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A questão energética

Durante o primeiro mês do ano o País recebeu um conjunto de boas novas, que estimula a idéia sobre um cenário favorável para o ambiente de negócios em 2006. Sobre as variáveis macroeconômicas já pudemos analisar as perspectivas em nosso ensaio anterior, de forma que nosso foco é agora o problema energético.

A realidade é que o abastecimento de petróleo e gás natural passa por um momento difícil desde que ficou clara a grande velocidade do ritmo de crescimento econômico dos países emergentes. A situação hoje é que o consumo aparente vem crescendo a uma taxa superior à produção. Entre os países emergentes, China e Índia, com taxas de crescimento do PIB superiores a 8% ao ano no último triênio, são consumidores vorazes de petróleo e de gás natural. Daí a expansão de preços que tem sido verificada de forma constante no mercado mundial dos últimos dois anos. Quando se recorda que o nível de consumo de combustível “per capita”desses dois países ainda está longe dos padrões que ocorrem nos países desenvolvidos, pode-se constatar que o problema energético será um fator de ameaça para a manutenção da taxa de crescimento da economia mundial. Este aspecto, aliás, esteve presente nas discussões do recémencerrado Fórum Econômico Mundial, em Davos.

Nesse sentido, existe um conjunto de questões que merecem uma análise mais detalhada. Só existe possibilidade de crescimento de produção, no curto prazo, na Arábia Saudita e na Rússia. Como esses dois países convivem com acentuados problemas internos, certamente a volatilidade dos preços apenas se acentua. E é preciso contar também com a possibilidade de interrupções de fornecimento, como a que se verificou no mês de janeiro em relação ao suprimento de gás natural russo à Europa.

Consumo da China e Índia ainda pode crescer muito mais

Também em outras regiões a instabilidade política ameaça a expansão do suprimento de energia: na África Ocidental, que tem mantido uma produção em expansão a taxas bem maiores que os produtores ligados à OPEP, os conflitos políticos e étnicos da Nigéria, por exemplo, ameaçaram bastante a produção durante o segundo semestre do ano passado.

Questões políticas relevantes também têm sido verificadas na América Latina, onde a Venezuela tem uma postura de atrito em relação a seu cliente mais importante, os Estados Unidos, e na Bolívia, onde se encontra pendente de regulamentação pelo novo governo a nova Lei dos Hidrocarbonetos, que ameaça os investimentos realizados pela Petrobras para a produção de gás natural. A volátil situação política do vizinho país é uma preocupação para o governo, tendo em vista o papel desempenhado na matriz energética brasileira pelo gás natural do gasoduto Brasil – Bolívia. Em conseqüência dos requisitos da demanda energética e considerando essa questão, está havendo uma antecipação da produção de gás natural na Bacia de Santos, que poderá reduzir nossa vulnerabilidade a partir de 2008.

Quanto ao suprimento de combustíveis líquidos, a situação brasileira é confortável. Além da anunciada autosuficiência em petróleo, o desenvolvimento da tecnologia de combustíveis flexíveis pela indústria automotiva provocou um grande crescimento na produção e consumo de álcool mais recentemente e espera-se que esse movimento continue. Ao mesmo tempo, a implantação de unidades produtoras de biodiesel também se acha em andamento e, ao contrário de trinta anos atrás, uma possível crise de abastecimento de combustíveis líquidos no mundo não apanharia o Brasil desprevenido. Assim, as preocupações devem ser focadas na questão da energia elétrica, onde o gás natural e a energia nuclear têm um papel importante a desempenhar.

Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos – Professor titular das Faculdades de Administração e Economia da Faap, vice-diretor da Faculdade de Administração da Faap, professor e diretor do Faap MBA

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