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A cana invade o espaço dos laranjais

Quando dna. Celide Davoglio chegou para morar na propriedade da família do marido em Taquaritinga, os laranjais já estavam lá. Na propriedade onde ela vive há 53 anos, as laranjas sempre determinaram o ritmo da vida: o cuidado com a florada, a sucessão de diferentes variedades conforme a época do ano e a organização dos funcionários para a colheita eram “capítulos” certos no dia a dia da família. Nos últimos anos, porém, a rotina da propriedade da família Davoglio vem sendo drasticamente alterada: a cada ano que passa, a cana-de-açúcar invade um pouco mais o espaço que era da laranja.

Só neste ano, conta Nivaldo Evaristo Davoglio, de 73 anos, mais 20% dos laranjais serão arrancados, queimados e substituídos pela cana-de-açúcar. Na safra precoce deste ano, o prejuízo da família com a laranja que caiu do pé sem comprador foi de aproximadamente R$ 10 milhões. Quase toda a produção dos pomares da propriedade – ou “pomals”, na pronúncia do agricultor descendente de italianos – sequer foi colhida. As laranjas caíram sob as árvores e apodreceram. O prejuízo é agravado pelo perfil pouco competitivo de custos da região, que abriga pomares geralmente plantados há mais de uma década.

Davoglio desconversa sobre o que está fazendo para contornar o prejuízo, mas admite que está “tirando da cana para pagar a laranja”. No entanto, na região de Bebedouro e Taquaritinga, dois antigos polos citricultores, o custo para produzir uma caixa de laranja pode passar de R$ 13 por caixa de 40 kg – mais do que o dobro de outras regiões de São Paulo e do Paraná. É a culpa dos pomares antigos, plantados com espaço entre as árvores considerado pouco produtivo para os padrões mais recentes. Retirar as árvores é sempre um dilema, contam especialistas em agricultura, já que a laranja é uma cultura perene que exige um alto desembolso inicial. Com o manejo correto, um pomar pode ter uma produção satisfatória por 18 anos após o plantio.

Saída. Diante dos preços atuais da laranja – hoje, a indústria paga cerca de R$ 6 pela caixa, valor que sobe para R$ 10 com um subsídio recentemente aprovado pelo governo federal -, Davoglio e outros agricultores de Taquaritinga estão sendo obrigados a arrancar um número cada vez maior de laranjais. O agricultor é favorável à definição de uma estratégia para incentivar o consumo doméstico de suco da fruta. “Será que sai este ano?”, perguntou Davoglio ao presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga, Marco Antonio dos Santos. Diante da resposta negativa, deu um suspiro: “O jeito vai ser plantar mais cana”.

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