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A outra face do etanol

Por trás das pomposas comemorações do ano da França no Brasil, uma pequena sala do Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, deu espaço a discussões que expunham os principais problemas sociais dos dois países.

Fruto de uma parceria da Refinaria Filmes com a ONG francesa Autres Brésils, a Mostra Social em Movimentos trouxe ao Rio de Janeiro cinco filmes franceses e três brasileiros que abordam as experiências e soluções encontradas por ambos os países para seus problemas sociais.

Alguns filmes exibidos retratam problemas que as sociedades francesa e brasileira estão longe de resolver. É o caso do documentário brasileiro “Migrantes”, sobre o êxodo de nordestinos para São Paulo, em busca de empregos no corte de cana.

Dirigido pelo pesquisador da UFRJ, José Roberto Novaes, o film! e faz parte do projeto “Educação através das imagens”, que tem o objetivo de divulgar pesquisas acadêmicas por meio de documentários.

Após acompanhar por quase um ano a rotina dos cortadores de cana, o resultado é um triste bastidor do estímulo à monocultura e à produção de etanol no Brasil.

Um a um, os cortadores dão seus depoimentos e dissecam a realidade que há por trás do setor sucroalcooleiro no país. Mortes precoces, péssimas condições de trabalho e situação de quase escravidão são apenas alguns exemplos das vivências narradas.

São histórias como a de Marilza, que perdeu o marido de 32 anos repentinamente, em dia comum de trabalho, após sentir as cãibras que todos citam como normais. Segundo Novaes, o maior objetivo do filme foi um convite à reflexão sobre a produção de etanol: — Vemos apenas as vantagens econômicas, mas há uma outra ótica.

A extremidade das péssimas condições de trabalho é a morte, mas os trabalhadores precisam cortar cerca de dez toneladas de cana por dia para receber só R$ 2,70 por tonelada. Muitos já chegam endividados.

O filme “Migrantes” foi exibido no mesmo dia do também documentário francês “A travessia”, que aborda um grande problema na sociedade francesa: a relação com os imigrantes. Ambos os filmes retratam as dificuldades vividas por quem sai de seu local de origem em busca de uma vida melhor.

Dirigido por Elisabeth Leuvrey, “A travessia” não trata tanto do desgaste físico (como acontece com os cortadores de cana), mas sim de um dilema existencial, já que os imigrantes argelinos, personagens do filme, não encontram seu lugar na França.

Os filmes não estão previstos em nenhum outro festival brasileiro, mas para outras exibições pode-se buscar Tatiana Milanez, da ONG Autres Brésils, pelo e-mail: tatiana@utresbresils.net

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