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A produção mundial de petróleo não aumentará mais, diz ex-número 2 do setor

É mesmo na cor negra que Sadad Al-Husseini enxerga o futuro do ouro negro. Afastado desde 2004 da vice-presidência da Aramco – a companhia petroleira nacional saudita, de longe a maior do mundo -, Al-Husseini apresentou, em 30 de outubro, um prognóstico a respeito do futuro da produção petroleira que chama a atenção por ser potencialmente catastrófico para a economia mundial. O seu veredicto atiça as preocupações, no momento em que os países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que estão reunidos neste sábado, 17, e domingo, 18 de novembro em Riad (capital da Arábia Saudita), tentam ao contrário tranqüilizar os ânimos.

Em Londres, diante de uma platéia de grandes executivos do petróleo que estavam reunidos por ocasião da Oil & Money Conference (Conferência sobre Petróleo e Dinheiro), o ponto de encontro o mais importante da indústria petrolífera mundial, Sadad Al-Husseini fez três afirmações carregadas de graves conseqüências. Segundo ele, a produção mundial de petróleo e de gás liquefeito vai estagnar por um período que se estenderá até por volta de 2020, antes de diminuir inexoravelmente; os números oficiais “exageram” as reservas planetárias em 300 bilhões de barris, ou seja, um quarto do total ainda explorável; esta estagnação implica num aumento mínimo do preço do barril de US$ 12 a cada ano, à medida que aumentará a diferença entre uma oferta estagnada e uma demanda sempre mais forte.

Sadad Al-Husseini, que obteve o seu doutorado em geologia em 1973, na universidade americana de Brown, e que esteve encarregado dos setores da exploração e da produção da Aramco de 1992 a 2004, retomou e aprofundou estas suas asserções, em entrevista ao Le Monde.fr.

Uma estagnação da produção, seguida por um declínio

A capacidade mundial de produção alcança atualmente 84 milhões de barris por dia (mb/d). Segundo a Agência Internacional da Energia (AIE), ela deverá atingir 116 mb/d daqui até 2030, de modo a conseguir atender à demanda cada vez mais forte das economias emergentes. Mas, para Sadad Al-Husseini, a produção mundial já alcançou o seu limite máximo porque um grande número de regiões petrolíferas já iniciou o seu declínio. As suas próprias projeções dão conta de um retrocesso espetacular: ele aposta numa produção inferior a 70 mb/d em 2030.

Ele justifica esta avaliação nos seguintes termos: “Vários países da Opep, como a Arábia Saudita, a Nigéria e Angola, anunciaram que acrescentarão 10 mb/d em capacidade nova de produção até 2014. Contudo, nem todos os países da Opep são capazes de fornecer o mesmo esforço. A Indonésia, o Irã e a Venezuela, por exemplo, vão ver a sua capacidade de produção diminuir em breve. Além disso, outros países como o Kuait, o Iraque e os Emirados Árabes Unidos não poderão fazer melhor do que manter a sua produção no mesmo nível, no melhor dos casos. Portanto, no total, a Opep [que dispõe de 75% das reservas planetárias] não tem condições para desenvolver capacidades de produção suplementares no decorrer da próxima década”.

Al-Husseini afirma que os campos petrolíferos gigantes do Golfo Pérsico viram as suas reservas diminuírem até ficarem vazios em 41%, em média. Ele prossegue a sua explicação: “Os aumentos dos preços da energia não criam novas oportunidades de produção, porque os novos recursos em petróleo e em gás natural são muito mais difíceis de encontrar e de desenvolver”.

Reservas “exageradas”

Segunda Sadad Al-Husseini, as reservas petrolíferas foram “exageradas” em 300 bilhões de barris. Os culpados por isso, segundo ele, são certas “companhias petrolíferas [ocidentais], a Agência Internacional da Energia e a administração americana (…) que exageraram cinicamente a capacidade de produção da Opep. Tratava-se de exercer uma pressão política sobre os países da Opep, de modo a permitir que companhias internacionais se implantassem em seus territórios”.

Além disso, o antigo vice-presidente da Aramco aponta também a culpa de determinados países parceiros da Arábia Saudita no âmbito da Opep, “que permitiram que circulassem estimativas especulativas [das suas reservas], as quais não se baseavam em nenhuma análise técnica, e cujas declarações a respeito das suas reservas comprovadas correspondem a decretos políticos”. “Nós sabemos de tudo isso”, prossegue, “porque [esses países] não tinham nenhum programa de exploração ou de desenvolvimento implantado, mas declaravam ainda assim a existência de reservas suplementares de um ano para outro”.

Seria então possível voltar a produzir avaliações mais “realistas”, segundo a sua própria expressão, da quantidade de petróleo que ainda permanece explorável? “Poucos países da Opep estão dispostos a fazer isso, em particular se isso tiver como resultado reduzir o montante das suas reservas de petróleo, em vez de aumentá-las!”.

Um aumento inexorável do preço do barril

Em conseqüência, Sadad Al-Husseini julga que o preço do petróleo não pode seguir outro caminho, a não ser continuar a aumentar. “A situação é análoga àquela de um reservatório de água que estaria sendo bombeado mais rapidamente do que ele está se enchendo”, resume. “Vale reconhecer que a especulação está na origem de determinados aumentos dos preços do petróleo”, concede Al-Husseini. “Contudo, a escalada lógica dos preços desde 2002 indica também que as extrações de petróleo são fundamentalmente limitadas”, conclui.

Os gráficos apresentados por Sadad Al-Husseini demonstram que haverá um encarecimento futuro dos preços do petróleo bruto em US$ 12 por ano, pelo menos, toda vez que a diferença entre a oferta e a demanda aumentar em 1 mb/d. Em 2006, segundo dados da companhia petroleira BP, a oferta mundial de petróleo estabilizou-se, passando de 81,6 mb/d para 83,6 mb/d, em função de uma demanda anual superior a 2 mb/d.

Sadad Al-Husseini conclui: “Quanto mais rápido nós entendermos que as extrações de petróleo não podem aumentar indefinidamente, mais rápido nós procuraremos por opções energéticas alternativas e sustentáveis, e evitaremos com isso que sejam cometidas loucuras trágicas como a ocupação do Iraque, além de outros equívocos similares”.

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