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A opção francesa pelo biocombustível

O ministro das Finanças, Thierry Breton, garantiu a promoção do biocombustível com toda a pompa: de um lado, fez o anúncio às vésperas do Salão Internacional do Automóvel de Paris. De outro, a decisão foi tomada com base num relatório de Alain Prost, o último grande campeão francês de Fórmula 1. Em resumo, ele faz com que a causa do biocombustível seja defendida pela corrida automobilística, ou seja, por um setor que por muito tempo mostrou uma insensibilidade até agressiva com relação aos estragos ecológicos ligados ao combustível.

Uma mudança de mentalidade, portanto. E outras medidas devem se seguir. A partir de 2007, 500 bombas com combustível verde serão instaladas. Os veículos também sofrerão uma reviravolta. Uma brincadeira de criança, é o que se fala nas altas cúpulas. Não se pode esquecer que a PSA Peugeot Citroen já realiza 80% das suas vendas no Brasil com esse tipo de motor. O combustível será chamado de flex fuel ou E85, contendo 85% de biodiesel e 15% de combustível tradicional.

Permanece um ponto delicado, ou seja, a matéria-prima. O biocombustível francês vai consumir cereais e beterrabas. De acordo com as autoridades, não haverá dificuldades. O volume das exportações de trigo e açúcar já representa 70% das necessidades anuais da França para todos os carros particulares.

Os especialistas se divertem. Segundo seus cálculos, para alimentar os 36 milhões de veículos do parque automobilístico francês serão necessários 9.400% em superfície de trigo suplementar e 420% em superfície de beterrabas a mais. Tal metamorfose, para eles, é totalmente irracional.

Um esforço desse tipo poderia desequilibrar toda a agricultura francesa, ou melhor dizendo, levar a um ponto culminante os problemas que já atingem esse setor. Na verdade, o drama da agricultura francesa é ter apostado tudo na carta do produtivismo (massacrando a bela agricultura tradicional do país e também uma grande parte da paisagem francesa).

Opção apoiada inteiramente pelo lobby agrícola (e pelo presidente Jacques Chirac, o verdadeiro pai dessa evasão para o produtivismo). Se nos lançarmos na cultura intensiva de trigo e beterraba, esse produtivismo será desmedido. Além do mais, a produção em massa de biocombustível na França só pode ser concebida num âmbito fortemente protecionista (ora, o protecionismo agrícola francês, sustentado pelo mercado comum agrícola europeu já foi denunciado pelos países emergentes).

A opção pelo biocombustível poderá reduzir a poluição provocada pelos automóveis?

As respostas dos especialistas também são ambíguas. Com certeza, dizem alguns ecologistas, é fora de dúvida que o biocombustível emite menos gás com efeito estufa do que a gasolina comum (entre 2,5 a 3 vezes menos).

Em compensação, observam outros grupos de ecologistas, se é verdade que a utilização do biocombustível diminui as emissões de gases de efeito estufa, a produção desses gases poderá aumentar por causa da utilização de produtos fitossanitários e outros poluentes.

E então? Os dois lados utilizam o exemplo brasileiro para apoiar sua tese. Os que defendem comemoram o sucesso da alternativa brasileira. Os que são contrários de um lado minimizam esse sucesso (citando as perversões no setor agrícola) e de outro lado sublinham o fato de o Brasil ser um país imenso, que possui terras infinitas, enquanto que o território francês é de tal forma exíguo que mal se pode ver como poderá garantir as enormes produções de trigo e beterraba previstas para o plano bio.

Mas nada impede, o governo fez sua escolha (aprovada pela maioria dos franceses). De acordo com o programa, em 2010 a França deverá contar com 7% de biocombustíveis e essa porcentagem deverá atingir os 10% em 2010. Em outras palavras, bem acima da meta definida pela diretriz européia que estabelece apenas 5,75% de biocombustível para 2010.

Gilles Lapouge -30/09

Fonte: O Estado de S. Paulo

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