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A indústria apresenta sua lição de casa

A indústria brasileira não quer mais o papel de vilã. Vinte anos depois da Eco-92, o empresariado chega à Rio+20 com um balanço das principais mudanças rumo à sustentabilidade feitas em 16 setores que somam 90% do PIB.

O levantamento será apresentado no dia 14 em um evento pré-conferência promovido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).

“A indústria fez muito nesses 20 anos, mas não havia sistematizado”, diz Monica Messenberg, diretora de relações institucionais da CNI.

Mudar a cultura e as formas de produção não são coisas que se façam do dia para a noite, explica ela.

“Desde a Eco-92, a indústria levou uma década para começar as mudanças. Por isso, não dá para adiar mais. Temos de começar agora, sair do discurso romântico e trabalhar a questão racional de que uma economia sustentável é viável. E fazer com que esse movimento não seja só um nicho, mas a base.”

O documento é dividido em 16 fascículos setoriais e lista experiências de êxito. No texto, ao qual a Folha teve acesso, estão entre os destaques os setores de papel e celulose, sucroenergético e até alguns que historicamente lideram ranking de poluidores, como o automotivo e de mineração.

“Há empresas que advogam ser verdes e não o são. Por isso, estamos destacando aquelas que efetivamente estão avançando.”

NOVA REVOLUÇÃO

“A palavra-chave é inovação. Vivemos uma nova revolução industrial que tem na sustentabilidade um dos motores”, diz a diretora da CNI.

Os dados da indústria de papel e celulose, por exemplo, mostram que 100% da madeira usada hoje no seu processo de produção sai de florestas plantadas. “É um setor que está na vanguarda, assim como o sucroenergético”, afirma Messenberg.

Tecnologias desenvolvidas a partir da década de 1980 aumentaram em 83% a produtividade por hectare de eucalipto plantado e em 100%, nas florestas de pinus.

O relatório da CNI ressalta ainda que o Brasil é campeão mundial na reciclagem de alumínio há dez anos, com um índice de 97,6% de reaproveitamento das embalagens de bebidas em lata.

Já a indústria sucroalcooleira tem mais a levar à Rio+20 do que o etanol, vedete verde-amarelo entre produtos verdes “made in” Brasil.

O relatório setorial bate bumbo para o fato de as usinas de açúcar e etanol serem hoje autossuficientes em energia. Elas usam o bagaço da cana como fonte de energia e também como adubo.

O aproveitamento de resíduos é um trunfo também na mineração, que sempre esteve na berlinda pelas crateras plantadas no solo país afora.

Segundo a bióloga Cláudia Salles, gerente de assuntos ambientais do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), a reutilização da água no processamento e na extração do minério de ferro no Brasil chega agora a 90%.

“A indústria de mineração é protagonista no desenvolvimento sustentável ao promover o uso eficiente e racional de recursos naturais”, diz a gerente do Ibram.

As mineradoras também avançaram no reaproveitamento de resíduos sólidos. “Rejeito deixou de ser rejeito e virou minério”, diz Salles.

O “milagre” se explica pela inovação e pelo próprio mercado. Além de novas tecnologias na exploração, passou a existir demanda para minérios de baixa qualidade, antes considerados restos.

CARRO DO FUTURO

O setor automotivo nacional vai mostrar na conferência que os veículos leves fabricados hoje no Brasil emitem 28 vezes menos poluentes do que na década de 1980.

“Reduzimos impactos ambientais com ações diretas do fabricante e em toda a cadeia produtiva, mas estamos longe de um produto totalmente compatível com a sustentabilidade”, diz Henry Joseph Jr., presidente da Comissão de Energia e Meio Ambiente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

Segundo ele, as montadoras têm consciência de que sustentabilidade não é só filosofia e marketing. “É questão de sobrevivência.”

Joseph diz não ter dúvidas de que o carro do futuro terá motor elétrico. “Mas não temos ainda respostas satisfatórias de como a eletricidade será gerada e transportada.”

O engenheiro estima que o veículo híbrido (parte do motor elétrico e outra de combustão) será comercialmente viável em cinco anos.

A etapa seguinte seria o veículo “plug in”, ligado na tomada para carregar. O terceiro estágio é o carro com geração de eletricidade a bordo. “As outras etapas estão ligadas ao sucesso comercial da primeira”, conclui.

CADÊ O CARRO ELÉTRICO?

A Itaipu Binacional mostra na Rio+20 seu 4º protótipo de veículo elétrico: o Marruá, da Agrale. Foram criadas desde 2009 versões elétricas para Iveco Daily, Fiat Palio Weekend e um micro-ônibus, todas sem produção comercial.

SEIS POR MEIA-DÚZIA

Carros elétricos não são a panaceia para o fim da poluição mundial, segundo o físico José Goldemberg. “Se a energia for produzida por queima de carvão, do ponto de vista ambiental é trocar seis por meia-dúzia”, diz. Por mais que os motoristas não vejam a fumaça saindo do escapamento, ela estará sendo produzida na usina.

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