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ABN intensifica negociação de carbono

O ABN AMRO Real está de olho no mercado de créditos de carbono do Brasil. E não apenas como intermediador de negócios – como já faz há algum tempo através da matriz holandesa -, mas como financiador e assessor operacional direto de projetos. Referência em ações sócio-ambientais, o banco quer agora se tornar líder em um mercado que, acredita, irá além de 2012, quando termina o Protocolo de Kyoto.

O mais claro sinal disso foi dado ontem, com o acerto da segunda fase de um projeto com a Usina Serradinho (SP), do Grupo Balbo, envolvendo a negociação de 30 mil toneladas de CO2. A usina de álcool e açúcar faz cogeração com o bagaço da cana e, por diminuir o consumo de energia elétrica com a adoção de uma energia limpa, está apta a vender créditos de carbono no mercado internacional. Por convenção, cada tonelada de CO2 equivalente que deixou de ser emitido corresponde a um crédito de carbono.

O banco já havia negociado 62 mil toneladas de CO2 com a usina no ano passado. Negociar, nesse caso, significou a antecipação de 665 mil euros para a Serradinho fazer as adaptações necessárias da planta para a cogeração.

“A venda dos créditos de carbono no exterior ajuda a amortizar o financiamento, que vence em maio de 2008, além de gerar receita extra à usina”, disse ao Valor o holandês Maurik Jehee, superintendente para vendas de créditos de carbono do banco no Brasil. Segundo ele, no contrato firmado no ano passado a Serradinho obteve cerca de 13 euros por tonelada de carbono. Neste ano, com preços valorizados no mercado internacional, a tonelada de CO2 foi negociada a 14,30 euros.

Jehee fala com entusiasmo sobre esse novo nicho de mercado. A intenção do ABN Real, diz ele, é assumir um risco que outras instituições financeiras ainda não estão assumindo no Brasil. “É um risco porque não sabemos se o projeto vai desempenhar como estava previsto. Mas somos pioneiros e estamos nos preparando para ser líder nesse mercado”.

Até agora, os chamados projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) – dispositivo do Protocolo de Kyoto que permite aos países ricos compensarem sua própria poluição investindo em projetos limpos nos países em desenvolvimento – estão concentrados nas mãos das inúmeras consultorias surgidas para atender esse mercado. Em geral, são elas que financiam os projetos, quando necessário.

O que o ABN quer é ocupar esse espaço e ficar com o “pacote” inteiro : prospectar clientes, financiar seus projetos e assessorá-los tecnicamente. Para isso, conta com o seu amplo portfólio de clientes no país. “Estamos sendo muito procurados”, diz Jehee.

A primeira experiência do ABN Real em financiamento de projetos de carbono foi com os dois aterros sanitários de São Paulo – Bandeirantes, em Perus, e o São João, em São Mateus. Os aterros são administrados pela concessionária Biogás Energia.

Graças ao princípio básico de captura e queima do metano – o gás liberado pela decomposição do lixo -, o Bandeirantes deixou de jogar na atmosfera cerca de 1,8 milhão de toneladas de carbono. O aterro também utiliza parte dessa queima para geração de energia elétrica. “Ganha-se duas vezes: com os créditos e com geração de energia”, afirma Jehee, acrescentando que o projeto é uma referência mundial.

Numa segundo etapa, a Biogás se prepara para lançar em 5 de junho (dia internacional do meio ambiente) projeto similar no aterro São João. A expectativa é obter uma redução de 65 mil toneladas de carbono. Para bancar o projeto, o ABN financiou R$ 25 milhões em contrato de longo prazo – vencimento em 2012.

A venda desses créditos de carbono foi feita para o fundo alemão KFW, cujos principais acionistas são empresas européias. Em ambos os aterros, a receita é dividida meio-a-meio com a Prefeitura de São Paulo.

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