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Acordos prevêem cooperação nas áreas de etanol e petróleo

Às vésperas de disputar a reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a visita do primeiro-ministro da Índia, Manmohn Singh, para fazer um balanço – positivo – da política externa desenvolvida durante os quatro anos de seu governo. Segundo ele, a decisão de se aproximar dos emergentes contribuiu para mudar a “geografia econômica e comercial do mundo”.

“Ainda tem gente que acha que o Brasil deveria ficar apenas com os seus parceiros tradicionais, na sua relação privilegiada com os Estados Unidos e a União Européia, mas nós queremos sobretudo ser um país que olha para o planeta e vê a existência de muito mais países do que os países ricos”, disse Lula.

Se a declaração de Lula foi marcada por elogios ao seu governo, a do primeiro-ministro indiano serviu para elogiar o próprio presidente. Singh chamou Lula de “irmão e amigo”. “Admiramos a liderança que o presidente Lula exerce no mundo como um estadista”, disse.

Índia e Brasil assinaram ontem oito acordos de cooperação, entre eles para a produção de etanol e petróleo. O acordo prevê a participação de empresas indianas na exploração de petróleo no Brasil e a transferência de tecnologia para a produção de etanol e outros combustíveis alternativos entre os dois países.

Lula e Singh pediram ainda uma reforma imediata no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), com a inclusão de uma cadeira para cada um dos países.

“Nenhuma reforma da ONU estará completa sem uma ampliação do Conselho de Segurança que inclua países em desenvolvimento como membros permanentes”, disse Lula.

Pela manhã, ministros e empresários da Índia e da África do Sul participaram de encontro na Confederação Nacional da Indústria (CNI). O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, reforçou o lobby pela exportação do etanol, apontado por ele como a saída para os países sobreviverem às sucessivas altas do petróleo.

“Há uma preocupação permanente com o preço do petróleo e nós podemos passar a tecnologia que vocês precisam para superar esse período de altos preços, criar empregos e melhorar o meio-ambiente”, disse ele, que passou a tarde apresentando a ministros dos dois países carros flex fuel. A expectativa do governo é, segundo Furlan, triplicar o comércio com a Índia nos próximos três anos e duplicar o comércio com a África do Sul neste mesmo período.

No ano passado, o intercâmbio entre Brasil e China foi de US$ 2,3 bilhões, com superávit de US$ 65,9 milhões para os indianos. Entre Brasil e África do Sul, as negociações somaram US$ 1,7 bilhão, com saldo de US$ 1 bilhão para os brasileiros. As vendas para os dois países representam apenas 2,6% do total de exportações do Brasil.

“Temos capacidade para aumentar esse percentual para mais de 4% no próximo governo”, destacou Furlan. O ministro disse ainda apostar em um acordo de livre comércio entre o Mercosul, Índia e África do Sul no futuro. “Os presidentes desses países estão discutindo a questão já a algum tempo e o acordo já está muito adiantado.”

Lula e o primeiro-ministro indiano se reúnem hoje com o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, durante a 1 Cúpula Índia-Brasil-África do Sul (Ibas). Está prevista assinatura de acordos e encontro com empresários dos três países.

Pontos em comum

Brasil, Índia e África do Sul fizeram recentemente reformas institucionais importantes para facilitar os investimentos, abriram seus mercados à concorrência externa e avançaram nas políticas de estabilização da economia. Entretanto, precisam ainda fazer muito mais para ampliar sua participação no mercado global e atrair capitais, conclui o documento “O Ambiente para Investimentos no Brasil, Índia na África do Sul”, apresentado ontem durante o Ibas.

Conforme o estudo do Banco Mundial, a cidade de São Paulo está em 119 lugar no ranking de locais favoráveis aos negócios. A cidade indiana de Mumbai está em 116 lugar, e Johannesburgo, na África do Sul, aparece na 28 colocação. Mesmo assim, fica longe de outros países emergentes como Lituânia, Tailândia, Malásia e Chile.

De acordo com executivos e gerentes de empresas dos três países, as cinco principais dificuldades no Brasil são carga tributária (84%), instabilidade macroeconômica (83%), incerteza política (76%), custo do financiamento (75%) e taxas de administração (66%).

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