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A revisão de uma cultura de 400 anos

Passados 14 anos, o consenso entre os usineiros e o poder público é que a produção de cana na região passa por uma revisão do atual modelo calcado há 400 anos na queima da cana e no corte manual. Para o presidente do Sindicato Fluminense dos Produtores de Açúcar e Álcool (Sindaaf), Geraldo Coutinho, a alavancagem do setor depende não só de financiamento estatal para a compra de máquinas, como de investimentos em irrigação. Ele ainda acrescenta a esses pleitos — que são históricos e se repetem desde a década de 80 — a concessão de subsídios para que os produtores adaptem a produção à colheita mecanizada.

— Ainda não conseguim os ter uma regularidade de plantio, uma vez que a maior parte da matéria-prima está nas mãos dos pequenos agricultores, que não têm segurança. Isso causa uma grande flutuação na oferta da cana. Sem volume, é difícil viabilizar qualquer projeto — explica Coutinho, que também é proprietário da Usina Paraíso.

Eduardo Crespo, que é presidente do Fundo de Desenvolvimento do Município de Campos (Fundecam), cujos recursos aportados são provenientes de royalties, faz coro que a economia canavieira não se sustenta sem o financiamento público. Ele cita ainda o Fundecana — uma linha de crédito ofertado pelo Fundecam —, que financiou R$10 milhões à usina Coagro e a parte da construção da Canabrava.

— É impossível colher cana em Campos sem a queima. A adaptação a essa realidade exige investimento em máquinas e tecnologia de plantio. Tradicionalmente, a cana é espaçada em 1,25 metro. Porém, para evitar que a colheitadeira faça manobras, é preciso que ela esteja a 1,50 metro e em lin has contínuas. Imagina isso em uma pequena propriedade, como é o caso de 60% das áreas de cultivo. Essas pessoas têm de ser capacitadas — afirma Crespo, que é um dos cooperados da Coagro. — É preciso garantia que o poder público vai fazer uma política de subvenção que proteja os produtores rurais.

O subsecretário de Agricultura e Pecuária do Estado do Rio, Alberto Moffati, acena com a possibilidade de concessão de incentivos fiscais:

— Existem projetos em análise, e entendemos como oportuno esse estímulo para a produção de etanol.

Para Moffati, a revitalização da economia sucroalcooleira passa por projetos de cogeração de energia:

— As usinas precisam ser mais eficientes, com uma quantidade maior de biomassa gerada. Sem isso, a rentabilidade fica baixa e não há como reinvestir o capital. Nessa concepção, poderíamos ter de quatro a cinco usinas na região, cada uma num raio de 25 quilômetros.

Eg resso da construção civil, o proprietário da Canabrava, Ludovico Giannattasio, pretende elevar sua produção de cana de 400 mil toneladas para 1,5 milhão, a partir da próximo safra, e gerar 30 megawatts/hora excedentes para comercialização.

— Isso vai aumentar nossas receitas em até 25% — diz Giannattasio, que pretende construir uma réplica da planta de sua usina de cogeração no município de Quissamã.

Geraldo Coutinho, porém, discorda que a cogeração represente o futuro. Ele também chama atenção para a produção de produtos de maior valor agregado, como os biossolventes elaborados por uma das empresas do grupo Paraíso, a H.C. Sucroquímica.

— A cogeração só é possível com a produção de mais de um milhão de toneladas de cana. Se não tivermos matéria-prima suficiente, como ocorre hoje, nenhum projeto se sustenta — diz Coutinho. — Ou revitalizamos o nosso parque agrícola. Ou então nos conformamos com essa pequenez das safras e saímos, gradativamente, da rota do açúca r e do álcool para produtos como os biossolventes, feitos à base de butanona e acetona.

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