Mercado

A terra aqui é cara, não é lugar para amador

Formada em agronomia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Jaboticabal, Mônika Bergamaschi assumiu, no início de junho, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Em seu primeiro trabalho na área pública, Mônika impôs para si o desafio de melhorar a comunicação do agronegócio com a sociedade brasileira. “Precisamos mostrar a importância do campo naquilo que a cidade consome”, diz. Entre 1993 e 1996, Mônika trabalhou como analista de crédito do Banco Noroeste, onde, conta, teve a possibilidade de conhecer o Brasil. Em 1996, foi para a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), a convite do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, que foi seu professor. Lá trabalhou até assumir a secretaria.

Globo Rural – Durante a cerimônia de posse, a senhora mencionou algumas linhas de trabalho, como extensão rural e aumento de renda. Como pretende colocar isso em prática?

Mônika Bergamaschi – Eu tenho o viés do associativismo e acredito nisso. Então, penso que essa é a maneira de ajudar o pequeno e o médio. O Estado não pode prover tudo, mas pode induzir algumas coisas por meio de parceria. Esse é um ponto. Outro: se houver uma política de renda para o produtor rural, ele poderá enfrentar melhor as oscilações do mercado e permanecerá na terra. Acredito que a economia expulsa os pequenos que perderam a condição de sobreviver no campo. Mas, com uma política de seguro, a gente consegue protegê-los. Além disso, é preciso se modernizar. O agricultor, independentemente do tamanho, tem de investir, usar tecnologia e melhorar sua gestão. Tudo isso para obter uma boa produtividade. Uma outra questão é que, para os pequenos, a informação é vital. Eles precisam saber a melhor hora de comprar, de vender, como acessar um seguro e devem usar assistência técnica. Outra política que pretendemos disponibilizar aos pequenos é a oferta de recursos com juros baixos e prazos maiores.

GR – E qual é o perfil do agricultor paulista?

Mônika – A predominância no estado de São Paulo, de acordo com o Levantamento das Unidades de Produção Agropecuária (Lupa), que é feito pela secretaria, é de propriedades com tamanho médio de 63 hectares. No levantamento anterior, realizado há dez anos, a média era de 72 hectares. Essa queda reflete a divisão de propriedades entre famílias ou vendas. Agora, São Paulo é sem dúvida o estado mais desenvolvido do ponto de vista agrícola, mas, apesar disso, apresenta diferenças regionais que são muito significativas, de acordo com a cultura que é desenvolvida e também por questão de clima, solo, hidrografia, a proximidade com portos, entre outros fatores.

GR – Existe alguma região que seja mais desenvolvida?

Mônika – O polo do agronegócio de Ribeirão Preto, que compreende a região nordeste do estado. Nós sabemos como foi a dinâmica de ocupação dessa região porque fizemos um trabalho na época em que eu estava na Abag (de Ribeirão Preto). Metade da área agrícola dessa região está ocupada com cana-de-açúcar, mas também tem muito café de qualidade, tem muita laranja, fábricas de suco. Em Guaíra, há também as culturas irrigadas, pasto para gado de leite, plantio de eucalipto, um parque industrial de implementos agrícolas, além de importantes centros de pesquisa e extensão.

GR – Quais outras regiões ou culturas se destacam?

Mônika – A região de Bastos é muito importante na produção de ovos. Há também o Vale do Ribeira, que é uma área menos desenvolvida, devido a uma situação difícil de solo, mas que conta com uma enorme produção de bananas. São especificidades que devem ser avaliadas com muita atenção. É preciso ir ao lugar para definir o que será feito ali. A região de Piracicaba também é importantíssima na cana-de-açúcar, que é o carro-chefe do estado. Em segundo lugar está a venda de carne bovina. Compramos boi de outros estados, processamos aqui e vendemos carne tanto no mercado interno como externo.

GR – É um estado com muitos desafios. Existe algum que a senhora trate como prioridade?

Mônika – Sim, temos de continuar produzindo, mas com sustentabilidade. Isso significa manter a competitividade de maneira sustentável. A agricultura do estado, em geral, é sustentável, mas sempre dá para melhorar com o uso de novas tecnologias, por exemplo, insumos mais modernos, menos tóxicos, mas seletivos, mais fáceis de aplicar, ou seja, mais amigáveis ao meio ambiente. Nos fertilizantes também dá para avançar. Também é possível realizar controle de erosão, cuidar dos mananciais hídricos e reduzir o consumo de água. Para isso, o agricultor precisa de informação, mas também precisamos mostrar à sociedade que produzimos respeitando as leis ambientais.

GR – Quais são as culturas potenciais da próxima década?

Mônika – Existe espaço e mercado para o cultivo de cana, seringueira e eucalipto. A cana tem fundamentos de mercado excepcionais, em função do aumento da demanda por energia limpa, mas existem muitas áreas com solos não tão bons como o que a cana necessita e há ainda a questão do “apagão de madeira”: vamos precisar de madeira, e o eucalipto terá, com certeza, um valor crescente. Há também o café de alta qualidade. Na verdade, as terras aqui são muito caras, por isso São Paulo não é lugar para amador. Portanto, as culturas com mais potencial são aquelas com bons fundamentos de mercado. A fruticultura é outra atividade próspera, pois tem valor agregado. A caixa de uma fruta pode custar o mesmo que uma tonelada de cana.

GR – Da maneira como o Código Florestal foi aprovado na Câmara dos Deputados, o que o estado de São Paulo terá de fazer?

Mônika – São Paulo é de ocupação antiga, com fazendas centenárias. Por esse motivo, acho que o importante desse Código Florestal é que ele resgata o direito do agricultor na linha do tempo. Muita coisa foi feita no campo de acordo com a lei vigente à época, mas depois a lei mudou. No caso das áreas de proteção permanente (APPs), acho que a situação é mais delicada: algumas culturas estão em certas regiões há mais de 100 anos e não entendo que tipo de dano pode acontecer agora, mas há culturas que de fato podem gerar um risco.

GR – Existem outros pontos que a senhora destaca no novo Código Florestal?

Mônika – O Brasil deveria pensar na manutenção da real biodiversidade de parques e florestas, em vez de ficar opondo ambientalistas a ruralistas.Outra coisa importante é que o código prevê que a União e os estados legislarão juntos sobre o território. Isso é ótimo, porque São Paulo conhece melhor seu território. Na Amazônia, vivem 25 milhões de pessoas e quem está lá sabe o que é melhor para aquela área. Se a sociedade quer manter a floresta, deve pagar por serviços ambientais. Outro ponto é que o Código Florestal vale para 38% do território. Outros 4% são cidades, estradas, e 58% são terras indígenas, parques, áreas de preservação, áreas da União, onde está a diversidade. Todo mundo está discutindo os 38%, mas ninguém falou sobre o que vai ser desses 58%. Essa é a discussão importante.

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