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A corrida mundial em busca de energia renovável

Se tentarmos prever como será a matriz energética mundial em 20 anos, o melhor palpite é que será um mosaico. O mundo está passando por uma transição entre o uso majoritário de combustíveis fósseis e a era dos renováveis.

Segundo o relatório deste ano do REN21 (sigla em inglês para Rede de Política Energética para o Século 21), as fontes de energias renováveis já chegam a um quarto da capacidade global de produção de energia.

Os investimentos nessa área aumentaram em 50% de 2007 a 2009, e o relatório cita como notáveis investidores na área o BNDES e o Banco de Investimento Europeu. O número de empregos diretos na indústria de renováveis em 2009 foi de 3 milhões, sendo que metade deles está relacionada com a indústria de biocombustíveis, especialmente no Brasil, com o etanol de cana, e nos Estados Unidos, com o etanol de milho.

Ou seja, produzir energia renovável não é só uma tendência, mas uma realidade mundial a ser considerada nas estratégias de qualquer país. O que se entende por energias renováveis são a da água (hidráulica), do sol, dos ventos e dos biocombustíveis (etanol e biodiesel), principalmente.

No ranking dos cinco países que mais usaram essas fontes em 2009, a China liderou no uso de eólica, para eletricidade, e solar, para aquecimento de água. A Alemanha lidera na eletricidade solar (fotovoltaica) e os EUA no etanol, seguidos de perto pelo Brasil.

Parece não haver propriamente uma competição entre os países para a produção de energia, pois cada um terá primeiro de dar conta de seu próprio consumo.

Mesmo com a crise econômica que atingiu seriamente os EUA e a Europa, o mundo não para de desenvolver políticas de estímulo ao crescimento. O destaque é para os países dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), no qual a China lidera claramente em taxas de crescimento econômico e deverá apresentar uma demanda energética astronômica.

Diante de tanta demanda por energias renováveis, o sistema emperra no conhecimento técnico necessário para produzi-las. É aí que entram a ciência e a tecnologia, cujas velocidades de produção são proporcionalmente menores do que o potencial de formação de novas empresas.

Não adianta produzir conhecimento se não for para aplicá-lo, e é nesse ponto que o Brasil corre sério risco de ficar para trás em relação a outros países, especialmente a China. Enquanto lá é possível abrir uma empresa em poucos dias, aqui temos de amargar meses.

Outra diferença, não necessariamente positiva do ponto de vista social, são encargos trabalhistas, que na China e nos EUA ou não existem ou são bem mais baixos. Com isso, um empreendedor do futuro, se puder escolher onde montar sua empresa, preferirá China ou EUA ao Brasil.

Essa fórmula de alinhar políticas públicas com a produção de conhecimento, desenvolvimento tecnológico e dinâmica empresarial deve ser cuidadosamente desenhada pelo governo. E deveria ser, sem dúvida, um dos pontos principais das políticas públicas do próximo presidente.

O tripé saúde, segurança e educação é inquestionavelmente importante, mas não se sustenta no longo prazo se não houver energia para produzir a comida que alimenta os médicos, policiais e professores incumbidos dessas tarefas.

* Marcos Bruckeridge é É PROFESSOR DA USP E DIRETOR CIENTÍFICO DO LABORATÓRIO NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO BIOETANOL (CTBE)

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