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A Energia que queremos?

Recentemente, o conselheiro-chefe de ciência do governo britânico afirmou que o aquecimento global é uma ameaça mais séria do que o terrorismo. O integrante do governo britânico pode até ter exagerado em sua afirmação ou talvez nós é que temos subestimado esta ameaça. O fato é que a maioria de nós está consciente de que os invernos estão mais quentes e a primavera e o verão estão chegando mais cedo. No Ártico, esta percepção é ainda maior, pois no verão, torrentes de água de degelo escorrem das geleiras da Groelândia. De certo, a previsão é de que a completa dissolução dessas geleiras levará tempo, mas quando ocorrer, os mares terão subido sete metros: o bastante para tornar inabitáveis todas as cidades baixas costeiras do mundo, incluindo Londres, Veneza, Calcutá, Nova York e Tóquio. Ainda, climatologistas afirmam que um aumento de 4ºC na temperatura seria o suficiente para eliminar as florestas da Amazônia.

Cientistas que trabalham no Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) relataram em 2001 que a temperatura global subirá entre 2ºC e 6ºC até o ano 2100. Esta previsão torna-se perceptível com o calor excessivo do último verão e a tardia entrada do inverno. A chance de que seja apenas um desvio da norma é de 1 em 300 mil.

A pergunta que nos resta é o que devemos fazer? Ou melhor, que tipo de desenvolvimento queremos e o que estamos dispostos a abdicar em detrimento da preservação/manutenção do planeta para as gerações futuras? Podemos continuar a gozar um século 21 mais quente, enquanto ele durar e apostar em tentativas como o Protocolo de Kyoto ou adotar medidas mais restritivas de desenvolvimento, abdicando de comodidades que estamos tão fortemente habituados.

No século 18, quando apenas 1 bilhão de pessoas vivia na Terra, seu impacto era pequeno o bastante para que não importasse que fonte de energia usavam. Mas, com mais 6 bilhões de pessoas no mundo na atualidade, a situação muda radicalmente. Alguns cientistas afirmam que não podemos continuar a extrair energia de combustíveis fósseis, e não há chance de que as fontes renováveis – vento, marés e hidrelétricas – possam prover a energia necessária em tempo hábil.

Neste sentido, James Lovelock, cientista e criador da hipótese Gaia, segundo a qual a Terra é um organismo auto-regulado, defende que a única fonte imediatamente disponível e incapaz de causar ou de retardar o aquecimento global seria a energia nuclear.

É verdade que queimar gás natural em lugar de carvão ou petróleo emite a metade de gás carbônico (CO2), mas o gás não-queimado é um gás-estufa 25 vezes mais potente do que CO2. Assim, um pequeno vazamento já neutralizaria a vantagem do gás natural. Do mesmo modo, a utilização de energia nuclear evitaria a emissão de gases de efeito estufa, no entanto um único incidente provocaria danos irreparáveis e de grandes proporções, como no caso de Chernobyl. Além do mais, existe a problemática do alto custo envolvido e da disposição do lixo atômico.

No Brasil, diante de tantas outras fontes de energia que temos disponível, esta questão, a princípio, não deveria ser uma discussão essencial a sobrevivência e manutenção do modo de produção e consumo que o planeta adota. No entanto, em países como o Japão, essa tarefa passa a ser muito mais complexa.

Ocorre que, recentemente temos acompanhado o debate sobre a retomada do Programa Nuclear Brasileiro. Desfavoráveis à retomada, encontram-se os Ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia, que também contam com o apoio do ministro da Integração Nacional. Favoráveis ao programa estão o ministro de Ciências e Tecnologia, militares, parte do funcionalismo público do setor e o ministro-chefe da Casa Civil.

Tal discussão tomou proporções maiores com a disputa pelo gás natural na Bolívia e o conseqüente plano de contingência do consumo de gás natural no Brasil iniciado nas refinarias da Petrobrás e nas usinas termelétricas do País. Assim, aqueles que são favoráveis argumentam em defesa do programa nuclear brasileiro, com a construção da usina Angra 3, alegando uma alternativa para diminuir a dependência da importação de petróleo e do gás natural. Aqueles que são contra apegam-se a desnecessidade de adoção e emprego da energia nuclear no Brasil em detrimento dos recursos hídricos que dispomos e de todas as demais fontes possíveis de energia que temos condições de adotar.

O que parecia ser uma discussão de países europeus e asiáticos, tornou uma discussão do governo brasileiro e nos resta, então, optarmos por que tipo de desenvolvimento queremos e que tipo de energia será a motriz deste desenvolvimento.

Renata Franco de Paula Gonçalves – Especialista da Área de Direito Ambiental do Emerenciano, Baggio e Associados – Advogados

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