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Açúcar bate recorde no mercado interno

Açúcar bate recorde no mercado interno

Desde o início da safra com uma produção elevada de açúcar bruto, as usinas que comercializam o açúcar cristal começaram apenas no último mês a ver vantagem em negociar sua oferta no país, já que até então o mercado externo vinha oferecendo uma remuneração mais atraente.

Na semana passada, o indicador Cepea/Esalq para o açúcar cristal em São Paulo atingiu R$ 100 a saca de 50 quilos, novo recorde histórico nominal. Na terça-feira, o indicador chegou a R$ 100,70 – alta de 31% desde o início da safra, em 1º de abril, e 36% mais que em 3 de novembro de 2015. Uma salto considerável, que já se refletiu na inflação. Com peso de 0,374 ponto percentual no IPCA de setembro, o açúcar cristal subiu 19,73% nos nove primeiros meses deste ano.

O mercado externo continua interessante, mas vem oferecendo uma rentabilidade menor que nos meses anteriores por causa da paulatina liquidação de posições dos fundos na bolsa de Nova York e da queda do dólar ante o real no último mês. Isso fez com que o preço do açúcar bruto para exportação, em reais, caísse 8,5% em três semanas, a R$ 1.610 por tonelada, segundo a Archer Consulting.

Dessa forma, o açúcar cristal vendido no mercado interno chegou a oferecer na semana passada uma vantagem de 13% sobre o açúcar demerara negociado na bolsa de Nova York, comparados os valores em que ambos chegariam no porto de Santos, conforme Alessandra Rosete, analista da S&P Global Platts.

Esse prêmio oferecido pelo mercado interno ante o externo supera o registrado nas últimas safras e está em torno de R$ 11,65 a saca, 4% acima da média do ciclo passado, de acordo com levantamento da consultoria FG/A.

Tal situação não passou despercebida por usinas e tradings. Uma delas foi a VA&E, especializada na comercialização de açúcar cristal. A trading aproveitou a arbitragem e direcionou ao mercado interno 10% de suas vendas de açúcar em outubro. “Essa é uma venda que costuma acontecer apenas na entressafra, entre janeiro e março”, afirmou Clovis Junqueira Franco, CEO da VA&E. Para ele, uma vantagem entre 5% e 10% no preço oferecido pelo mercado interno em relação ao externo já compensa.

Uma companhia que preferiu não ser identificada, mas que controla usinas em diferentes Estados e vem aumentando sua aposta na exportação de açúcar VHP nos últimos anos, arrefeceu esse foco no último mês e direcionou mais da metade de sua produção para o refino e venda ao mercado interno.

Entretanto, o volume de negócios de açúcar cristal no país não ocorre em grandes proporções, já que um aumento muito expressivo da oferta pode derrubar os preços e anular essa vantagem, observou Franco, da VA&E.

Nada, portanto, que possa abalar o ritmo de exportações de açúcar do Brasil, que vem batendo recordes e já alcançou 14,5 milhões de toneladas de açúcar bruto desde o início da safra até setembro, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Até porque a esmagadora maioria da produção no Brasil é do tipo VHP, vendido para as refinadoras fora do Brasil.

Essa recente vantagem do mercado interno reflete muito mais uma postura firme das usinas do que um aquecimento da demanda, que continua fraca no país, diz Franciele Rivero, analista da trading britânica Sopex. “Essa vantagem é [resultado] mais de arbitragem, não necessariamente está tendo uma demanda forte a ponto do preço subir. Isso não vai mudar muito com o país em recessão”.

A pouca demanda que aparece no país vem basicamente de compradores ligados ao comércio, uma vez que as indústrias já estão com aquisições contratadas desde o início do ano, com preços de compra fixados antecipadamente.

Mesmo assim, a perspectiva dos traders é que os preços do açúcar no mercado interno continuarão firmes nos próximos meses, já que as usinas do Centro-Sul vem progressivamente encerrando suas atividades desta safra.

Fonte: (Valor)

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