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A explosão do mercado de álcool

O MERCADO DO álcool combustível no Brasil vem atravessando um período de mudanças significativas, devido principalmente a dois fatores: a introdução dos veículos do tipo “flexfuel” e as perspectivas de exportação desse combustível renovável.

Com a inovação dos veículos “flexfuel”, resolveu-se a principal barreira para a retomada do uso automotivo de álcool hidratado: a garantia de abastecimento para o consumidor. Ao permitir que o proprietário migre para a gasolina -em casos de desabastecimentos no mercado de álcool hidratado ou de redução do preço do derivado- e vice-versa, o veículo “flex” harmonizou novamente os interesses dos usuários, dos usineiros e das montadoras, garantindo abastecimento de combustível ao consumidor, flexibilidade de mercado ao setor sucroalcooleiro e estabilidade produtiva à indústria automobilística.

No que tange às exportações, dois fatos têm influenciado o mercado internacional de álcool: os altos preços do petróleo e as questões ambientais. Os maiores consumidores de derivados de petróleo, em razão da alta dos preços, têm buscado opções de abastecimento com outros combustíveis, notadamente os renováveis.

Já as questões ambientais passaram a se sobrepor às econômicas, em razão da necessidade de redução das emissões de gases de efeito estufa de modo a frear o processo de aquecimento global. Relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) divulgado no início de 2007 reforçou as análises anteriores sobre a relação das atividades humanas com a aceleração do aquecimento global. Conseqüentemente, Estados Unidos e UE (União Européia) vêm se empenhando na substituição de uma parcela dos combustíveis derivados de petróleo, principalmente do diesel e da gasolina, no setor de transporte.

No início de 2007, o presidente George W. Bush anunciou que os Estados Unidos deverão substituir 20% de sua gasolina por etanol nos próximos dez anos. Para ter idéia do arrojo dessa meta, 20% do mercado de gasolina correspondem a 140 bilhões de litros, os quais representam uma demanda quase três vezes superior à produção total de álcool do mundo, de cerca de 50 bilhões de litros.

Recentemente, o Conselho Europeu assumiu o compromisso de alcançar até 2020 uma redução de pelo menos 20% das emissões de gases de efeito estufa em relação a 1990. Duas metas foram estabelecidas: o alcance de 20% de participação com energias renováveis em relação ao consumo total de energia na União Européia e de 10% de participação com biocombustíveis do consumo de gasolina e diesel para transportes na União Européia, representando um volume de aproximadamente 13 bilhões de litros de álcool.

Outro mercado importante é o do Japão, que vem sinalizando intenção de adicionar até 10% de etanol na gasolina, equivalente a uma demanda de cerca de 6 bilhões de litros por ano do combustível renovável.

Caso todas essas metas sejam alcançadas, a demanda por biocombustíveis aumentaria para cerca de 160 bilhões de litros nos próximos 13 anos, sem considerar o crescimento do consumo de combustíveis em cada mercado.

Como o aumento da demanda por biocombustíveis decorre principalmente de preocupações ambientais, pode-se imaginar que as barreiras de cunho técnico ou mercadológico podem ser derrubadas por decisões políticas. É aí que o Brasil pode encontrar sua janela de oportunidade, exportando combustível, conhecimento e bens de capital para um novo mercado energético mundial, que se constitui em países em desenvolvimento. Assim como o petróleo alterou o perfil econômico e geopolítico do Oriente Médio, as ações para enfrentar as mudanças climáticas também podem exercer um papel significativo de inserção da economia dos países periféricos na matriz energética global.

Desafios para os empreendedores brasileiros e para o governo são muitos, entre os quais o incremento da produção nacional com responsabilidade sócio-ambiental, a manutenção da competitividade mundial e a implantação de uma logística de grande escala para escoamento da produção até os portos. Mas é inequívoca a idéia de que o know-how brasileiro na produção e no desenvolvimento do mercado de etanol nos coloca em um nível acima de grandes potências energéticas mundiais.

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