estocada em maio.

– Os produtores querem transmitir ao consumidor de álcool a segurança de que o produto não vai faltar e de que já foi superada aquela fase em que se produzia mais açúcar quando o preço estava mais remunerador que o álcool e vice-versa – garante Rodrigues.

A negociação fechada após risco de desabastecimento do produto já permitiu que fosse retomada em 1º de junho a adição de 25% de anidro na gasolina. Esse percentual que vigorava até janeiro deste ano caiu a 20% diante da ameaça de escassez.

O consultor da Unica avalia que o equilíbrio do setor sulcroalcooleiro seria alcançado caso o Brasil conseguisse abrir mercados internacionais em exportações de álcool para uso combustível. No ano passado o Brasil exportou pouco mais de 600 milhões de litros – deve manter o mesmo nível este ano -, mas essas exportações são destinadas às indústrias de perfumes, bebidas e outros segmentos. “Teríamos condições de exportar de 4 a 5 bilhões de litros por ano”, prevê Rodrigues.

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