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Acesso aos mercados é alvo principal dos EUA

Perguntem a um ladrão por que assalta bancos e ele responderá que é lá que está o dinheiro. É por isso que o acesso a mercados é o pilar mais importante das negociações sobre agricultura, disse ontem o representante de Comércio dos Estados Unidos, Robert Portman. Horas antes, haviam insistido no mesmo ponto o secretário americano de Agricultura, Mike Johanns, e o presidente da American Farm Bureau Federation, Bob Stallman.

Segundo o Banco Mundial, 63% dos ganhos da liberalização comercial virão da agricultura e 93% dos ganhos do comércio agrícola, do maior acesso a mercados, lembraram Portman e Johanns.

Os outros dois pilares da negociação agrícola são a reforma das políticas de apoio interno e o fim dos subsídios à exportação. Esse terceiro componente foi acertado em julho de 2004, mas ainda falta fixar o prazo para o seu cumprimento. Estados Unidos, Reino Unido e o Grupo dos 20, que inclui o Brasil, propuseram 2010.

Os países que resolveram jogar no ataque, disputando espaço no comércio mundial, dão prioridade ao acesso a mercados. É o caso dos Estados. Suas exportações agrícolas poderão crescer 20% se a proposta americana prevalecer na Rodada Doha, disse Stallman. No ano passado, os exportadores americanos faturaram US$ 78,4 bilhões com produtos agrícolas.

Os países de rápido crescimento da Bacia do Pacífico são os mercados mais promissores para a expansão das exportações dos Estados Unidos, segundo Stallman, e os produtos líderes serão, provavelmente, soja, carnes e milho. Também as vendas do Brasil deverão crescer, segundo presidente da federação, porque o País é muito competitivo em vários produtos.

A exportação é o caminho para o crescimento agrícola americano, disse Stallman, numa palestra para cerca de 150 representantes do agronegócio, reunidos na U.S. Agricultural Conference (Agtrade). O comércio exterior é, claramente, a linha da vida para nossa agricultura, disse.

A população americana está estagnada e a expansão do mercado ocorrerá no exterior (95% dos consumidores de alimentos, segundo um relatório do Banco Mundial, vivem fora dos Estados Unidos). São dados como esses que fundamentam a prioridade do governo americano ao acesso a mercados.

A federação presidida por Stallman, um organismo do setor privado, sustenta o mesmo ponto de vista. O comércio global é o fator chave da lucratividade da agricultura dos Estados Unidos, segundo estudos de especialistas mobilizados pela federação.

Isso justifica a maior agressividade da proposta americana para o corte de tarifas de importação. A União Européia (UE) ofereceu 47%, que cálculos do G-20 indicaram corresponder, de fato, a 39%. O G-20 propôs um plano de redução de 54%. Os Estados Unidos chegaram a 79%. Os europeus, portanto, estão muito mais propensos a manter o jogo defensivo.

Essa inclinação à estratégia ofensiva aproxima as diplomacias americana e brasileira, nesta fase das negociações sobre agricultura. Mas os brasileiros cobram dos americanos mudanças nas políticas de apoio interno e de crédito subsidiado à exportação, também causadoras de distorções no comércio global. Mas, neste momento, a prioridade explícita de ambos é pressionar a UE por mudanças mais substanciais em sua política agrícola.

Mas o acesso a mercados vai depender não só do corte de tarifas, mas também do número e do tratamento dos chamados produtos sensíveis. Se a seleção desses produtos corresponder a 1% das linhas tarifárias, os europeus poderão manter proteção especial para cerca de 22 categorias. Isso poderá diminuir muito os ganhos em acesso a mercados, a menos que a proteção para esses produtos seja limitada. Os negociadores brasileiros deverão apresentar propostas sobre esse ponto.

Não se tem falado muito sobre produtos sensíveis, no caso dos EUA, mas a hipótese não é descartável. Stallman parece se esforçar para responder sobre o tema, mas admite que pode haver uma lista. Se houver, poderá incluir açúcar, amendoim e laticínios. R.K.

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